29 de maio de 2016

Interpretação de artigo de opinião para ensino médio O que devemos aos jovens- Lya Luft - Progressão tópica


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**Gabarito no final**

O que devemos aos jovens

Fiquei surpresa quando uma entrevistadora disse que em meus textos falo dos jovens como arrogantes e mal-educados. Sinto muito: essa, mais uma vez, não sou eu. Lido com palavras a vida toda, foram uma de minhas primeiras paixões e ainda me seduzem pelo misto de comunicação e confusão que causam, como nesse caso, e por sua beleza, riqueza e ambiguidade. 
Escrevo repetidamente sobre juventude e infância, família e educação, cuidado e negligência. Sobre nossa falha quanto à autoridade amorosa, interesse e atenção. Tenho refletido muito sobre quanto deve ser difícil para a juventude esta época em que nós, adultos e velhos, damos aos jovens tantos maus exemplos, correndo desvairadamente atrás de mitos bobos, desperdiçando nosso tempo com coisas desimportantes, negligenciando a família, exagerando nos compromissos, sempre caindo de cansaço e sem vontade ou paciência de escutar ou de falar.
[...] Tenho muita empatia com a juventude, exposta a tanto descalabro, cuidada muitas vezes por pais sem informação, força nem vontade de exercer a mais básica autoridade, sem a qual a família se desintegra e os jovens são abandonados à própria sorte num mundo nem sempre bondoso e acolhedor. Quem são, quem podem ser, os ídolos desses jovens, e que possibilidades lhes oferecemos? Então, refugiam-se na tribo, com atitudes tribais: o piercing, a tatuagem, a dança ao som de música tribal, na qual se sobrepõe a batida dos tantãs. Negativa? Censurável? Necessária para muitos, a tribo é onde se sentem acolhidos, abrigados, aceitos. Escola e família ou se declaram incapazes, ou estão assustadas, ou não se interessam mais como deveriam. Autoridades, homens públicos, supostos líderes, muitos deles a gente nem receberia em casa. O que resta? A solidão, a coragem, a audácia, o fervor, tirados do próprio desejo de sobrevivência e do otimismo que sobrar. Quero deixar claro que nem todos estão paralisados, pois muitas famílias saudáveis criam em casa um ambiente de confiança e afeto, de alegria. Muitas escolas conseguem impor a disciplina essencial para que qualquer organização ou procedimento funcione, e nem todos os políticos e governantes são corruptos. Mas quero também declarar que aqueles que o são já bastam para tirar o fervor e matar o otimismo de qualquer um. 
Assim, não acho que todos os jovens sejam arrogantes, todas as crianças mal-educadas, todas as famílias disfuncionais. 
Um pouco da doce onipotência da juventude faz parte, pois os jovens precisam romper laços, transformar vínculos (não cuspir em cima deles) para se tornar adultos lançados a uma vida muito difícil, na qual reinam a competitividade, os modelos negativos, os problemas de mercado de trabalho, as universidades decadentes e uma sensação de bandalheira geral. 
Tenho sete netos e netas. A idade deles vai de 6 a 21 anos. Todos são motivo de alegria e esperança, todos compensam, com seu jeito particular de ser, qualquer dedicação, esforço, parceria e amor da família. Não tenho nenhuma visão negativa da juventude, muito menos da infância. Acho, sim, que nós, os adultos, somos seus grandes devedores, pelo mundo que lhes estamos legando. Então, quando falo em dificuldades ou mazelas da juventude, é de nós que estou, melancolicamente, falando. 

LUFT, Lya. Veja, p. 26, 16 dez. 2009. (Fragmento).


QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. O artigo de opinião é um texto argumentativo em que o articulista procura persuadir o leitor de um determinado ponto de vista. 

a) O que poderia ter causado a interpretação equivocada, mencionada pela autora na introdução? 
b) Qual é o ponto de vista da autora defendido nesse texto? 

2. Do segundo ao quinto parágrafo, encontra-se o desenvolvimento dos argumentos, em que a autora usa a progressão tópica. 

a) No segundo parágrafo, por que a autora diz que os adultos estão "atrás de mitos bobos"? 
b) No terceiro parágrafo, a articulista empregou perguntas como recurso argumentativo para desenvolver suas opiniões. Explique de que forma essas perguntas levam o leitor a compreender que o comportamento dos adultos está equivocado. 

3. A paragrafação pode determinar a sequência do conteúdo, mantendo a continuidade das ideias e a coerência do discurso. Como a autora mantém a progressão tópica entre o segundo e o terceiro parágrafos, dando coerência às ideias? 

4. Com o objetivo de esclarecer melhor seu ponto de vista sobre o assunto, a autora desenvolveu comparações e explicações no quarto parágrafo. 

a) Que imagem ela nos passa dos adultos em geral? 
b) De que modo ela parece expressar sua solidariedade aos jovens no quinto parágrafo? 

5. Na progressão tópica, pode haver continuidade ou descontinuidade na sequência do discurso. Nesse caso, o quarto e o quinto parágrafos do texto apresentam tópicos contínuos ou não? Justifique sua resposta. 


6. Na conclusão, a autora retoma à ideia inicial e confirma o ponto de vista defendido no desenvolvimento. Como ela reforça a opinião de que os adultos estão em dívida com os jovens? 

7. Como já vimos em outros textos argumentativos, para conferir maior impressão de objetividade à exposição de ideias, é comum o emprego da 3ª pessoa do singular. 

a) Nesse artigo, em que pessoa foi construído o texto? Por quê? Transcreva alguns exemplos. 
b) Além da linguagem subjetiva, observa-se no artigo algum trecho que revele emoção? Esclareça sua resposta. 
c) Outros traços de subjetividade existentes no texto são o uso de adjetivos com alta carga opinativa e a tentativa da autora de dialogar de igual para igual com o leitor. Cite alguns exemplos. 
d) As marcas de subjetividade que aparecem no texto comprometeram de alguma forma a consistência da argumentação apresentada pela autora? Por quê? 

A progressão textual: progressão tópica 
O texto argumentativo pode ser desenvolvido por meio de um recurso de textualização conhecido por progressão textual.
Um importante recurso da progressão textual é a progressão tópica, pois, na exposição de nossas ideias, sempre nos apoiamos em um tema ou tópico discursivo para desenvolver o texto. A progressão tópica, portanto, diz respeito à manutenção e ao desenvolvimento dos assuntos ou tópicos discursivos tratados ao longo do texto.
Observe, no artigo acima, como Lya Luft desenvolve a argumentação, distribuindo o conteúdo de cada parágrafo em subtópicos que introduzem informações e argumentos novos. A continuidade do texto se estabelece pela chamada progressão tópica ou sequenciamento tópico.

> Concluindo: Progressão tópica é o recurso de textualização responsável pela manutenção e pelo desenvolvimento dos assuntos ou tópicos discursivos tratados ao longo do texto.