2 de junho de 2016

Exercício sobre Regionalismo | Variedade Linguística Interpretação de poema: O poeta da roça

Analise o poema do cearense Antônio Gonçalves da Silva (1909- 2002), mais conhecido como Patativa do Assaré, em virtude da musicalidade de sua poesia. Seus versos retratam bem a realidade do sertão nordestino. 

Leia um de seus textos mais conhecidos e observe a variedade linguística empregada nele.

O poeta da roça

Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola. à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, 
E o fio do pobre não pode estudá. 

Meu verso rastêro, singelo e sem graça, 
Não entra na praça, no rico salão, 
Meu verso só entra no campo e na roça 
Nas pobre paioça, da serra ao sertão. 

Só canto o buliço da vida apertada, 
Da lida pesada, das roça e dos eito. 
E às vez, recordando a feliz mocidade, 
Canto uma sodade que mora em meu peito. 

Eu canto o cabôco com suas caçada, 
Nas noite assombrada que tudo apavora, 
Por dentro da mata, com tanta corage 
Topando as visage chamada caipora. 

Eu canto o vaquêro vestido de côro, 
Brigando com o tôro no mato fechado, 
Que pega na ponta do brabo novio, 
Ganhando lugio do dono do gado. 

Eu canto o mendigo de sujo farrapo, 
Coberto de trapo e mochila na mão, 
Que chora pedindo o socorro dos horne, 
E tomba de fome, sem casa e sem pão. 

E assim, sem cobiça dos cofre luzente, 
Eu vivo contente e feliz com a sorte, 
Morando no campo, sem vê a cidade, 
Cantando as verdade das coisa do Norte. 

ASSARÉ, Patativa do. Disponível em: <http://www.blocosonline.com.br/literaturalpoesialp01/p010392.htm>. 
Acesso em: 15 jul. 2013.


1) Nesse poema, há o emprego de uma variante linguística própria de certas regiões nordestinas. Explique como o eu lírico, a voz que "fala" no poema, se apresenta para o leitor. 

2) Por que o eu lírico não quer que o chamem de "menestrel"? 

3) Ao falar da produção dos versos, o eu lírico se mostra conhecedor de seus limites. 
> Por que ele caracteriza seu verso como "rastêro, singelo e sem graça"? 

4) A partir da quinta estrofe, o eu lírico revela fatos que o inspiram na composição de seus versos. Que fatos são esses? 

5) Na penúltima estrofe, a quem o eu lírico se refere quando diz que o mendigo "chora pedindo o socorro dos home"? 

6) Explique o significado deste verso: "E assim, sem cobiça dos cofre luzente". 

7) No poema em questão, a concordância de plural não ocorre em várias construções. Identifique no texto algumas delas. 


GABARITO

1) Como uma pessoa humilde, que mora num casebre, longe da cidade, e enfrenta trabalho pesado no campo, sem descanso. 

2) Segundo ele, o menestrel canta, toca viola, viaja por vários locais, levando sua música, e deseja encontrar a pessoa amada. O eu lirico, por sua vez, se sente apenas um cantor do mato. 

3) Porque o poema apresenta versos simples, que seguem a mesma métrica e fazem pouco uso de figuras de linguagem. Não há um vocabulário rebuscado, o que facilita a compreensão geral do texto. 

4) O eu lírico relata o trabalho difícil no campo, as lembranças do passado, a valentia do caboclo, a lida diária do vaqueiro e a pobreza do mendigo. Como diz no último verso, ele canta "as verdade[s] das coisa[s] do Norte". 

5) Ele se refere aos governos e às autoridades responsáveis pelas condições básicas de sobrevivência dos cidadãos. 

6) Ele confessa que não tem ambição de ganhar muito dinheiro e enriquecer, pois vive satisfeito como cantor nordestino, revelando a realidade de seu povo. 

7) "Sou poeta das brenha", "Nas pobre paioça", "Nas noite assombrada", etc.