4 de julho de 2016

Exercícios sobre Modernismo no Brasil (1ª fase)

(Fuvest-SP) Texto para as questões de 1 a 3. 



** Gabarito no final **

Murilo 

São 23 horas e estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de após-gripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. (...) 
Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos "propositais". Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar do "nariz furão", de "comichona", etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha.(...) De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando "lar fechadinho", em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso do coral. 

ANDRADE. Mário de. Cartas a Murilo Miranda

"...estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno." 

1. No trecho acima, o termo grifado indica que o autor da carta pretende: 

a) revelar a acentuada sinceridade com que se dirige ao leitor. 
b) descrever o lugar onde é obrigado a ficar em razão da doença. 
c) demarcar o tempo em que permanece impossibilitado de sair. 
d) usar a doença como pretexto para sua voluntária inatividade. 
e) enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa.

2. No texto, as palavras "sinusitezinha" e "trabalhandinho" exprimem, respectivamente:

a) delicadeza e raiva.
b) modéstia e desgosto.
c) carinho e desdém.
d) irritação e atenuação.
e) euforia e ternura.

3. No trecho "... o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente"; apresenta-se um jogo de ideias contrárias, que também ocorre em: 

a) "dores e tratamento atrozes". 
b) "reservas a palavras do poema': 
c) "insatisfação no prazer estético". 
d) "a coisa muito bem-feitinha" 
e) "o carinhoso do diminutivo". 


4. (ITA-SP) Leia o poema abaixo, "O anel de vidro", de Manuel Bandeira. 

Aquele pequenino anel que tu me deste, 
Ai de mim - era vidro e logo se quebrou. 
Assim também o eterno amor que prometeste, 
Eterno! era bem pouco e cedo se acabou. 

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste, 
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou - 
Aquele pequenino anel que tu me deste, 
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou... 

Não me turbou, porém, o despeito que investe 
Gritando maldições contra aquilo que amou. 
De ti conservo na alma a saudade celeste... 
Como também guardei o pó que me ficou 
Daquele pequenino anel que tu me deste... 

Nesse texto: 
a) percebemos uma ironia típica dos modernistas ao desqualificar o amor romântico. 
b) existe uma revisão crítica da poesia de temática amorosa vinda do Romantismo. 
c) a temática amorosa (o fim do amor) é tratada com frieza e distanciamento. 
d) há lirismo sentimental, presente em boa medida pela retomada da quadrinha popular "O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou (...)". 
e) encontra-se um poema tipicamente romântico por retomar a conhecida quadrinha popular "O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou (...)". 

(ITA-SP) As questões 5 e 6 referem-se ao poema de Manuel Bandeira a seguir. 

Profundamente 

Quando ontem adormeci 
Na noite de São João 
Havia alegria e rumor 
Estrondos de bombas luzes de Bengala 
Vozes cantigas e risos 
Ao pé das fogueiras acesas. 

No meio da noite despertei 
Não ouvi mais vozes nem risos 
Apenas balões 
Passavam errantes 
Silenciosamente 
Apenas de vez em quando 
O ruído de um bonde 
Cortava o silêncio 
Como um túnel. 
Onde estavam todos os que há pouco 
Dançavam 
Cantavam 
E riam 
Ao pé das fogueiras acesas? 
- Estavam todos dormindo 
Estavam todos deitados 
Dormindo 
Profundamente 

Quando eu tinha seis anos 
Não pude ver o fim da festa de São João 
Porque adormeci 

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo 
Minha avó 
Meu avô
Totônio Rodrigues 
Tomásia 
Rosa 

Onde estão todos eles? 
- Estão todos dormindo 
Estão todos deitados 
Dormindo 
Profundamente. 

5. Apesar de ser um poema modernista, esse texto de Bandeira apresenta alguns traços herdados do Romantismo. Sobre tais traços, considere as Seguintes afirmações: 

I. O poema é marcadamente autobiográfico, já que apresenta referências à família do escritor. 
II. No poema, há a rememoração um tanto saudosista .da infância do poeta, vista como um período de grande felicidade. 
III. No poema, há a presença de elementos da cultura popular - festa de São João -, que são valorizados no texto. 

Está(ão) correta(s): 
a) apenas I 
b) I e II 
c) I e III 
d) apenas III 
e) todas 


6. Esse poema, contudo, não é propriamente romântico, não só porque o autor não pertence historicamente ao Romantismo, mas, sobretudo, porque: 

a) o poema faz uma menção ao universo urbano ("o ruí-o de um bonde"), o que o afasta da preferência dos românticos pela natureza. 
b) as pessoas de que o poeta se lembra estão mortas ("Dormindo / Profundamente"). 
c) não há no poema o chamado "escapisrno" romântico, nem a idealização do passado, mas sim a consciência de que este não volta mais. 
d) o poema não possui nenhum traço emotivo explícito, o que o afasta da poesia romântica, que é marcadamente emotiva e sentimental. 
e) não há, no poema de Bandeira, a presença do amor, que é um tema recorrente na poesia romântica.

7. (Unifal-MG) 

O homem e a morte 

(...) 
O homem já estava acamado 
Dentro da noite sem cor. 
Ia adormecendo, e nisto 
À porta um golpe soou. 
(...) 
- Quem bate? ele perguntou. 
- Sou eu, alguém lhe respondeu. 
- Eu quem? torna. - A Morte sou. 
(...) 
Mas a porta, manso, manso, 
Se foi abrindo e deixou 
Ver - uma mulher ou anjo? 
Figura toda banhada 
De suave luz interior. 
(...) 
- Tu és a Morte? pergunta. 
E o Anjo torna: - A Morte sou! 
Venho trazer-te descanso 
Do viver que te humilhou. 
- Imaginava-te feia, 
Pensava em ti com terror. .. 
És mesmo a Morte? ele insiste. 
- Sim, torna o Anjo, a Morte sou, 
Mestra que jamais engana, 
A tua amiga melhor. 
(...) 

BANDEIRA, Manuel. Melhores poemas de Manuel Bandeira. 

O trecho acima foi extraído do poema "O homem e a morte" que, segundo as concepções de gêneros e subgêneros literários: 

a) é uma ode, forma poética medieval que incorpora a questão lírica ao gênero narrativo e remete a temas ligados à vida heroica. 
b) remete ao romance burguês, subgênero narrativo em que o herói se encontra sempre em tensão com a sociedade, que mostra as deficiências da burguesia como sistema social e econômico.
c) atualiza o romance, forma literária medieval, em que a oralidade e a dramatização compõem uma poesia de caráter narrativo. 
d) é uma elegia, uma vez que apresenta um canto fúnebre em tom melancólico e lamentoso, que se aproxima do gênero didático-moralista. 


(UEMG) Leia o poema de Manuel Bandeira a seguir, para responder às questões 8 e 9. 

Trem de ferro 

Desencanto 
Eu faço versos como quem chora 
De desalento ... de desencanto... 
Fecha o meu livro, se por agora 
Não tens motivo nenhum de pranto. 

Meu verso é sangue. Volúpia ardente... 
Tristeza esparsa... remorso vão... 
Doi-me nas veias. Amargo e quente, 
Cai, gota a gota, do coração. 

E nestes versos de angústia rouca 
Assim dos lábios a vida corre, 
Deixando um acre sabor na boca. 
- Eu faço versos como quem morre. 

8. Analisando forma e conteúdo deste poema, só NÃO É CORRETO afirmar que:

a) o tom confessional do eu lírico predomina em todo o texto. 
b) o sujeito poético estabelece uma interlocução com um possível leitor. 
c) o recurso da sinestesia é um dos componentes de linguagem deste poema. 
d) a utilização das reticências sinaliza uma postura irônica do eu lírico diante da vida. 

9. Sobre marcas de estilos ou tendências literárias que se apresentam nesse poema, só é pertinente o comentário da alternativa: 

a) Embora modernista, o texto evoca, sob a forma de um soneto, a temática amorosa idealizante, predominante no Parnasianismo. 
b) O texto de Bandeira reúne algumas tendências de conteúdo romântico, trazendo, também, traços modernistas, especialmente na dicção e na inovação formal do soneto. 
c) O poema é predominantemente marcado pelo jogo de contrários, muito próprio da tendência barroca. 
d) O recurso metalinguístico utilizado nos versos desse poema revela traços do Classicismo e do Realismo-Naturalismo.


10. (UEMG) Em todas as alternativas a seguir, foram citados versos que, na linguagem e no conteúdo, rompem com a tendência romântica da idealização amorosa, EXCETO em:

a) "Vou-me embora pra Pasárgada (...) / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei (...)" 
b) "(...) Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não:"
c) "A tarde agoniza / Ao santo acalanto / Da noturna brisa / E eu, que também morro / Morro sem consolo / Se não vens, Elisa! (...)" 
d) "Volúpia da água e da chama... 
A todo momento o vejo... 
Teu corpo... a única ilha 
No oceano do meu desejo..." 

11. (Ufac)

Café com pão 
Café com pão 
Café com pão 
Virge Maria que foi isto maquinista? 
(...)

BANDEIRA. Manuel. 

I. A significação do trecho provém da sugestão sonora. 
II. O poeta utiliza expressões da fala popular. 
III. A temática e a estrutura do poema contrariam o programa poético do Modernismo.

Marque as associações corretas. 

a) Se I e II forem corretas. 
b) Se I, II e III forem corretas. 
c) Se I, II e III forem incorretas. 
d) Se I for incorreta e II e III corretas. 
e) Se I e II forem incorretas e apenas a III correta.


12. (Ufac) A afirmativa incorreta deve ser assinalada: 

a) A primeira fase do nosso Modernismo caracterizou-se por um aspecto demolidor e combativo. 
b) O movimento modernista brasileiro tem a Semana de Arte Moderna como marco cronológico. 
c) A Semana de Arte Moderna aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo. 
d) Um dos objetivos do Modernismo brasileiro foi a formação da consciência criadora nacional. 
e) A literatura regionalista surgiu com o Modernismo. 

13. (Ufac) Leia a passagem da "Carta pras icamiabas" da obra Macunaíma de Mário de Andrade (cap. IX): 

Às mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas. 
Trinta de maio de Mil ,Novecentos e Vinte e Seis, 
São Paulo. 

Senhoras: 
Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura dessa missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar estas linhas de saudade muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo - a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes - não sois conhecidas por "icamiabas", voz espúria, sinão que pelo apelativo 
de Amazonas; e de vós, se afirma, cavalgardes ginetes belígeros e virdes da Hélida Clássica; e assim sois chamada. *

*Mantida a grafia do autor. 

Considerando-se esse excerto do romance de Mário de Andrade, Macunaíma - o herói sem nenhum caráter, pode-se afirmar que:

a) A linguagem utilizada no capítulo IX, em que consta a carta, é a mesma utilizada nos demais capítulos. 
b) A linguagem reverencia elementos linguísticos da fala portuguesa, característica referendada ideologicamente pelo movimento Modernista, do qual o autor é um dos representantes. 
c) A linguagem retoma aspectos discursivos e ideológicos da crônica de viagem Carta do Achamento, de Pero Vaz de Caminha. 
d) Inserida no interior do romance, a linguagem utilizada na "Carta pras icamiabas" reveste-se de intenções irônicas sobre o distanciamento entre a língua escrita e a língua falada. 
e) Inserida no interior do romance, a linguagem utilizada retoma aspectos estilísticos da estética barroca.


14. (Ufac) A variedade folclórica descrita em Macunaíma propõe o reconhecimento de um Brasil ainda em formação, por meio de um personagem que se tornará símbolo, em nossa literatura, de um processo do qual: 

a) induzirá a uma compreensão reduzida de nossas potencialidades continentais. 
b) nos diminuirá eternamente diante das nações que nos colonizaram. 
c) apenas reforçará a pobreza das nossas fontes culturais mestiças. 
d) nos mergulhará num campo de possibilidades impressionantes de composição étnica e cultural. 
e) reforçará todos os preconceitos que herdamos dos colonizadores.

(UFRRJ) Leia o texto a seguir e responda às questões 15 e 16. 

Máquina-de-escrever 

B D G Z, Remintom. 
Pra todas as cartas da gente. 
Eco mecânico. 
De sentimentos rápidos batidos. 
Pressa, muita pressa. 
Duma feita surrupiaram a máquina-de-escrever do meu 
                                                                              [mano. 
Isso também entra na poesia 
Porque ele não tinha dinheiro para comprar outra. 
(...)*

ANDRADE, Mário de. Poesias completas. 4 ed.

*Mantida a grafia do autor

15. Explique por que o conteúdo dos três últimos versos do poema exemplifica a proposta modernista de dessacralização da arte. 

16. Destaque o verso que possui palavras pertencentes ao registro coloquial e reescreva-o, substituindo essas palavras por outras pertencentes ao padrão culto da língua. 


(Ufes, adaptado) Leia o poema a seguir e responda às questões 17 e 18. 

Brasil 
O Zé Pereira chegou de cara vela 
E preguntou pro guarani da mata virgem 
- Sois cristão? 
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte 
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! 
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! 
O negro zonzo saído da fornalha 
Tomou a palavra e respondeu 
- Sim pela graça de Deus 
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! 
E fizeram o Carnaval 

ANDRADE, Oswald de. Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 1991. p. 41. 

17. O elemento do texto que apresenta a mesma função sintática do termo "zonzo" (v. 7) é: 

a) de caravela (v.1). 
b) pro guarani (v.2). 
c) da mata virgem (v.2). 
d) da fornalha (v.7). 
e) pela graça de Deus (v.9).

18. O poema de Oswald de Andrade encena a base da formação social brasileira, referindo-se ao carnaval como símbolo da miscigenação e marca da nacionalidade. Com base em tal proposição e no poema, é CORRETO afirmar que:

a) a construção da identidade nacional brasileira foi um projeto das elites coloniais para garantir a unidade do território, indicado pela caravela portuguesa, no primeiro verso, e pela rima em A/B/A/B. 
b) a miscigenação não teve importância ideológica, a partir do século XX, para a explicação da convivência harmônica do povo brasileiro, chamada de democracia racial, cantada no poema pelas onomatopeias do sexto verso. 
c) o verso sete aponta para o trabalho escravo, no qual se origina a inserção precária de grande parte da população negra na economia e na sociedade atuais. 
d) o desmatamento da Amazônia, ocorrido nos dias atuais, é denunciado no poema ao referir-se à mata virgem e aos guaranis, com o seu canto de morte retirado do poema indianista de Castro Alves. 
e) a extensão do território nacional foi fixada pelo carnaval, preconizado pela miscigenação e interpretado no poema como a razão da conquista e cristianização dos indígenas pelos portugueses. 


GABARITO
1E | 2D | 3C | 4B | 5C | 6C | 7C | 8D | 9B | 10C | 11A | 12E | 13D | 14C | 17C | 18C

15. Porque a arte, para os modernistas, deveria contemplar também os elementos mais prosaicos e banais da vida. Com base nas influências que os artistas modernistas receberam das vanguardas europeias, a arte deveria admitir em sua composição a inserção de elementos que não são controlados racionalmente pelo poeta.

16. "Duma feita surrupiaram a máquina-de-escrever do meu mano": Em uma ocasião, roubaram a máquina de escrever de meu irmão.