22 de julho de 2016

Exercícios sobre Quincas Borba


** Gabarito no final **

Quincas Borba, famoso personagem de Machado de Assis, volta à cena dez anos depois, em outro importante romance do Realismo que leva o seu nome. Quincas Borba, segundo romance da trilogia realista, também foi publicado sob a forma de folhetim na revista A Estação. 
> Mas quem foi Quincas Borba? Quais seriam as características dessa personagem? 
Leia um trecho do Capítulo VI, no qual Quincas faz uma síntese de sua "filosofia de vida" - o Humanitismo - a outra personagem: Rubião, seu discípulo. 

Quincas Borba 
Machado de Assis 

Capítulo VI 

- Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. e a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. 

(MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.)
inanição: enfraquecimento extremo por falta de alimentação. 
canonizar: louvar, enaltecer. 

1. Explique  a alternativa que não interpreta corretamente o trecho lido. 

a) Presença da ironia machadiana; tom humorístico e filosófico. 
b) A sobrevivência dos mais fortes fundamenta-se na violência do homem. 
c) Fatos sociais são consequências de leis naturais que regulam a preservação da espécie. 
d) Uso de paradoxo: paz = destruição; guerra = sobrevivência. 
e) Uso de metáfora para se referir ao prêmio conquistado pelos vencedores. 

2. Identifique no trecho lido a tese a respeito do caráter conservador da guerra. 

3. (Enem/2010 - adaptada) 
Leia este fragmento do Capítulo III de Quincas Barba e responda à questão. 

Capítulo III
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja - primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços. 

(MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993. v. 1. p. 643.) 

Quincas Barba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside: 

a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre a essência; 
b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes; 
c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião; 
d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho; 
e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de xenofobia. 

Quincas Borba: o segundo romance da trilogia realista machadiana 

Seguindo a mesma linha de Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis utiliza o pessimismo e a ironia para criticar os costumes e a filosofia de seu tempo em Quincas Borba, embora haja traços românticos no enredo. 
Ao contrário do romance anterior, foi escrito em terceira pessoa, a fim de contar a história de Rubião, ingênuo rapaz que se torna discípulo e herdeiro do filósofo Quincas Borba. Rubião, enganado por seu amigo capitalista Cristiano e sua esposa Sofia (por quem é apaixonado), vive na pele todo o fundamento teórico do Humanitismo, filosofia de Quincas Borba. 
Nessa obra Machado de Assis inclui uma paródia ao Cientificismo e ao Evolucionismo da época, bem como ao Positivismo e à lei do mais forte, uma adaptação da seleção natural de Charles Darwin ao nível social. Alguns estudiosos consideram que essa obra trata principalmente da transformação do homem em objeto, ou do ser humano e sua coisificação. 

4. Responda às questões a seguir. 

Como vimos, entre as concepções científicas que influenciaram a estética realista/naturalista está a teoria de Charles Darwin sobre a origem e a evolução das espécies como consequência do processo de seleção natural, para a qual sobrevivem os mais aptos, os mais fortes. 

Leia o cartum e registre as afirmativas que o interpretam adequadamente. 


a) Visão irônica do processo evolutivo.
b) Crítica à violência e à guerra. 
c) Visão otimista do processo evolutivo. 
d) Alusão à teoria de Darwin (intertextualidade).

5. (UFMG) 
Assinale a alternativa em que, no trecho transcrito de Quincas Borba, se faz referência a Rubião.

a) Assim, o contato de Sofia era para ele como a prosternação de uma devota. Não se admirava de nada. Se um dia acordasse imperador, só se admiraria da demora do ministério em vir cumprimentá-lo.
b) Desde o paço imperial, vinha gesticulando e falando a alguém que supunha trazer pelo braço, e era a Imperatriz. Eugênia ou Sofia? Ambas em uma só criatura, ou antes a segunda com o nome da primeira.
c) Era o caso do nosso homem. Tinha o aspecto baralhado à primeira vista; mas atentando bem, por mais opostos que fossem os matizes, lá se achava a unidade moral da pessoa.
d) Formado em direito em 1844, pela Faculdade do Recife, voltara para a província natal, onde começou a advogar; mas a advocacia era um pretexto.

6. (UFMG) Com base na leitura de Quincas Borba, de Machado de Assis, é CORRETO afirmar que o narrador do romance:

a) adere ao ponto de vista do filósofo, pois professa a teoria do Humanitismo.
b) apela à sentimentalidade do leitor no último capítulo, em que narra a morte de Rubião.
c) apresenta os acontecimentos na mesma ordem em que estes se deram no tempo.
d) narra a história em terceira pessoa, não participando das ações como personagem.

7. (UFRGS-RS) Com base na obra Quincas Borba, de Machado de Assis, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir.

( ) Ao declarar seu amor por Sofia na festa da casa de Palha, Rubião vive uma crise moral, oscilando entre a culpa e a inocência.
( ) Na tentativa de justificar sua atitude, Rubião atribui a Sofia a responsabilidade da declaração de amor, ao mesmo tempo que procura suavizar a culpa da mulher.
( ) Quando Sofia relata a Palha a declaração de amor que Rubião lhe fez, o marido reage violentamente e jura vingança.
( ) Apesar do jogo de sedução, Sofia não comete adultério com Quincas Borba, mas o faz com Carlos Maria, por quem se apaixona perdidamente.
( ) O narrador, no último capítulo da obra, afirma a indiferença da natureza aos risos e às lágrimas humanos.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) F - V - F - V - V.
b) V - V - F - F - V.
c) F - F - V - V - F.
d) V - F - V - V - F.
e) F - V - F - F - V.

8. (UEL-PR)
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”

ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 648-649.

Nessa passagem, quem fala é Quincas Borba, o filósofo. Suas palavras são dirigidas a Rubião, ex-professor, futuro capitalista, mas, no momento, apenas enfermeiro de Quincas Borba. É correto afirmar que a maneira como constrói esse discurso revela preocupação com:

a) A clareza e a objetividade, uma vez que visa à compreensão de Rubião da filosofia por ele criada, o Humanitismo.
b) A emotividade de suas palavras, dado objetivar despertar em Rubião piedade pelos vencidos e ódio pelos vencedores.
c) A informação a ser transmitida, pois Rubião, sendo seu herdeiro universal, deverá aperfeiçoar o Humanitismo.
d) O envolvimento de Rubião com a filosofia por ele criada, o Humanitismo, dada a urgência em arregimentar novos adeptos.
e) O estabelecimento de contato com Rubião, uma vez que o mesmo possui carisma para perpetuar as novas ideias.

GABARITO

1. Alternativa B. A sobrevivência dos mais fortes não está relacionada à violência, mas à seleção natural que permite a preservação da espécie. 

2. A destruição de uns é condição para sobrevivência de outros, preservando a espécie. 

3. Alternativa A.

4. As alternativas A, B, D estão corretas. A alternativa C está incorreta.

5B - 6D - 7B -8A