5 de julho de 2016

Literaturas Africanas de Língua Portuguesa | Poema de Ana Paula Tavares

ANA PAULA TAVARES 

Ana Paula lavares nasceu na província de Huíla (no sul de Angola). É historiadora e poetisa. Fez seu mestrado em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem vários livros publicados, o primeiro deles - Ritos de passagem - em 1985. Em 2007, publicou Manual para amantes desesperados. 
A característica básica de sua poética é o lirismo e se dá no entrecruzamento de tradições europeias e africanas, conforme podemos observar no poema aqui transcrito. 


Esperei-te do nascer ao pôr do sol 
e não vinhas, amado. 
Mudaram de cor as tranças do meu cabelo 
e não vinhas, amado. 
Limpei a casa e o cercado 
fui enchendo de milho o silo maior do terreiro 
balancei ao vento a cabaça de manteiga 
e não vinhas, amado. 
Chamei os bois pelo nome 
todos me responderam, amado. 
Só tua voz se perdeu, amado, 
para lá da curva do rio 
depois da montanha sagrada 
entre os lagos.

TAVARES, Ana Paula. In: Revista Poesia Sempre, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, n. 23, p. 80, 2006. 


O poema fala do amado que não veio. E o faz retomando, em parte, o formato das Cantigas de Amigo do período medieval e, ao mesmo tempo, aproveitando imagens típicas de seu espaço geográfico  angolano. 

1. Identifique as figuras utilizadas no poema para falar dos seguinte temas: a espera pelo amado; o envelhecimento; o trabalho. 

2. Como podemos interpretar a figura que encerra o poema (a voz do amado perdida num lugar remoto)?  

GABARITO

1. A espera pelo amado (a imagem da espera do nascer ao pôr do sol); o envelhecimento (a mudança da cor das tranças do cabelo); o trabalho (a referência às atividades do cotidiano: limpar a casa e o cercado, encher de milho o silo, fazer manteiga, lidar com o gado). 

2. O amado não retornou e está longe, fora do alcance do eu poético.