27 de setembro de 2016

Atividade de intertextualidade para ensino médio


O texto a seguir corresponde a um trecho da letra da canção do grupo O Rappa. Perceba como o texto retoma o poema de Castro Alves (O Navio Negreiro) e amplia seus sentidos no Brasil contemporâneo. 

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro 

Tudo começou quando a gente conversava
naquela esquina ali
de frente àquela praça
veio os homens
e nos pararam
documento por favor
então a gente apresentou
mas não paravam
qual é negão? Qual é negão?
o que que tá pegando?
qual é negão? Qual é negão?

é mole de ver
que em qualquer dura
o tempo passa mais lento pro negão
quem segurava com força a chibata
agora usa farda
engatilha a macaca
escolhe sempre o primeiro
negro pra passar na revista
pra passar na revista

[...]

YUKA, Marcelo. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. In: O RAPPA. Instinto coletivo. [S.1.]: Warner Music, 2001. 1 CD. Faixa 4. Fragmento.
 
a) Que situação é descrita nessas estrofes da canção?
b) Que termo empregado no texto evidencia a intertextualidade proposta pelo título?
c) Explique o sentido do refrão com base nas ideias expostas no texto.
d) Qual é a principal crítica social presente no texto? Justifique sua resposta.

Gabarito

a) Uma batida policial, ou seja, os policiais estão revistando alguns homens negros que estão na rua. "Os homens" (popularmente "os homi") é uma gíria usada para se referir à polícia. A palavra "camburão" também faz referência ao contexto da batida policial. 

b) Chibata, ou seja, o açoite, o chicote usado para punir os escravos. 

c) Segundo se pode inferir da leitura, assim como os escravizados eram punidos com a chibata na época da escravidão, os negros continuam a ser punidos contemporaneamente. Em vez do uso da chibata, hoje se usa a arma, mas, em ambas as épocas, o negro é alvo de preconceito e discriminação e, por essa razão, punido inadvertidamente. 

d) O esperado é que os alunos percebam que a crítica central é a diferença de tratamento que recebem os negros e os brancos na sociedade brasileira como consequência das heranças do escravismo, como se vê no trecho: "em qualquer dura o tempo passa mais lento pro negão".