3 de novembro de 2016

Análise do poema Este inferno de amar - Almeida Garrett


Este inferno de amar 

Este inferno de amar - como eu amo! - 
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi? 
Esta chama que alenta e consome, 
Que é a vida - e que a vida destrói - 
Como é que se veio a atear, 
Quando - ai quando se há de apagar? 

Eu não sei, não me lembra: o passado, 
A outra vida que dantes vivi 
Era um sonho talvez... - foi um sonho - 

Em que paz tão serena a dormi! 
Oh! que doce era aquele sonhar... 
Quem me veio, ai de mim! despertar? 

Só me lembra que um dia formoso 
Eu passei... dava o Sol tanta luz! 
E os meus olhos, que vagos giravam, 
Em seus olhos ardentes os pus. 
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei; 
Mas nessa hora a viver comecei... 

GARRETT, Almeida. Este inferno de amar. In: MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1985. p. 219.


QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. A que episódio da biografia de Garrett parece estar associado o poema? 

2. A qual característica romântica corresponde a associação entre biografia e obra? 

3. O poema exprime a confusão dos sentimentos do amante. 

a) Comente, a esse respeito, o título do poema. 
b) Localize na primeira estrofe dois oximoros (paradoxos) que exprimem a confusão dos sentimentos. 

4. O sujeito lírico evoca o tempo em que o amor era apenas um sonho. Os olhos de uma mulher despertaram-no, tornando o sonho realidade. 

a) Qual é a diferença entre o sonho e a realidade do amor? 
b) Apesar dessa diferença, o poema termina com uma defesa do amor. Explique. 


GABARITO

1. O poema parece estar associado ao caso amoroso de Garrett com a Viscondessa da Luz. 

2. Corresponde ao confessionalismo, à preocupação em produzir uma obra lírica que seja a expressão sincera dos sentimentos do autor. 

3.
a) O título já exprime as contradições do sentimento, que é o tema do poema: o amor, condição da felicidade, é causa de sofrimentos é um verdadeiro inferno para o sujeito lírico. 
b) "Esta chama que alenta e consome," e "Que é a vida - e que a Vida destrói -".

4.
a) O sonho era doce e nele havia a paz; a realidade é o sofrimento, o "inferno". 
b) Apesar dos sofrimentos que causa, o amor é a condição da Vida; o sujeito lírico afirma que só começou a viver quando o amor o despertou.