Artigo de opinião sobre cultura indígena para 9ºano - Sequência didática com interpretação


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Você vai ler um artigo de opinião escrito por Daniel Munduruku. Durante a leitura, deve observar a maneira como ele desenvolve cada um dos aspectos relacionados ao tema do artigo. Fique atento para não perder o fio da meada!

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O fio da meada!
O texto "A milenar arte de educar dos povos indígenas", de Daniel Munduruku, foi dividido em cinco partes, de acordo com o aspecto do tema que é desenvolvido. Sua tarefa, neste momento, é relacionar cada um desses aspectos, descritos a seguir nos tópicos de A a E, à parte do texto em que ele é abordado. Assim, você vai perceber como o autor estruturou o texto e organizou os seus argumentos.

A. As ideias centrais que orientam a educação indígena.
B. Conclusão sobre a importância e a validade da educação tradicional indígena.
C. Observações gerais sobre a educação e sobre a sua importância para o ser humano.
D. Descrição do modo como se dá a transmissão dos conhecimentos nas sociedades indígenas tradicionais.
E. Retomada das observações gerais sobre a educação, com base nas informações sobre a educação tradicional indígena.

É importante saber
Daniel Monteiro Costa (Daniel Munduruku - Derpó Munduruku) nasceu em Belém do Pará, em 1964. É graduado em Filosofia, tem licenciatura em História e é doutor em Educação. Já trabalhou com crianças em situação de vulnerabilidade social, atuou como repórter e foi coordenador de um jornal de nome Guaypacaré. Deu aulas de Filosofia e de Religião. Publicou 42 livros e recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior. Visite o blog Mundurukando para saber mais sobre seus projetos, livros e vídeos, ver suas fotografias, ler suas entrevistas, as recentes discussões sobre os povos indígenas, etc. O texto que você vai ler foi retirado desse blog. Disponível em: <http://daniel-munduruku.blogspot.com>. Acesso em: 25 mar. 2015.



A milenar arte de educar dos povos indígenas 

Parte 1 
Educar é dar sentido. É dar sentido ao nosso estar no mundo. Nossos corpos precisam desse sentido para se realizar plenamente. Mas também nossos corpos são vazios de imagens e elas precisam fazer parte da nossa mente para que possamos dar respostas ao que se nos apresenta diuturnamente como desafios da existência. É por isso que não basta dar alimento apenas ao corpo, é preciso também alimentar a alma, o espírito. Sem comida o corpo enfraquece e sem sentido é a alma que se entrega ao vazio da existência. 

Parte 2 
A educação tradicional entre os povos indígenas se preocupa com esta tríplice necessidade: do corpo, da mente e do espírito. É uma preocupação que entende o corpo como algo prenhe de necessidades para poder se manter vivo. 
Esta visão de educação é sustentada pela ideia de que cada ser humano precisa viver intensamente seu momento. A criança indígena é, então, provocada para ser radicalmente criança. Não se pergunta nunca a ela o que pretende ser quando crescer. Ela sabe que nada será se não viver plenamente seu ser infantil. Nada será porque já é. Não precisará esperar crescer para ser alguém. Para ela é apresentado o desafio de viver plenamente seu ser infantil para que depois, quando estiver vivendo outra fase da vida, não se sinta vazia de infância. A ela são oferecidas atividades educativas para que aprenda enquanto brinca e brinque enquanto aprende num processo contínuo que irá fazê-la perceber que tudo faz parte de uma grande teia que se une ao infinito. 

Parte 3 
Num mesmo movimento ela vai sendo introduzida no universo espiritual. Embalada pelas histórias contadas pelos velhos da aldeia, a criança e o jovem passam a perceber que em seu corpo moram os sentidos da existência. Este sentido é oferecido pela memória ancestral concentrada nos velhos contadores de histórias. São eles que atualizam o passado e o fazem se encontrar com o presente mostrando à comunidade a presença do saber imemorial capaz de dar sentido ao estar no mundo. 
Este processo todo é alimentado por rituais que lembram o passado para significar o presente. São movimentos corpóreos embalados por cantos e danças repetidos muitas vezes com o objetivo de "manter o céu suspenso". A dança lembra a necessidade de sermos gratos aos espíritos criadores; conta que precisamos de sentidos para viver dignamente; ordena a existência. Cada grupo de idade ritualiza a seu modo. Cada um se sente responsável pelo todo, pela unidade, pela continuidade social. 

Parte 4 
Educar é, portanto, envolver. É revelar. É significar. É mostrar os sentidos da existência. É dar presente. E não acaba quando a pessoa se "forma". Não existe formatura. Quem vive o presente está sempre em processo. 
É por isso que a criança será sempre criança. Plenamente criança. Essa é a garantia de que o jovem será jovem no seu momento. O homem adulto viverá sua fase de vida sem saudades da infância, pois ele a viveu plenamente. O mesmo diga-se dos velhos. O que cada um traz dentro de si é a alegria e as dores que viveram em cada momento. Isso não se apaga de dentro deles, mas é o que os mantém ligados ao agora. 

Parte 5 
Resumo da ópera: A educação tradicional indígena tem dado certo. As pessoas se sentem completas quando percebem que a completude só é possível num contexto social, coletivo. Cada fase por que passa um indígena - desde a mais tenra idade - alimenta um olhar para o todo, pois o conhecimento que aprendem e vivem é um saber holístico que não se desdobra em mil especialidades, mas compreende o humano como uma unidade integrada a um Todo maior e Único. 
Olhar os povos indígenas brasileiros a partir de uma visão rasa de produção, de consumo, de riqueza e pobreza é, no mínimo, esvaziar os sentidos que buscam para si. 
Pense nisso. 
Xipat Oboré (Tudo de Bom!) 

Daniel Munduruku. Disponível em: <http://danielmunduruku.blogspot.com/ 2010/04/milenar-arte-de-educar-dos-povos.html>. Acesso em: 17 abr. 2011


Os Munduruku são um povo de tradição guerreira que vive nos estados de Amazonas, Mato Grosso e Pará. Segundo a Funasa, em 2010, a população Munduruku era de 11 630 indivíduos. Eles também são conhecidos por dois outros nomes: Maytapu e Cara Preta. Sua língua é originária da família linguística Munduruku, que vem do tronco Tupi. Essas e muitas outras informações sobre os Munduruku podem ser obtidas por meio do verbete "Munduruku", no site Povos Indígenas no Brasil. 

Na estante
No livro Histórias de índio (Companhia das Letrinhas, 1996), Daniel Munduruku contesta a ideia de que o indígena é preguiçoso. Ele argumenta que essa noção, na verdade, foi construída pelo colonizador europeu, que tentou explorar o trabalho dos povos indígenas. E mostra, também, algumas diferenças entre o modo como esses povos veem o trabalho e a concepção mais comum entre as chamadas sociedades ocidentais. Entre os indígenas não há grande especialização no trabalho, ao contrário do que acontece entre os não indígenas, e as atividades visam, sobretudo, ao sustento, e não ao acúmulo de riquezas.


A reconstrução dos sentidos do texto 

1. Observe os trechos a seguir, retirados do texto. Para cada um, marque a alternativa que apresenta o sentido mais próximo ao do(s) termo(s) destacado(s).
(Exercício para explorar contextualmente o vocabulário) 

I. Mas também nossos corpos são vazios de imagens e elas precisam fazer parte da nossa mente para que possamos dar respostas ao que se nos apresenta diuturnamente como desafios da existência. 
a) De forma passageira 
b) Durante as manhãs 
c) De forma constante 
d) Durante as tardes 

II. É uma preocupação que entende o corpo como algo prenhe de necessidades para poder se manter vivo. 
a) Pobre
b) Repleto 
c) Suficiente 
d) Característico 

III. São eles que. atualizam o passado e o faz:m se encontrar com o presente mostrando à comunidade a presença do saber imemorial capaz de dar sentido ao estar no mundo. 
a) De um saber muito desejado por todos em uma comunidade 
b) De um saber cuja origem não se conhece 
c) De um saber tão antigo que precisa ser retomado 

IV. Cada fase por que passa um indígena - desde a mais tenra idade - alimenta um olhar para o todo 
[...]. 
a) Desde a adolescência 
b) Desde a infância 
c) Desde a maturidade 
d) Desde os anos escolares 

V. [...] o conhecimento que aprendem e vivem é um saber holístico que não se desdobra em mil especialidades [...]. 
a) Científico 
b) Especializado 
c) Integrado 
d) Popular 

2. Para o autor, por que a educação é importante? (Localizar informação)

3. Qual é a preocupação básica da educação indígena? (Localizar informação)

4. Na educação indígena, qual é a relação entre o brincar e o aprender?
(Compreender parte do texto) 

5. O autor afirma que não se pergunta a uma criança indígena o que ela "pretende ser quando crescer", diferentemente do que acontece em sociedades não indígenas. O que explica essa diferença? (Compreender parte do texto)

6. Ao defender a educação tradicional indígena, Daniel Munduruku só não apresenta como argumento: (Identificar argumentos)

a) A educação indígena favorece que a pessoa viva plenamente cada fase da vida. 
b) A educação indígena faz com que as pessoas se sintam completas e como parte de um todo maior. 
c) A educação indígena consiste basicamente no cumprimento de rituais. 

7. Releia o boxe É importante saber. Em sua opinião, que informações do boxe conferem credibilidade ao texto de Daniel Munduruku? (Posicionar-se diante do texto)

8. Releia o título do artigo de Daniel Munduruku.
(Identificar a orientação argumentativa decorrente da seleção lexical)

A milenar arte de educar dos povos indígenas 

As palavras milenar e arte ajudam a construir uma imagem positiva da educação indígena. Por quê? 

9. Releia o penúltimo parágrafo. (Releia o boxe Na Estante para responder)

Olhar os povos indígenas brasileiros a partir de uma visão rasa de produção, de consumo, de riqueza e pobreza é, no mínimo, esvaziar os sentidos que buscam para si

a) A que o autor se refere quando menciona uma "visão rasa de produção, de consumo, de riqueza e de pobreza"? (Compreender partes do texto)
b) Qual é a importância desse trecho para a compreensão global do texto? (Compreender a função da parte do texto)
c) O texto se encerra com um convite aos leitores para que pensem sobre o que foi dito no fragmento em destaque. Então, o que você pensa sobre isso? (Posicionar-se criticamente diante do texto)

10. Agora, leia o fragmento de um artigo científico da antropóloga Marina Kahn. 

O fato é que não existe Educação Indígena que caiba num modelo de escola. O que se vem fazendo é, sim, uma Educação para o Índio, pois todos os programas desenvolvidos no sentido de se implementar um processo de ensino e aprendizagem entre grupos indígenas têm como parâmetro - seja para reproduzir, seja para contestar - a escola formal.

Marina Kahn. Educação indígena versus educação para índios: sim, a discussão deve continuar... 


Nesse fragmento, Marina Kahn contrapõe "educação indígena" a "educação para o índio". Qual dos dois modelos Daniel Munduruku defende em seu texto? Explique. (Produzir inferência) 

GABARITO