30 de dezembro de 2016

Atividade sobre a África com interpretação de texto -Os africanos chegam ao Brasil


Os africanos chegam ao Brasil 
Schuma Schumaher e Erico Vital Brazil 

Diferentes estudos mostram que, entre meados do século XVI e a década de 1850, foram traficados para o Brasil em torno de quatro milhões de pessoas escravizadas, entre congos, angolas, benguelas, caçanjes, minas e outros indivíduos provenientes dos mais diversos povos e grupos étnicos que habitavam as vilas, cidades e regiões do continente africano. Da área costeira, os mercadores de humanos, também conhecidos como tangomanos, partiam para ataques e expedições a lugares remotos onde capturavam homens e mulheres livres. Em sua célebre Crônica do Descobrimento e Conquista da Guiné, o português Gomes Eanes de Zurara destacava que, já no século XV, assim que atingiam o litoral da África, os europeus escolhiam ao acaso um local considerado mais adequado e lá se instalavam para praticar a "caçada humana". 
Embora homens e mulheres já fossem mantidos como escravos na África antes da chegada dos europeus ao seu litoral, sobretudo nos territórios islâmicos, aquela era uma situação bem diferente da que se institucionalizaria nas Américas anos depois. Segundo Antônio de Oliveira Mendes, um veterano viajante entre o Brasil e a África, as pessoas eram escravizadas por várias razões: condenações por juízes locais, sob acusações de adultério ou roubo; substituição de mulheres, filhos e filhas ou outros parentes do sexo masculino condenados ao cativeiro; ou eram simplesmente tomadas como prisioneiros de guerra. 
Com a chegada dos mercadores europeus ao continente africano, os conflitos entre os diversos grupos étnicos se acirraram e muitas sociedades se desestruturaram. Dos entrepostos e feitorias estabelecidas ao longo da costa litorânea, saíam para as Américas embarcações abarrotadas de pessoas escravizadas. 
O conjunto formado por mulheres e homens africanos que foram transportados para as cidades escravistas do território brasileiro não constituía, contudo, um grupo homogêneo e indiferenciado. Como é de se supor, cada um possuía sua própria história. Trouxeram consigo lembranças e referências familiares, étnicas religiosas e culturais, que juntas se fortaleceram, e fundamentalmente influíram na vida de todos deste outro lado do Atlântico. 
Havia - e ainda há - muitas maneiras africanas de ser. A riqueza e a diversidade cultural destes povos e de suas tradições penetraram em diferentes setores da sociedade brasileira. Influenciaram determinantemente a fé, o falar, o andar, o vestir, o comer, o festejar, assim como trouxeram sons, cores e sabores que moldaram a maneira de ser do Brasil. Um dos mais significativos exemplos desta influência está expresso no cotidiano de norte ao sul do país. Foram as mulheres mbundu, provenientes da África centro-ocidental, as primeiras feirantes no país. Foram elas as quitandeiras, tanto daqui como de Luanda, Angola, que imprimiram um jeito especial de fazer negócio caminhando, ou de montar um tabuleiro em cada esquina e vender toda a sorte de produtos. Foram elas as ganhadeiras que, durante séculos, dominaram o comércio ambulante em diversas cidades dos dois continentes. 
No entanto, as conhecidas "nações" africanas formadas na diáspora não necessariamente correspondem a povos ou tribos precisas. Na maior parte das vezes representavam a confluência de várias etnias embarcadas, num mesmo porto, provenientes de uma mesma ilha, vila ou reino. Cabinda, por exemplo, era um movimentado porto de comércio negreiro, localizado ao norte do rio Zaire, e, por conseguinte, muitos cativos que aqui chegaram no século XIX eram conhecidos como cabindas porque haviam saído de lá. Nesse conjunto podiam estar incluídos os nsundis, tekes, tios e gabãos, grupos que eram aprisionados pelo tráfico nas proximidades daquela região. 
Muitos dos chamados congos que viviam no Rio de Janeiro eram bacongos do norte de Angola e do sul do Zaire. Já o termo mina designava, desde os séculos XVII e XVIII, os cativos que saíam da África ocidental, sobretudo da região conhecida como Costa da Mina. O nome originara-se do castelo São Jorge da Mina, também chamado Elmina, na Costa do Ouro - atual Gana; por extensão, o litoral de Mina veio identificar a região costeira a leste de Elmina - o litoral da Costa do Ouro, ao leste da Nigéria, ou toda a área da baía de Benin. 
Entre os grupos escravizados, as mulheres correspondiam, numa média geral, a um contingente 20% inferior ao número de homens transportados. O apresamento das africanas esteve de algum modo condicionado à oferta de cativos do sexo masculino, assim como às demandas diferenciadas tanto na África como nas Américas, variando ainda ao longo do tempo. 

Excertos de: SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Erico. Mulheres negras do Brasil. 
REDEH; SENAC Editoras, 2007, p. 15-16.

De acordo com o Dicionário Houaiss: 
Benguelas - povo banto que habita a região de Bengela (Angola) 
Caçanjes - Grupo étnico que habita Angola 
Minas - 1. preto-mina ('indivíduo') 2 LING diz-se de ou língua do grupo kwa falada na República do Benin e no Togo, e que é usada também como língua de comércio nessa região; gbe-gbe 
Mbundu / ambundo 1 indivíduo dos ambundos; quimbundo 2 grupo banto que habita as províncias do Bengo e Luanda, o Cuanza Norte, Malanje, o Cuanza Sul e parte do Bié, em Angola; quimbundos [Sua língua é o quimbundo.
Tios - anzico 
Anzico - denominação dada pelos portugueses no século XV a um grupo de povos que habitava a Anzica ou Anzicana, região da África equatorial no território da atual República Democrática do Congo 


1.
a) De acordo com o texto, como os europeus, no século XV, selecionavam um local para capturar africanos? 
b) E como os humanos eram selecionados para serem escravizados? 

2. De acordo com o texto, como se podem caracterizar os africanos que chegaram ao Brasil? 

3. Os negros trazidos da África influenciaram a sociedade brasileira em que aspectos? 

4. Observe o trecho a seguir. 
"No entanto, as conhecidas "nações" africanas formadas na diáspora não necessariamente correspondem a povos ou tribos precisas".
a) O que se pode entender por nações formadas na diáspora? Caso não saiba o significado de diáspora, consulte o dicionário. 
b) Essa diáspora, entretanto, foi diferente porque não ocorreu com um povo específico. Como se deu essa dispersão? 

Gabarito

1. 
a) Não havia seleção. O local era escolhido de forma aleatória.
b) Eram escravizados aqueles que tinham condenações por adultério ou roubo por substituição de mulheres, filhos e filhas ou outros parentes do sexo masculino condenados ao cativeiro; ou eram capturados como prisioneiros de guerra. 

2. Constituíam um grupo heterogêneo, pois cada um tinha sua própria história, com referências familiares, étnicas, religiosas e culturais distintas. 

3. Influenciaram a fé, o falar, o andar, o vestir, o comer, o festejar, os sons, as cores e os sabores.

4.
a) De acordo com o dicionário Houaiss, diáspora significa "dispersão de um povo em consequência de preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica". Portanto, o trecho pode ser entendido como nações formadas na dispersão de um povo.
b) Os africanos pertenciam a lugares grupos étnicos diferentes. Aqui no Brasil eram nomeados considerando o local da costa africana de onde tinham partido.