Análise de Os sofrimentos do jovem Werther


Leia a seguir um fragmento de Os sofrimentos do jovem Werther, obra de Johann Wolfgang von Goethe publicada em 1774, que marcou o início do Romantismo na Alemanha. Acompanhe a discussão entre Alberto e o jovem Werther e verifique o antagonismo de suas posturas diante do mesmo tema. 

 Aí o caso é completamente diferente — replicou Alberto  porque um homem que é arrastado por suas paixões perde toda a capacidade de raciocinar e passa a ser encarado como um ébrio, como um demente. 
— Ai de vós todos tão sensatos!  exclamei sorrindo.  Paixão! Embriaguez! Loucura! Conservai-vos tão serenos, tão desinteressados, vós, os moralistas; cobris de injúrias o bêbado, detestais o insensato, passais ao largo como o sacerdote e agradeceis a Deus, tal o fariseu, por não vos ter feito iguais a eles. Mais de uma vez me embriaguei, minhas paixões nunca estiveram longe da loucura e não me arrependo nem de uma coisa nem de outra, apesar de terem-me ensinado que sempre se haveria de menosprezar todos os indivíduos excepcionais que fizeram algo de grandioso, algo de aparentemente irrealizável! 
— Mas também na vida cotidiana é insuportável ouvir quase sempre gritar para qualquer um empenhado numa ação livre, nobre, inesperada: "É um bêbado, está louco!" Envergonhai-vos, vós todos tão sóbrios! Envergonhai-vos, vós todos tão sensatos! 

GOMES, Álvaro Cardoso; VECHI, Carlos Alberto. A estética romântica
textos doutrinários comentados. São Paulo: Atlas, 1992. p. 39.

Atividade de interpretação de poema (ensino médio) Poesia e mendicidade de Castro Alves


Castro Alves, autor da terceira geração da poesia romântica, ficou conhecido como "Poeta dos Escravos". Mas, além da poesia social, compôs poemas líricos, como as estrofes que você vai ler. 

Poesia e mendicidade 
[...] 

Hoje o Poeta  caminheiro errante, 
Que tem saudades de um país melhor 
Pede urna pérola  à maré montante, 
Do seio às vagas  pede — um outro amor.

[...]

Pede à mulher que seja boa e linda 
 Vestal de um tipo que o ideal revela... 
Pois ser formosa é ser melhor ainda... 
Se és boa  és luz... mas se és formosa  estrela... 
E pede à sombra, pra aljofrar de orvalho 
A fronte azul da solidão noturna. 
E pede às auras pra afagar os galhos, 
E pede ao lírio, pra enfeitar a furna. 

Pede ao olhar a maciez suave 
Que tem o arminho e o edredon macio, 
O aveludado da penugem d' ave, 
Que afaga as plumas no palmar sombrio. 

[...] 

ALVES, Castro. In: GOMES, Eugênio (Org.). Castro Alves: obra completa. 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 130-131. (Fragmento).

Adjetivos 6ºano - Exercícios com respostas


Leia o texto a seguir. 

Continho 
Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Pernambuco. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo: 
— Você aí, menino, para onde vai essa estrada? 
— Ela não vai não: nós é que vamos nela. 
— Engraçadinho duma figa! Como você se chama? 
— Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé.

Paulo Mendes Campos. Crônica 1.27. ed. São Paulo: Ática, 2002. p. 76 (Coleção Para Gostar de Ler). © by Joan A. Mendes Campos. 

a) Quais são os adjetivos que caracterizam o menino Zé? 
b) Qual desses adjetivos não sofre flexão de gênero? Por quê? 
c) A utilização do adjetivo no diminutivo indica qual característica do menino? 
d) O que esses adjetivos revelam sobre a condição social do menino? 
e) Qual é o sentido do adjetivo no trecho: "Na soalheira danada de meio-dia"? 
f) Como o vigário é caracterizado? 
g) Considerando o contexto, o que significa "Engraçadinho duma figa!"?
h) No texto, há uma situação inusitada que provoca humor. Que situação e essa? 

2. Qual é o sentido do adjetivo danado nas frases a seguir? 

a) Esta comida está danada de boa! 
b) Cuidado que o cabra é danado. 
c) Ele é danado no jogo de xadrez. 
d) Desta vez, deu um trabalho danado! 
e) Aquela menina é danada para aprender matemática. 

3. Complete o texto com as palavras abaixo, fazendo a concordância necessária. 

comprido - vivo - da gaiola - de cavalo - do afogamento - preto - escuro - duro - enorme - cruel - do inimigo - de arame - inteiro - excitado - terrível - de aranha - de calçados

Interpretação de artigo de opinião sobre consumismo para 8ºano


Consumismo 

**Gabarito no final**

Tudo parece mágico, grande e alegremente anárquico. Há música em todos os locais. As vitrines estão muito bem decoradas. O ambiente está propício para um passeio gratificante. Estamos, quase sem perceber, em uma selva de consumo onde, inevitavelmente, cairemos em algumas das "armadilhas" que equipes formadas por psicossociólogos, arquitetos, decoradores, iluminadores e especialistas em marketing prepararam para os consumidores potenciais. 
O ritmo musical que ouvimos, suave e quase imperceptível, tem suas razões de ser, assim como a disposição dos produtos em lugares determinados, a largura dos corredores e tudo o mais que nos impressiona em alguns supermercados ou shopping centers que incentivam a febre do consumo. Esses fatores são tão importantes que existem, em alguns países, laboratórios para testá-los. Na França, por exemplo, funciona, desde 1989, um supermercado-laboratório, onde o comportamento do consumidor é observado e analisado em detalhes. Esse falso supermercado, onde as cobaias são os clientes, é o menor do mundo - possui apenas 200 metros, com música ambiente. Os visitantes são selecionados em supermercados verdadeiros e recebem, ao entrar, uma lista de compras. Eles devem escolher as marcas e depois dizer por que preferem esta ou aquela. Na verdade, seus movimentos estão sendo estudados por especialistas escondidos atrás de vidros espelhados. Cada passo dado pelo cliente, cada expressão facial ficarão gravados em uma fita que será utilizada para estudo posterior. Hoje em dia, qualquer lançamento só é feito depois de o produto ter passado por esses tubos de ensaio. Os fabricantes sabem muito bem que é ali que se decide a sorte de seu produto. 
Para planejar melhor suas vendas - e fazer com que as pessoas consumam mais -, os supermercadistas já dispõem de algumas informações. Em primeiro lugar, sabem que o consumidor permanece durante uma média de 40 minutos dentro do supermercado, onde são apresentados de 4 a 6 mil produtos. Dessa forma, o consumidor só conta com alguns segundos para registrar tudo o que vê e decidir o que comprar. Por outro lado, sabe-se também que 50% dos produtos vendidos em supermercados são comprados por impulso. Isso significa que entre as mercadorias de compra planejada como o leite e o açúcar, entre outros - devem ser colocadas outras mercadorias, não programadas, que atraiam a atenção do consumidor. 
Outro recurso bastante utilizado é ter o preço de um produto anunciado em um grande cartaz, o que pode dar a sensação de que esse produto está em promoção, mesmo quando o preço não foi alterado. É frequente ver que, com técnicas semelhantes, uma determinada marca de café - para citar um exemplo - pode incrementar seu volume de venda. 
Um outro segredo se encontra nas prateleiras, que são geralmente dispostas em cinco de cada lado da gôndola. A prateleira de cima é a que mais se vê, embora fique um pouco fora do alcance da mão. A segunda e a terceira são as melhores, porque ficam à altura da vista e ao alcance das mãos. A quarta e a quinta são as menos valorizadas, por serem mais desconfortáveis de ver e alcançar. O objetivo, segundo especialistas, é chegar a um equilíbrio e evitar "pontos frios" dentro do supermercado. Para isso, colocam-se os setores de maior afluência de público - como os lácteos, por exemplo - perto de outros locais difíceis, cujos produtos têm, na maioria das vezes, uma rentabilidade maior. O objetivo final é que o cliente encontre a maior quantidade possível de produtos e aumente seu consumo. 
Os shopping centers também baseiam seu sucesso na exposição tentadora, mas acrescentam outros elementos - como a sensação de onipotência proporcionada pela arquitetura e a sensação de pertencer e possuir de que são tomados os clientes assim que entram no local. Segundo alguns psicólogos, outra característica inconsciente, certamente, mas muito forte, é a sensação de segurança e proteção que esses locais proporcionam. Além disso, são como grandes cenários onde as pessoas podem olhar, mexer, espiar, ver de tudo, ficar a par de tudo, satisfazer todas as inquietudes, ser espectadoras, protagonistas, desejosas de tudo o que está exposto, mas também capazes de obter o que veem. É assim que se criam uma tentação e uma excitação dos sentidos que põem em movimento a pulsão possessiva das pessoas, por meio de estímulos visuais, olfativos, auditivos, racionais e também impulsivos e compulsivos. 
[...] 

IstoÉ Tudo: o livro do conhecimento. São Paulo: Três. [s.d.] p. 174-177.

Questão do Enem sobre reflexão da língua portuguesa


(ENEM) 
Entre ideia e tecnologia

O grande conceito por trás do Museu da Língua é apresentar o idioma como algo vivo e fundamental para o entendimento do que é ser brasileiro. Se nada nos define com clareza, a forma como falamos o português nas mais diversas situações cotidianas é talvez a melhor expressão da brasilidade. 

SCARDOVELI, E. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, Ano II, nº 6, 2006. 

O texto propõe uma reflexão acerca da língua portuguesa, ressaltando para o leitor a: 

a) inauguração do museu e o grande investimento em cultura no país. 
b) importância da língua para a construção da identidade nacional. 
c) afetividade tão comum ao brasileiro, retratada através da língua. 
d) relação entre o idioma e as políticas públicas na área de cultura. 
e) diversidade étnica e linguística existente no território nacional. 


Gabarito: b

Leitura e interpretação de crônica Rubem Braga Variedade linguística



Acho muito simpática a maneira de a Rádio Nacional anunciar a hora: "onze e meia" no lugar de "vinte e três e trinta" [...]. Mas confesso minha implicância com aquele "meio-dia e meia". 
Sei que "meio-dia e meio" está errado; "meio" se refere a hora e tem de ficar no feminino. Sim, "meio-dia e meia". Mas a língua é como a mulher de César: não lhe basta ser honesta, convém que o pareça. Aquele "meia" me dá ideia de teste de colégio para pegar estudante distraído. Para que fazer da nossa língua um alçapão? 
Lembrando um conselho que me deu certa vez um amigo boêmio quando lhe perguntei se certa frase estava certa ("Olhe, Rubem, faça como eu, não tope parada com a gramática: dê uma voltinha e diga a mesma coisa de outro jeito") [...] Aliás, a língua da gente não tem apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma pequena alma que aquele "meio-dia e meia" faz sofrer. E, ainda que seja errado, gosto da moça que diz: "Estou meia triste..." Aí, sim, pelo gênio da língua, o "meia" está certo. 

BRAGA, Rubem. Recado de primavera. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 58. 
1. Explique o que o cronista quis dizer com este trecho: "a língua da gente não tem apenas regras: tem um espírito, um jeito, uma pequena alma que aquele 'meio-dia e meia' faz sofrer", 

2. Identifique, entre os itens abaixo, os que estão redigidos não de acordo com as regras da variedade padrão, e sim conforme "o espírito, a pequena alma da língua". Justifique sua (s) escolha (s).

a) Depois do jantar, restaram sobre a mesa duas meias garrafas de vinho e bastantes frutas e doces. 
b) Este ano a viagem foi bem tranquila; tinha menas pessoas nos ônibus, porque quase ninguém viajou no feriado. 
c) A velhinha segurou o pacote que o rapaz estava lhe dando e disse: "  Muito obrigado, moço; deixei cair porque estava muito pesado". 
d) As viagens baratas de avião tornaram possíveis os sonhos de muitos brasileiros. 
e) Durante estes últimos meses, ela veio bastante vezes passear aqui em casa. 
GABARITO

Exercício sobre paralelismo sintático (Enem)


Paralelismo sintático é um recurso de organização dos enunciados que se caracteriza por uma sequência de termos (ou orações) de mesma função sintática e constituídos por um mesmo tipo de estrutura gramatical ou por estruturas gramaticais semelhantes. O paralelismo não é uma "regra gramatical", e sim um recurso que contribui para o estilo, o ritmo, a harmonia e a coesão do texto. 

Leia este trecho de texto:

Até hoje se pergunta: para que serve a arte, para que serve a poesia? 
Intelectuais se aprumam, pigarreiam, começam a responder dizendo "Veja bem..." e daí em diante é um blablablá teórico que tenta explicar o inexplicável. Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento. 

MEDEIROS, Martha. Doidas e santas. Porto Alegre: L&PM, 2011. p. 10. 

A expressividade da argumentação da autora relativamente à importância da poesia na vida cotidiana das pessoas se evidencia principalmente por meio de: 

a) paralelismo sintático constituído por orações que exprimem causa. 
b) uma comparação inusitada entre a poesia e uma vaca no meio da calçada de uma metrópole. 
d) paralelismo sintático constituído por orações que exprimem finalidade. 
d) referência irônica à maneira como os intelectuais tentam explicar a importância da poesia. 
e) figuras de linguagem, como por exemplo, "explicar o inexplicável" (paradoxo) e "inferno que é viver" (hipérbole).

Gabarito: C

Análise crítica de cartum - ironia

Leia este cartum e explique como nele a ironia é construída.




GABARITO

A ironia presente é a de que o verbo "seguir", nesse caso, seria usado em seu sentido literal. O catador, figura comum nas grandes cidades, seria seguido pelos carros. Uma clara ironia à disparidade de recursos e à desigualdade presentes no país. Enquanto alguns são seguidos nas redes sociais, outros carregam pesados carrinhos e são seguidos por carros impacientes com o trânsito que esse tipo de carrinho costuma acarretar. 

Interpretação do poema Motivo de Cecília Meireles


Motivo 
Neste poema, o eu lírico trata do significado do fazer poético. 

**Gabarito no final**

Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta. 

Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento. 
Atravesso noites e dias 
no vento. 

Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
— não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo. 

Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
 mais nada.

Orações adjetivas reduzidas em tirinha do Laerte



Nessa tira, há uma série de orações adjetivas reduzidas. Transcreva-as e classifique-as. 

> É possível afirmar que o efeito de humor da tira está relacionado ao tipo de informação apresentado por essa série de orações adjetivas reduzidas. Explique por quê. 

Gabarito

Toda a fala do arcanjo Gabriel, no terceiro quadrinho, é constituída por orações adjetivas restritivas reduzidas. A primeira delas ("gente pendurada pelo dedão") é reduzida de Particípio; as outras são reduzidas de Gerúndio ("gente sendo assada numa churrasqueira gigante", "gente sendo serrada em dois"). 

> No primeiro quadrinho, o anjinho anuncia que gostaria de ver o inferno e o Arcanjo Gabriel, para demovê-lo dessa ideia, começa a enumerar uma série de coisas terríveis que teria visto por lá. Essa enumeração (no terceiro quadrinho), feita com as orações adjetivas reduzidas, surte efeito contrário, como se pode observar pela expressão facial dos anjinhos mostrando bastante interesse (no último quadrinho). Eles aguardam ansiosamente a continuação das enumerações dos horrores do inferno quando Gabriel a interrompe ("...gente sendo..."), ao perceber o que está acontecendo a seu redor. 

Análise do conto A carteira de Machado de Assis



**Gabarito no final**


A CARTEIRA

... De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
— Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
— É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta coisa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
— Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.
— Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma coisa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
— Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da carreira; todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, − enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma coisa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro", pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dois empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer".
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma coisa.
— Nada.
— Nada?
— Por quê?
— Mete a mão no bolso; não te falta nada?
— Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou?
— Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.
— Mas conheceste-a?
— Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.

MACHADO DE ASSIS, Joaquim M. Outros contos. In Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1962, v. II.

Exercícios sobre conotação e denotação (8ºano)


1. Quase sempre os provérbios são construídos em linguagem conotativa. Dê o sentido dos provérbios empregados nas estrofes a seguir. 

Um cara todo elegante 
Mas de caráter nojento —
"Por fora, bela viola. 
Por dentro, pão bolorento." 

Quem faz pouco do produto 
Mas insiste em pechinchar, 
e esquece desta verdade: 
"Quem desdenha, quer comprar". 

Entre outros dez ignorantes, 
Eu mesmo até que brilhei, 
Porque "em terra de cego 
Quem tem um olho é rei", 
[...]

Atividade de leitura e interpretação de conto (6ºano) O sabiá e a girafa


Leo Cunha 

O sabiá 


Sabia que o sabiá sabia assobiar? Dizia o meu avô. 
Sabia que o sabiá sabia avoar? Avoa, vô, avoa. E de ave ele entendia. Mas o sabiá da minha história não sabia avoar. Assobiar ele sabia. Mas, que mais batesse as asas, o sabiá não subia. 
Avoa, sô, avoa! O pobre não decolava. Pulava lá do galho, aterrissava na bacia. 
Não desistia o sabiá. Saltava, caía, pulava, caía, tentava, caía. Sabiá na bacia. À toa, sô, à toa. Todo mundo até ria, mas no fundo já sabia: o sabiá não sabia avoar. 
Vivia a assobiar seu apetite: comer o ar, caber no ar. 
Passar por cima das casas, das ruas, das gentes, do medo. 
Passar de passarinho, passear devagarinho, sem pra onde nem caminho. À toa, à toa, a esmo. Só queria mesmo avoar. 
Sonhos também havia. Asas arranhando a barriga das nuvens, voos atravessando a manhã vazia. Mas, entre as trapaças da brisa, o sabiá não saía. 
Assobiava que eu nem te conto. Antes, o canto de tenor, a cor na noite escura. Depois, o canto de temor, a dor da falta de altura. Cantava que eu nem te canto, o sabiá desencantado. 
Dias de sonhos rasantes, noites de sono arrasado. Mas ele, ressabiado, teimava em assobiar. Dorremifava macio, no galho ou na bacia, o desejo de avoar. 
Um dia, o sabiá dizia, um dia eu consigo avoar. 

A girafa 

Girafa o meu avô não conheceu. Nunca teve o prazer, não foi apresentado. Mas o velho deitado dizia: filho de peixe, peixinho é. 
Isso vale pra outros bichos. Girafa também é sempre igual. 
Nada fala, tudo espia. Sem um pio, sem um fio de voz. Só em riso e pensamento, ironiza o mundo no andar de baixo. 
Mas a girafa da minha história era muito diferente. A muda queria mudar. Não o mundo, mas a vida. Queria enganar o silêncio que lhe esganava a garganta. Queria encolher a dor de não escolher as palavras. Queria desemudecer. 
E não bastava soltar umas palavras no vento. Também sonhava em cantar. Sonhava encantar o dia, molhar as tardes de poesia, melar o canto da noite com doces melodias. 
Prestava atenção no trovão, no temporal, na ventania.
Tentava imitar o azulão, o rouxinol, a cotovia. Mas a voz não derramava. Então reclamava baixinho: para que tanta altitude, pra cantar só passarinho? 
A girafa andava injuriada. Andava toda a cidade, do alto dos seus andares, adorando a paisagem. Mas ficava na saudade o canto de homenagem.
Um dia, jurava a girafa, um dia eu consigo cantar.

Questão de vestibular sobre paradoxo


(FUVEST-SP/2003)

Conta-me Cláudio Mello e Souza. Estando em um café de Lisboa a conversar com dois amigos brasileiros, foram eles interrompidos pelo garçom, que perguntou, intrigado: 
— Que raio de língua é essa que estão aí a falar, que eu percebo tudo? 

(BRAGA, Rubem. Recado de primavera. Editora Record, 1984. p. 119.) 


A graça da fala do garçom reside num paradoxo. Destaque dessa fala as expressões que constituem esse paradoxo. Justifique.

GABARITO

As expressões são: "— Que raio de língua é essa [...] que eu percebo tudo?". A interrogação "Que raio de língua é essa?" revela que o garçom não sabe qual é o idioma falado pelo interlocutor. Já a expressão "que eu percebo tudo" mostra que ele compreendeu tudo o que estava sendo dito.

Interpretação de artigo de opinião sobre violência, desigualdade social e infância


Paz social

Está provado que a violência só gera mais violência. A rua serve para a criança como uma escola preparatória. Do menino marginal esculpe-se o adulto marginal, talhado diariamente por uma sociedade violenta que lhe nega 'condições básicas de vida. 
Por trás de um garoto abandonado existe um adulto abandonado. E o garoto abandonado de hoje é o adulto abandonado de amanhã. É um círculo vicioso, em que todos são, em menor ou maior escala, vítimas. São vítimas de uma sociedade que não consegue garantir um mínimo de paz social. 
Paz social significa poder andar na rua sem ser incomodado por pivetes. Isso porque num país civilizado não existe pivete. Existem crianças desenvolvendo suas potencialidades. Paz é não ter medo de sequestradores. É nunca desejar comprar uma arma para se defender ou querer se refugiar em Miami. É não considerar normal a ideia de que o extermínio de crianças ou adultos garanta a segurança. 
Entender a infância marginal significa entender por que um menino vai para a rua e não à escola. Essa é, em essência, a diferença entre o garoto que está dentro do carro, de vidros fechados, e aquele que se aproxima do carro para vender chiclete ou pedir esmola. E essa é a diferença entre um país desenvolvido e um país de Terceiro Mundo. 
É também entender a História do Brasil, marcada por um descaso das elites em relação aos menos privilegiados. Esse descaso é simbolizado por uma frase que fez muito sucesso na política brasileira: caso social é caso de polícia. 
A frase surgiu como uma justificativa para o tratamento dado ao trabalhador no começo do século. Em outras palavras, é a mesma postura que as pessoas assumem hoje em relação à infância carente e aos meninos de rua. 

DIMENSTEIN, Gilberto. O cidadão de papel: a infância, adolescência e os direitos humanos no Brasil. 16. ed. São Paulo: Ática, 1993.


QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO (gabarito no final)

1. Segundo Gilberto Dimenstein, "a violência só gera mais violência". Qual é o primeiro argumento do texto que apoia essa afirmação? Reproduza-o com redação própria. 

2. Por que tanto adultos quanto menores abandonados são vítimas da sociedade? 

3. Segundo o articulista, o que significa "paz social"? Explique sem copiar as palavras do texto. 

4. Procure no dicionário o significado da palavra "pivete" e copie-o em seu caderno. Em seguida, explique a diferença entre "pivete" e "crianças desenvolvendo suas potencialidades".

5. Relacione "infância marginal" com "países desenvolvidos" e "países subdesenvolvidos".

6. Segundo o texto, o Brasil se insere em que tipo de país? Por quê? Justifique sua resposta.

7. O texto é composto de seis parágrafos. Resuma cada um deles em uma única frase. 

8. No primeiro parágrafo, o artigo se refere à rua; no último, também. Explique qual é a ligação entre o que se diz no começo e o que se diz no fim do texto.


Interpretação do poema "O engenheiro"


ATIVIDADE PRONTA PARA BAIXAR E SALVAR

O engenheiro 
João Cabral de Melo Neto 

Atividades PRONTAS para baixar e salvar GRATUITAMENTE


           A Antonio B. Baltar

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.

O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro.)

A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples .

(MELO NETO, João Cabral de. O engenheiro. In: Obra completa/ Poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999. p. 69-70.)

1. Qual é o tema desse poema? 

2. A que João Cabral compara o trabalho do poeta? 

3. Releia: "O engenheiro sonha coisas claras:/ superfícies, tênis, um copo de água." De acordo com esses versos, qual é a matéria da poesia proposta por João Cabral? 

4. Qual estrofe dialoga diretamente com o título? Explique. 

5. (ITA/2000 - adaptada) - Explique a alternativa que não se refere ao poema. 

a) Produz o sentido de objetividade e racionalidade. 
b) Apresenta uma certa precisão geométrica. 
c) Apresenta princípios prosaicos típicos da poesia do início do século XX. 
d) Apresenta forma equilibrada, com uso cuidadoso das palavras. 
e) Não apresenta descrições intimistas. 

GABARITO

Exercício sobre oração subordinada substantiva Texto: Eu sei, mas não devia de Marina Colasanti

Leia um trecho de uma crônica de Marina  Colasanti. 


Eu sei, mas não devia 

Eu sei que a gente se acostuma. 
Mas não devia. 
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. 
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. 
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.(...) 

(COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Roeco, 1996. p. 9.)

Questões de Machado de Assis no Enem

1. (Enem) 

O texto abaixo foi extraído de uma crônica de Machado de Assis e refere-se ao trabalho de um escravo. 

Um dia começou a guerra do Paraguai e durou cinco anos, João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos e pelas vitórias. Quando se decretou o ventre livre dos escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição completa, quem repicou foi João. Um dia proclamou-se a República. João repicou por ela, repicaria pelo Império, se o Império retomasse. 

(MACHADO, Assis de. Crônica sobre a morte do escravo João, 1897) 

A leitura do texto permite afirmar que o sineiro João: 

a) por ser escravo tocava os sinos, às escondidas, quando ocorriam fatos ligados à Abolição. 
b) não poderia tocar os sinos pelo retorno do Império, visto que era escravo. 
c) tocou os sinos pela República, proclamada pelos abolicionistas que vieram libertá-la. 
d) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes porque era costume fazê-la. 
e) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando a volta da Princesa Isabel. 

2. (Enem) 

No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o Romantismo. 

[...] Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. 

(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957.) 

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na alternativa: 

a) ...o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas... 
b) ...era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça...
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,... 
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos... 
e) ...o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. 

Interpretação de cartum para Enem e vestibular

Leia o cartum a seguir.



a) Levando em consideração o contexto do cartum, com quem a garota está conversando? 
b) De acordo com o cartum, a menina sabe o que é "Facebook" ? 
c) Qual é a crítica evidenciada no cartum? 


Gabarito:

a) A garota está conversando com um amigo imaginário. 
b) Não, porque ela diz que os amigos amigos imaginários da mãe estão num tal de Facebook traduzido literalmente do original em inglês será "estão em algo chamado facebook"). 
c) A de que muitas pessoas acreditam ter muitos amigos porque têm muitos contatos nas redes sociais. Certamente, as redes sociais facilitam as ligações entre as pessoas, mas não garantem que todos que ali estão sejam necessariamente amigos uns dos outros. 

Atividade de interpretação de relato pessoal (6ºano) Férias na Antártica


Atividade pronta para baixar e salvar GRÁTIS


Férias na Antártica 
Laura, Tamara e Marininha Klink 

Nascemos numa família que gosta de viajar de barco, e muito. Crescemos enquanto nosso pai construía um novo veleiro, o Paratii 2. Pessoas que nunca tinham visto um barco antes também participaram da sua construção, que aconteceu devagar, longe do mar e com muito esforço. Quando ficou pronto, tornou-se famoso pelas viagens que fez e por ser um dos barcos mais modernos do mundo. Nossa mãe sabia que o barco era seguro e que poderia levar toda a nossa família. Então pediu para irmos todos juntos numa próxima vez e nosso pai concordou! Ficamos felizes porque, finalmente, não ficaríamos na areia da praia dando tchau. 
Partimos para uma longa viagem e deixamos nossos avós com saudades. Viajamos para um lugar que muitas pessoas nem imaginam como é. Para chegarmos lá, balançamos para cima e para baixo, para um lado e para o outro, com movimentos nem um pouco agradáveis, nada parecidos com os que experimentamos em terra firme. 
Fomos para um continente que não tem dono, bandeira ou hino, onde sentimos temperaturas abaixo de zero. Dizem que ali é tudo branco e só tem gelo, mas enquanto viajávamos fomos descobrindo muitas cores e diferentes tons de branco. 
Sempre nos perguntam: "O que vocês fazem lá?" "Tudo!" é a nossa resposta. É um lugar muito especial chamado Antártica. E por que é tão especial assim? 
[...] 
Quando deixamos a América do Sul rumo à Antártica, passamos pelo extremo sul do continente americano, o famoso cabo Horn. A partir dali, navegamos pelo estreito de Drake. Com muito mar pela frente, estamos sempre acompanhados por muitas aves marinhas, principalmente petréis e albatrozes. 
Conforme nos aproximamos da Antártica, a água vai esfriando, ficando mais densa e o alimento começa a ficar mais concentrado, atraindo um número maior de animais. É como se entrássemos num enorme carrossel de animais e icebergs que flutuam em volta do continente antártico. Esse cinturão azul que abraça o continente é chamado de Convergência Antártica.
Ali sabemos que estamos mais perto do nosso destino do que de casa, e temos a sensação de que a viagem dos nossos sonhos está acontecendo. 
Depois de cruzarmos o Drake - que é a parte chata porque todo mundo passa mal no barco -, nossa ansiedade aumenta ainda mais. Alguns sinais indicam que finalmente estamos chegando: não vemos mais albatrozes no céu, sentimos o vento gelado no rosto e não dá mais para ir do lado de fora sem luvas e gorros. Começamos a ver grupos de pinguins saltando para fora da água e focas se exibindo no mar. 
Quando nosso pai diz que já é possível encontrar um iceberg no caminho, a gente fica mais tempo do lado de fora do barco fazendo companhia para ele no frio. Achamos que ele gosta de sentir frio. Nós gostamos só um pouquinho e logo queremos voltar para o calor da cabine. Mas como esse é um momento especial, temos um combinado no barco: quem avistar o primeiro iceberg da viagem ganha um prêmio. Assim a gente sente coragem de ficar mais tempo no frio! 
[...] 
Quanto mais nos aproximamos da Antártica, maior é o número de icebergs. Eles vão surgindo, com formatos e tamanhos diferentes. O que varia bastante também são as cores. É, as cores! Dependendo da posição do sol, das condições climáticas do dia, do tamanho do iceberg, da largura da parede de gelo, da densidade e de outros elementos, um iceberg pode ser muito diferente do outro. 
Mesmo de longe, eles são muito diferentes. Não são apenas blocos de gelo. Cada um é único. São tons de branco, cinza, azul e verde muito diferentes dos que estamos acostumados a ver no Brasil. Leva um tempo pra gente se acostumar. A água vai batendo pouco a pouco no iceberg e o gelo vai se moldando, sendo esculpido em pontas, rampas, pequenas piscinas e cavernas. Formam-se até pontas de gelo que lembram estalactites, que a gente pode pegar com as mãos e brincar de "picolés de gelo"!
Muita gente conhece a frase "isso é apenas a ponta do iceberg", que usamos para dizer que tem muito mais do que parece em alguma coisa. Isso acontece porque a parte do iceberg que está acima do mar corresponde a apenas 30% do seu total; o resto está submerso. Esse fato também é conhecido, mas ver icebergs ao vivo nos leva a pensar em coisas que nem todo mundo pensa: quando um iceberg derrete, ele vai subindo ou capota e mostra a parte que estava debaixo d'água? [...] 

KLINK. Laura; KLINK, Tamara; KLINK, Marininha. Férias na Antártica. São Paulo: Grão, 2010.

Exercícios sobre variação linguística


LEIA TAMBÉM:
Textos com variedades linguísticas - exercícios com gabarito

**Gabarito no final**

1. (Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM) As manchetes a seguir foram publicadas em jornais diferentes, mas referem-se a um mesmo fato: a falsificação de remédios. Observe: 

I. "Câmara torna fraude de remédio crime hediondo" 
II. "Falsificação de remédios será crime hediondo" 
III. "Agora é pena pesada" 

Percebe-se que há uma diferença entre a qualidade da linguagem utilizada pelos dois primeiros jornais e pelo último. Essa situação é provocada pelo seguinte fato: 

a) Os jornais I e II têm redatores de alto gabarito profissional, que não se preocupam se seu público entende a linguagem formal. 
b) O jornal III dirige-se a um público mais formal e erudito. 
c) O jornal III tem redatores menos experientes no uso da linguagem formal e erudita. 
d) Os jornais II e III dirigem-se a um público menos exigente e, por isso, utilizam a linguagem informal e não erudita. 
e) O jornal III usa uma linguagem menos formal para atingir um público mais informal e menos erudito. 

2. (Fundação Universitária para o Vestibular - São Paulo - FUVEST - SP) 

Texto 1 
Você pode dar um rolê de bike, lapidar o estilo a bordo de um skate, curtir o sol tropical, levar sua gata pra surfar. 

Considerando-se a variedade linguística que se pretendeu reproduzir nessa frase, é correto afirmar que a expressão proveniente de variedade diversa é: 

a) "dar um rolê de bike"; 
b) "lapidar o estilo"; 
c) "a bordo de um skate"; 
d) "curtir o sol tropical"; 
e) "levar sua gata pra surfar". 

3. (Universidade Estadual de Campinas - São Paulo- UNICAMP - SP) 

O texto "O FMI (Fundo Monetário Internacional) vem aí. Viva o FMI, do articulista Luiz Nassif, publicado na revista Ícaro, está redigido no português culto característico do jornalismo, e contém, inclusive, um bom número de expressões típicas da linguagem dos economistas, como "desequilíbrio conjuntural"," royalties", "produtos primários", "política cambial". No entanto, contém também termos ou expressões informais, como na seguinte frase: "Há um ou outro caso de mudanças estruturais no mundo que deixa os países com a broxa na mão".

Questões de vestibular sobre norma padrão


1. (ITA - SP) Leia com atenção a seguinte frase de um letreiro publicitário: Esta é a escola que os pais confiam. 

a) identifique a preposição exigida pelo verbo e refaça a construção, obedecendo à norma gramatical; 
b) justifique a correção. 

2. (FUVEST - SP) A frase que está de acordo com a norma escrita culta é: 

a) O colégio onde estudei foi essencial na construção de grande parte dos valores que acredito. 
b) Acho que esta acusação é uma das tantas coisas ridículas que sou obrigado a me defender. 
c) Há uma sensação que tudo, ou quase tudo, vai ser diferente. 
d) A boa escola seria a que submetesse seus alunos à maior quantidade de experimentações e pesquisas. 
e) Nós já estamos próximos de um consenso que o atual modelo está falido. 

3. (UNICAMP - SP) 

Sem comentários
Do delegado regional do Ministério da Educação no Rio, Antônio Carlos Reboredo, ao ler ontem um discurso de agradecimento ao seu chefe, o ministro Eraldo Tinoco: "Os convênios assinados traduz (sic) os esforços..." 
Folha de S.Paulo. 12 set. 1992. Painel. 

a) Que problema gramatical provocou o comentário do jornal? 
b) Explique o comentário que está sugerido, neste caso específico, pela expressão "sem comentários".

Atividade para trabalhar variedade linguística Português do Brasil e de Portugal

Compare estas duas versões de uma tira de Calvin: uma foi publicada no Brasil e a outra em Portugal. Observe a colocação pronominal.

Exercício sobre elipse


Leia o parágrafo abaixo e localize os casos de elipse. Não será difícil perceber sua funcionalidade (economia de meios) na construção do trecho: 

Por que a torrada cai de ponta-cabeça? 

Parece perseguição do azar: quando escapa da mão, um pedaço de pão ou torrada sempre aterrissa com a manteiga voltada para baixo. Mas, segundo o físico Robert Matthews, da Universidade de Aston, em Birmingham, na Inglaterra, o inevitável acidente não é obra do destino, mas resultado da ação da força de gravidade. Depois de passar dias criando e resolvendo complicadas equações, ele chegou à conclusão de que a manteiga sempre vai de encontro ao chão simplesmente porque a torrada não tem tempo, durante a queda, de se virar para cima. Quando escorrega de uma mesa de altura média (cerca de 80 centímetros), ela começa a girar no ar. Daí para a frente, o movimento segue o mesmo sentido, ao longo da queda. Para não cair de cabeça para baixo, a torrada teria de dar uma volta bem grande em torno de si mesma, ou seja, percorrer cerca de 270 graus, voltando a face amanteigada para cima. Mas, no final dos 80 centímetros da viagem, ela não tem tempo para isso. Matthews fez os cálculos e concluiu: se não quiser manchar o tapete, melhor comer sua torrada no alto de uma escada. 

(Superinteressante, ed. 97. São Paulo: Abril, out.1995.)


Questão de vestibular sobre vírgula (ITA-SP)


(ITA - SP) Leia o texto seguinte: 

Levantamento inédito com dados da Receita revela quantos são, quanto ganham e no que trabalham os ricos brasileiros que pagam impostos. [...] 
Entre os nove que ganham mais de 10 milhões por ano, há cinco empresários, dois empregados do setor privado, um que vive de rendas. O outro, quem diria, é servidor público. ("Veja", 12/7//2000.) 

a) Se houvesse a presença de vírgula no trecho em destaque, no primeiro parágrafo, isso afetaria o seu sentido? Justifique. 

b) Por que o emprego da vírgula é obrigatório no trecho em destaque, no segundo parágrafo? O que esse trecho permite inferir? 

GABARITO

a) Sim, a presença da vírgula faria com que a oração subordinada adjetiva restritiva se transformasse numa adjetiva explicativa, alterando o sentido do texto. Sem a vírgula, o sentido é de que apenas uma parcela dos brasileiros ricos paga impostos (restritiva). Já se a vírgula fosse utilizada, o sentido seria o de que todos os brasileiros ricos pagam impostos (explicativa). 

b) A expressão "quem diria" deve aparecer entre vírgulas porque indica uma fala do jornalista, um comentário pessoal dele a respeito do fato de que trata a notícia. O trecho permite inferir a ironia na fala do jornalista, que se surpreende com a informação de que servidores públicos estão entre os que ganham mais de 10 milhões por ano.

Leitura e Interpretação poema "No meio do caminho" Carlos Drummond de Andrade

Em 1928, Drummond publicou, na Revista de Antropofagia, o polêmico poema "No meio do caminho". Leia-o para responder às questões propostas. 


LEIA TAMBÉM:
Interpretação com gabarito (Maneira de amar - Drummond)

No meio do caminho 

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1999. 

a) Aponte procedimentos formais modernistas empregados no poema. 

b) Explique por que, do ponto de vista temático, o poema de Drummond é moderno. 

c) Ao comentar "No meio do caminho", o crítico Antonio Candido afirma que o texto alude a um mundo restritivo, em que a "sociedade oferece obstáculos que impedem a plenitude dos atos e dos sentimentos" (CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 121). Relacione essa ideia ao modo de composição do poema.

Ocorrência de crase em tirinha do Calvin

Leia a tira.


a) O que produz o humor do texto?
b) Explique a ocorrência de crase no segundo balão de fala.

GABARITO

a) O fato de Calvin achar que deveria ganhar presentes no Dia da Independência, associando Thomas Jefferson ao Papai Noel.

b) O substantivo direito exige preposição a, e os substantivos vida, liberdade e busca são femininos e antecedidos do artigo feminino a.