30 de outubro de 2016

Exercícios sobre Padre Antônio Vieira (Barroco)


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Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem esse título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam. 

VIEIRA. Padre Antônio. Sermão do bom ladrão. Disponível em: <http://www.dominiopublico. 

a) Vieira descreve, em seu sermão, dois tipos de ladrão. Quais são eles? 
b) Para Vieira, qual desses dois tipos de ladrão é o mais nocivo à sociedade? Como o autor justifica sua posição? 
c) O sermão de Vieira foi escrito há mais de 300 anos. Em sua opinião, a temática do sermão continua atual? 

2. A seguir, está transcrito um trecho da primeira parte do Sermão de Santo Antônio, que Vieira pregou no Maranhão, no século XVII. Leia-o para responder às questões propostas. 

Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! 
[...] Pregava Santo Antônio em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande Antônio? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas Antônio com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, Antônio pregava e eles ouviam. 
[...] Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra; Santo Antônio foi sal da terra e foi sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que, nas festas dos santos, é melhor pregar como eles, que pregar deles. [...] 
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo Antônio, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: "Senhora do mar"; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria. 

VIEIRA, Padre Antônio. Sermão de Santo Antônio. Disponível em: 
<http://www.dominiopublico.gov.br/ Fragmento. 


Poema Autopsicografia - Exercícios com gabarito (Fernando Pessoa)


Autopsicografia 
Fernando Pessoa 

O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
E os que leem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem 
Não as duas que ele teve, 
Mas só as que eles não têm. 
E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. 

(PESSOA, Fernando. Cancioneiro. In: Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1972. p 164-165.)

28 de outubro de 2016

Análise tirinha Mafalda: transitividade verbal - ambiguidade


1. Por que Mafalda desmaiou ao abrir a porta? Indique pelo menos duas hipóteses. 

2. As histórias de Mafalda foram produzidas pelo cartunista argentino Quino nas décadas de 1960 e 1970. Por que essa informação é importante para o entendimento da tira? 

3. Pode-se dizer que o humor da tira é produzido por uma ambiguidade relacionada à transitividade do verbo colocar. 

a) Linguisticamente, como essa ambiguidade se manifesta? 
b) Que recurso não verbal foi utilizado pelo cartunista para sustentar essa ambiguidade?

LEIA TAMBÉM:
Análise tirinha Hagar - Transitividade verbal
Interpretação de texto - tirinha Mafalda - meio ambiente (1ºano do ensino médio)



GABARITO

Interpretação do conto A terceira margem do rio (Guimarães Rosa)


O trecho que você vai ler é a abertura do conto "A terceira margem do rio". Quem narra a história é um homem que, ainda menino, viu seu pai partir para viver em uma pequena canoa no meio do rio. O narrador-personagem passa a vida em função dessa presença/ausência, até que finalmente decide ir ao encontro do pai. 

A terceira margem do rio 

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente - minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa. 
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta. Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: 
 "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retomou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. 
Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo - a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa. 
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. [...] 

GUIMARÃES ROSA, João. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: ova Fronteira, 2001. p. 79-80.

Atividade sobre gravidez na adolescência - interpretação de texto (9ºano)


E agora, filha? 

[...] 
Felizmente a praça estava deserta. Jana sentou num banco perto do coreto para recompor as emoções antes de chegar à academia. Esse banco, essa praça, esse céu azul de abril lhe traziam à memória outra época, quando a gravidez inesperada virou seus sonhos do avesso e encerrou precocemente sua carreira de bailarina. Tinha catorze anos apenas. Dois a mais que a idade atual da filha. Fechando os olhos, Jana quase podia ver a cigana se aproximando para ler-lhe a mão e ouvi-la fazer o vaticínio que mudaria a sua vida: 
— Menina bonita, vejo-a ocupando o centro de uma cena. Todas as atenções estão voltadas para você. 
Na hora Jana se alegrou, certa de que a mulher se referia à montagem de Romeu e Julieta, na qual sonhava fazer o papel principal. Mas a cigana fez um gesto ambíguo de quem não podia oferecer garantias e concluiu a predição com uma frase cifrada, cujo sentido só meses depois ela viria a descobrir: 
— Você é a estrela, mas uma estrela trágica. Vai viver um grande e desastrado amor... — Fez um pequeno suspense, então finalizou: — E esse amor vai dar um fruto. 
Um fruto! O fruto não se revelou ser o sucesso no palco, ou o ingresso num grupo de balé profissional, prêmio para anos de estudo e disciplina, como interpretou a princípio. O fruto era Gabi. Essa criaturinha que entrou em seus dias pela porta da frente e ocupou-os todos, exigente, meiga, inteligente, alegre, uma princesinha. Desde então só para ela tinha vivido. 
Jana saiu do torpor de seus pensamentos e olhou à volta, assustada. Bem que gostaria de ouvir de novo a cigana, para agir com acerto em relação à filha! Mas não havia mais ciganos na praça, o progresso os expulsara para longe e o coreto, sujo e descascado, era ocupado por mendigos. Nas quadras ao redor, em vez do sossego do passado, havia viadutos e altos edifícios. Como todas as cidades do interior de São Paulo, Rio Largo havia crescido muito. 
Para chegar à academia de dona Marly agora era preciso atravessar uma avenida de pista dupla. Jana consultou o relógio e pôs-se a caminho. A aula de Gabi estava no fim e queria surpreendê-la na saída. Isto é, se Gabi estivesse na aula, e não na garupa de uma moto, como a mãe dela fazia treze anos antes, driblando a vigilância dos avós para passear no campo com Ivan, seu pai. Por um instante Jana teve a impressão de vê-lo como uma miragem. Não o Ivan de hoje, respeitável senhor na faixa dos trinta anos, grisalho, casado e pai de outros dois filhos, mas seu amor adolescente, com os cabelos revoltos pelo vento da moto, despedindo-se dela com um beijo nessa mesma esquina. 
"Como o tempo passa voando!", pensou Jana, surpreendida, porém sem amargura. Enquanto andava, as cenas desses anos lhe vinham em flashes, como num filme. O abandono de Ivan, o estupor inicial, a decisão de ter o bebê sozinha. A discriminação que sofreu por ser mãe aos quinze anos, a gravidez solitária, o afastamento dos amigos. O desgosto do pai, sua vergonha, seu mutismo. A ajuda da mãe e de Lurdes, a solidariedade da tia Lígia. Perdera anos de estudo e só se formou na faculdade graças à tia, que lhe pagou o curso e a manteve na casa dela em São Paulo, na fase mais dura de sua vida. 
Foram muitas viagens a Rio Largo, vinha ver a filha todos os finais de semana, quatrocentos quilômetros de ônibus, exausta de estudar à noite e, de dia, lecionar inglês. Mas tudo isso eram águas passadas, o esforço tinha valido a pena. Há quatro anos Jana vivia com Gabi num apartamento só delas, como sempre quis. Desistiu de montá-lo em São Paulo, sua ideia inicial, pois a menina nessa altura já estava habituada a Rio Largo, a vida na capital com uma criança não era fácil e, sobretudo, surgiu-lhe a chance de um emprego numa grande empresa da região. 
Graças ao seu inglês perfeito, Jana trabalhava como secretária de diretoria e podia pagar as prestações do apartamento, cuja entrada fora presente do pai e da tia Lígia. 
Tudo estava bem, enfim. E se o sonho de dançar foi esquecido, parecia que Gabriela ia realiza-lo em seu lugar. Tão talentosa quanto a mãe na idade dela, a menina iniciou os estudos pequenina, e por iniciativa própria. Foi Gabi quem pediu à avó para colocá-la na academia de dona Marly, tradicional escola de balé de Rio Largo. Jana ficou inchada de orgulho na primeira vez em que viu a filha dançar. Era uma apresentação do baby class, Gabi tinha seis anos, e ela não pôde controlar as lágrimas. 
— Não chora, mãe! — A menina passou os bracinhos à volta do pescoço dela, dengosa. —Você não quer que eu seja bailarina como você era? Eu vi a tia Talita dançar no teatro e quando crescer quero ser igual a ela. 
Jana se emocionou ainda mais. Talita, sua melhor amiga, a única a não lhe virar as costas quando ficou grávida... Talita a substituiu em Romeu e Julieta - com o barrigão de sete meses era impossível dançar - e acabou chegando onde Jana queria: era bailarina profissional. Quando Gabi tinha quatro anos, levou-a ao Municipal de São Paulo para ver uma apresentação de Talita. Gabi ficara maravilhada. 
— Quando você crescer poderá ser o que quiser — disse Jana na época. — Mas, se for bailarina, não nego que vou adorar! [...] 

VIEIRA, Isabel. E agora,filha? São Paulo: Moderna, 2003. p. 13-17. (Fragmento.)

Exercícios sobre A hora da estrela com gabarito


ATIVIDADE PRONTA EM PDF PARA BAIXAR E SALVAR

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(interpretação de texto)

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**Gabarito no final**

A hora da estrela 
[...] Sei que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom jantar em vez de um sanduíche de mortadela. Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Aliás - descubro eu agora - também eu não faço a menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas. 
Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será que existe? 

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 19-20

GLOSSÁRIO
inócuo: que não faz dano; inocente, inofensivo. 
piegas: ridículo; exageradamente sentimental; que se embaraça por pouca coisa. 
cortiço: habitação coletiva das classes pobres; favela. 
estafa: exaustão; cansaço, canseira, fadiga; trabalho fatigante; esforço. 

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. Releia algumas palavras e expressões que descrevem a personagem: "mal tem corpo"; "virgem"; "inócua"; "não faz falta a ninguém"; "ninguém a quer". O que essas palavras e expressões revelam a respeito da personagem? 

2. Qual das alternativas não se refere ao trecho que você leu? Justifique sua resposta.
a) Apresenta a voz do narrador sobre o processo de escrever: metalinguagem. 
b) O narrador antecipa o sofrimento que a personagem Macabéa vai viver. 
c) O narrador não se identifica com Macabéa.
d) Macabéa é um símbolo das mulheres anônimas, tratadas como "coisas/objetos"; sem consciência de sua situação. 
e) narrador refuta uma narradora do gênero feminino por atribuir às mulheres uma visão romântica da realidade. 

3. Releia o trecho a seguir e explique-o. 
"[...] Sei que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom jantar em vez de um sanduíche de mortadela." 

4. Leia um outro trecho de A hora da estrela:

25 de outubro de 2016

Atividade de leitura e interpretação de texto 8ºano - O leão, a feiticeira e o guarda-roupa


Esta história se passa em Nárnia, uma terra fantástica. Os heróis são cavaleiros que, com o leão Aslam, rei de Nárnia, combatem uma poderosa feiticeira.

ATIVIDADE PRONTA PARA BAIXAR E SALVAR

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O leão, a feiticeira e o guarda-roupa 

[...] 
Aslam bateu as patas e pediu silêncio. 
— A nossa tarefa do dia ainda não acabou, e quisermos derrotar para sempre a feiticeira antes de anoitecer, teremos de encontrar já, já, o campo da batalha. 
 E espero poder travá-la, senhor!  falou o centauro-maior. 
— Evidente! - concordou Aslam.  Avante! Os que não podem acompanhar a marcha (crianças, anões e bichos menores) vão as costas dos outros (leões, centauros, unicórnios, cavalos, gigantes e águias). Nós, os leões, vamos na vanguarda, e os que têm o faro apurado vão conosco, ajudando a localizar o campo de batalha. Depressa, todos a postos! [...] 
Quando estavam todos prontos (foi um grande cão de guarda que ajudou o Rei a colocá-los em forma), saíram pela abertura feita na muralha. 
A princípio, os leões e os cães iam farejando em todas as direções, até que de repente um cão encontrou um rasto e soltou um latido. Não perderam mais tempo. Cães, leões, lobos e outros animais partiram a toda a velocidade, de nariz no chão, enquanto os outros, coitados, em fila quilométrica, iam seguindo como podiam. 
O barulho lembrava uma caça à raposa, só que era muito maior. Rugia o leão e, mais aterrador, rugia Aslam. A velocidade aumentava à medida que o rasto se acentuava. Ao chegarem à última curva, num vale estreito e sinuoso, Lúcia ouviu um ruído que dominava todos os outros: um ruído que a fez estremecer por dentro. Eram gritos e uivos e o choque de metal contra metal. 
Ao saírem do vale, viu logo do que se tratava. Pedro, Edmundo e todo o resto do exército de Aslam lutavam desesperadamente contra uma imundície de gente, seres hediondos como os da véspera. À luz do dia, eram ainda mais estranhos, mais malignos e monstruosos. E pareciam mais numerosos. 
O exército de Pedro - de costas para ela - parecia uma brincadeira. E havia estátuas espalhadas por todo o campo de batalha: a feiticeira certamente usara sua varinha [que transformara as pessoas em estátuas de pedra]. Mas agora ela lutava com o grande facão de pedra. E era com Pedro que lutava, os dois com tal fúria que Lúcia mal conseguia ver o que se passava. Só via o facão e á espada cruzarem-se com grande rapidez como se fossem três facões e três espadas. Os dois estavam no meio exato do campo de batalha. De um lado e outro, as fileiras dos combatentes. Não havia lugar onde os olhos não vissem coisas de arrepiar. 
 Desçam do "cavalo", meninas!  gritou Aslam. 
Com um rugido que fez tremer a terra de Nárnia, do lampião às praias do Mar Oriental, o gigantesco bicho atirou-se à feiticeira. Lúcia viu, por um instante, a feiticeira fitando o Leão, cheia de medo. E logo a seguir os dois rolaram pelo chão. Ao mesmo tempo, os animais guerreiros (libertados por Aslam) caíram como loucos sobre o inimigo. Os anões lutavam com machados; os cães, com os dentes; Rumbacatamau, com o seu enorme cajado (sem falar nos pés, que esmagavam dezenas de inimigos); os unicórnios, com os chifres; os centauros, com as espadas e os cascos. O exausto exército de Pedro exultou com o reforço. Os inimigos guincharam. E foi um estrépito no bosque. 
[...] 
Alguns minutos depois, a batalha terminava. A maior parte do inimigo fora destroçada por Aslam e seus companheiros. Os outros, vendo a feiticeira morta, renderam-se ou fugiram em debandada. Lúcia viu, então, Pedro e Aslam apertarem-se as mãos. Inacreditável o ar que Pedro tinha agora: face pálida e grave, um ar muito mais velho. 
 Foi tudo obra de Edmundo, Aslam!  disse Pedro. Se não fosse ele, estávamos derrotados. A feiticeira ia petrificando as nossas tropas. Nada havia que a detivesse. [...] Ele teve o bom senso de arrebentar a vara mágica com a espada, em vez de atacar diretamente a feiticeira [...]. Edmundo está muito ferido. Vamos procurá-lo. 
Encontraram Edmundo num lugar um pouco afastado da linha de combate, entregue aos cuidados da Sra. Castor. Estava coberto de sangue, de boca aberta, e verde, verde. 
 Depressa, Lúcia!  gritou Aslam. 
Só então, pela primeira vez, Lúcia se lembrou do licor precioso que recebera de presente de Natal. Suas mãos tremiam tanto que mal conseguiu abrir o vidrinho. Tirou a rolha e deixou cair umas gotas nos lábios do irmão. 
 Há outros feridos - disse Aslam, enquanto ela continuava com os olhos ansiosamente cravados no rosto pálido de Edmundo, muito desconfiada do efeito do licor. 
 Sei disso - respondeu Lúcia, impaciente.    Daqui a um pouquinho eu vou. 
— Filha de Eva - disse Aslam, a voz mais severa.   Tem gente morrendo. Quer que morram por causa de Edmundo?! 
 Desculpe, Aslam. 
Durante meia hora, os dois não tiveram mãos a medir; ela tratava dos feridos, ele restituía a vida aos mortos, isto é, às estátuas. 
Edmundo, quando Lúcia pôde voltar até ele, estava de pé, não só curado dos ferimentos, mas com uma aparência muito melhor do que antes. Com uma aparência melhor até do que no tempo em que entrou para a escola e começou a seguir pelo mau caminho. Agora, não. Já podia olhar as pessoas de frente. Por isso mesmo, foi armado cavaleiro, em pleno campo de batalha. 
[...] 

LEWIS, C. S. O leão, a feiticeira e o guarda-roupa. As crônicas de Nárnia. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

23 de outubro de 2016

Interpretação de texto Lygia Fagundes Telles - O direito de não amar


O direito de não amar 

Se o homem destrói aquilo que mais ama, como afirmava Oscar Wilde, a vontade de destruição se aguça demais quando aquilo está amando um outro. O egoísmo, sem dúvida o traço mais poderoso de qualquer sexo, transborda então intenso e borbulhante como água em pia entupida, artérias e canos congestionados na explosão aguda: "Nem comigo nem com ninguém!" Deste raciocínio para o tiro, veneno ou faca, vai um fio. 
A segunda porta foi a que escolheu aquele meu colega de Academia quando descobriu que a pior das vinganças é não matar mas deixar o objeto amado viver, viver à vontade, "pois que ela viva!"- decidiu ele na sua fúria vingativa. 
Amou-a perdidamente. Acho que nunca vi ninguém amar tanto assim, talvez com a mesma intensidade com que ela amava o primo, disse isso mesmo numa hora de impaciência, estou apaixonada por outro, quer ter a bondade de desaparecer da minha frente? Mas o meu colega (vinte anos?) acreditava na luta e como ele lutou, meu Deus, como ele lutou! Tentou conquistá-la com presentes, era rico. Depois, com intermináveis poemas de amor, era poeta. Na fase final, no auge da cólera - era violento - começou com as ameaças. Ela guardou os presentes, rasgou os poemas, fez a queixa a um tio que era delegado da seção de homicídios e foi cair nos braços do primo sem o recurso das rimas e dos diamantes mas que conseguia fazê-la palpitar mais branca e perfumada do que a açucena do campo. 
Meu colega dava murros nas paredes, nos móveis. Puxava os cabelos, "ela não tem o direito de me fazer isso!". Com a débil voz da razão, tentei dizer-lhe que ela bem que tinha esse direito de amar ou não amar, vê se entende essa coisa tão simples! Mas ele era só ilogicidade e desordem: "Vou lá, dou-lhe um tiro no peito e me mato em seguida!" - jurou. Mas a tantos repetiu esse juramento que fiquei mais tranquilizada, com a esperança de que a energia canalizada para o ato acabaria se exaurindo nas palavras. 
O que aconteceu. Uma noite me procurou todo penteado, todo contido, com um sorrisinho no canto da boca, sorriso meio sinistro, mas lúcido: "Achei uma solução melhor", foi logo dizendo. "Vou ficar 
quieto, que se case com esse tipo, ótimo que se casem depressa porque é nesse casamento que está minha vingança. No casamento e no tempo. Se nenhum casamento dá certo, por que o deles vai dar? Vai ser infeliz à beça! Pobre, com um filho debiloide, já andei investigando tudo, ele tem retardados na família, ih! o quanto ela vai se arrepender, por que não me casei com o outro? Vai ficar gorda, tem propensão para engordar e eu estarei jovem e lépido porque sou esportista e rico, vou me conservar, mas ela, velha, obesa, Ô delícia!" 
Há ainda uma terceira porta, saída de emergência para os desiludidos do amor, não, nada de matar o objeto da paixão ou esperar com o pensamento negro de ódio que ela vire uma megera jogando moscas na sopa do marido hemiplégico, mas renunciar. Simplesmente renunciar com o coração limpo de mágoa ou rancor, tão limpo que em meio do maior abandono (difícil, hem!) ainda tenha forças para se voltar na direção da amada como um girassol na despedida do crepúsculo. E desejar que ao menos ela seja feliz. 
Lygia Fagundes Telles. In A disciplina do amor. 
© by Lygia Fagundes Telles. Rio de Janeiro: Rocco.

Exercícios sobre orações subordinadas adjetivas explicativas e restritivas


1. Baseando-se na semântica, identifique, nos pares de períodos apresentados a seguir, em qual deles a oração adjetiva é explicativa e em qual período a oração adjetiva é restritiva. Em seguida, transcreva o período em que a oração deve ser isolada por vírgulas. 

a) O gato que foi domesticado há mais de cinco mil anos sempre teve a função de controlar as populações de ratos.
O gato que deram de presente para a criança infelizmente fugiu.

b) O romance que ganhou o prêmio literário trata da vida de um sul-africano. 
O romance que é um gênero literário em prosa se desenvolveu especialmente no século XIX. 

c) Falharam os computadores que controlam o sistema de vigilância da empresa. 
Os computadores que processam rapidamente informações prestam auxílio em inúmeras tarefas. 

d) A torre Eiffel que atrai muitos turistas foi construída em 1900. 
As cidades que atraem muitos turistas têm um setor hoteleiro mais desenvolvido que as demais. 

e) O café que se consagrou como produto brasileiro é comercializado mundialmente. 
O café que foi servido aos participantes do concurso era de origem colombiana. 

2. No trecho que segue, do conto do autor português Jorge de Sena, aparece uma oração adjetiva que, seguindo estritamente a variedade padrão, deveria ser isolada por vírgula. 

Certa manhã, quando me levantei, havia na cozinha um movimento desusado, gritos, uma atmosfera de pânico. Provavelmente, essa atmosfera despertara-me. Fui ver. O Papagaio Verde estava solto! Passeando para cá e para lá no chão, arrastando uma ponta de corrente, o Papagaio proibia que a porta da varanda se abrisse [...]. Eu queria passar para fora, minha mãe que acudira ao tumulto segurava-me, o Papagaio berrava. 

Jorge de Sena. Homenagem ao papagaio verde. In Os Grão-Capitiães.

21 de outubro de 2016

Exercícios sobre sujeito para 8ºano


Atividades prontas para baixar e salvar


Leia o texto a seguir para responder às questões: 

O cão e o osso mostram como se contentar com o que se tem 

Era uma vez um cão muito satisfeito porque carregava um osso. Passando por uma ponte, olhou para baixo e viu sua própria imagem refletida na água. Pensando que sua imagem fosse outro cão com um osso na boca, começou a latir. Mal abriu a boca... e o osso caiu na água. O cão, por desejar o osso do outro, acabou ficando sem nada. 

Fábula de Esopo. Texto em domínio público.

1. Qual é o sujeito da oração que compõe o título do texto? 

2. Esse sujeito é simples ou composto? Por quê? 

3. Explique com suas palavras o último período do texto e, em seguida, classifique o sujeito como simples ou composto. 

4. Retire do texto um período em que o núcleo do sujeito não aparece. 

Observe este período e responda às questões:

Felipe, o mais baixinho da turma, ganhou o primeiro lugar nos jogos olímpicos da escola, por isso fizeram uma festa para ele.

5. Quantas orações há nesse período?

6. Classifique e identifique o núcleo do sujeito da primeira oração.

7. É possível identificar o sujeito da segunda oração?

8. Leia o trecho da crônica abaixo:

20 de outubro de 2016

Atividade sobre artigo definido e indefinido: análise tirinha Maitena (ensino médio)

As coisas que os filhos nos pedem ao longo de sua vida



a) Nas quatro primeiras cenas, a autora usa artigos indefinidos - "um cachorro", "um irmãozinho", "um quarto" e "uma moto". Que efeito de sentido esse uso provoca? 

b) Na quinta cena, o uso do artigo definido - "as chaves" - sinaliza uma ruptura com os "pedidos" apresentados nos quadrinhos anteriores. Como a opção pelo uso do artigo definido contribui para marcar essa ruptura? 

c) Por que, na última cena, o substantivo "paciência" não vem antecedido por artigo? 

d) Por que, na última cena, os pais demonstram perplexidade diante das "novidades" anunciadas pelo 
filho? 


Gabarito

a) O uso repetido dos artigos indefinidos remete à ideia de que os filhos, ao longo da vida, estão sempre pedindo alguma (qualquer) coisa, não importa o quê. 

b) Ao usar o artigo definido diante do substantivo "chaves", a autora transmite a ideia de que não se trata de mais um pedido como outro qualquer, mas um pedido especial - as chaves de casa - o que marca um novo estatuto para a existência do filho. Nesse sentido, a opção pelo artigo definido enfatiza a ruptura social de que trata o texto. 

c) Por não vir determinado, o substantivo "paciência" adquire um caráter mais geral. Assim, os pais necessitariam ter paciência ao longo de toda a vida dos filhos, diante de todos os pedidos que eles lhes fazem. 

d) Porque o jovem diz que largou a faculdade e decidiu ser baterista. De modo geral, essas atitudes (de se afastar dos estudos formais e entrar para o universo da música) desagradam aos pais, que veem desfeitos seus próprios planos para os filhos. Professor, comente com os alunos que a tira reproduz um estereótipo do filho" rebelde" ou "desajuizado". 

Carlos Drummond de Andrade no Enem


(Enem) Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas palavras comuns: cão e cheirando

Um cão cheirando o futuro 

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. Adaptação.) 

O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi 

a) o modo raro como foi tratado o "futuro". 
b) a referência ao cão como "animal de estimação". 
c) a flexão pouco comum do verbo" cheirar" (gerúndio). 
d) a aproximação não usual do agente citado e a ação de "cheirar". 
e) o emprego do artigo indefinido "um" e do artigo definido "o" na mesma frase. 


Gabarito: alternativa a: o modo raro como foi tratado o "futuro".

Atividades de português para Saresp (9ºano)


Leia o texto para responder à questão 1 

 PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
HTTP://WWW.SAOPAULO.SP.GOV.BR/CONHECASP/CUlTURASP
TURISMO>>> CULTURA >>>MÚSICA

As opções culturais no Estado de São Paulo, em especial na capital, são inúmeras e atendem a todos os gostos e bolsos. Há desde exposições e espetáculos ao ar livre, até museus de renome internacional, e teatros que abrigam eventos de enorme sofisticação.
São Paulo acolhe durante todo o ano as melhores e mais diversificadas programações culturais, como as mais respeitadas orquestras, óperas, balés, exposições e espetáculos de todo o mundo. A Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado -, considerada referência na América Latina, é uma das principais atrações da cidade.
Se você aprecia arte e cultura, venha visitar São Paulo!

(Turismo. Cultura. Música. Disponível em: http://www.saopaulosp.gov.br/conhecasp/culturas>. Acesso: 17.11..2012. Adaptado)

Na última frase do texto, a expressão verbal venha visitar, em destaque, é dirigida ao

(A) turista que gosta de arte e cultura.
(B) governador do Estado de São Paulo.
(C) trabalhador que busca emprego em São Paulo.
(D) artista que deseja se apresentar em São Paulo.

Leia atentamente o quadro abaixo para responder à questão número 2.

18 de outubro de 2016

Exercícios sobre verbos irregulares para ensino médio

1. Observe esta tira, em que a personagem Hugo conversa com a atendente da videolocadora.


a) Explique qual é a situação retratada na tira.

b) Há no texto três verbos irregulares. Escolha um deles e demonstre onde reside sua irregularidade. Aponte outro verbo de uso cotidiano que tem o mesmo tipo de irregularidade. 

Gabarito

a) O cliente tenta dar uma "cantada" na atendente da videolocadora, narrando o suposto enredo de um filme no qual eles se envolveriam. Ela, no entanto, se esquiva alterando o rumo da narrativa proposta por ele. 

b) Os verbos irregulares são saber, ter e fazer. Professor: A demonstração é resposta pessoal do aluno. Peça a ele que conjugue o verbo escolhido de diversas maneiras para verificar se a irregularidade está em seu radical ou na desinência. 

Atividade com interpretação de conto para 6ºano - Conto de todas as cores (Mário Quintana)


Leia o texto abaixo com atenção. 

Conto de todas as cores 

Eu já escrevi um conto azul, vários até. Mas este agora é um conto de todas as cores. Sim, porque era uma vez uma menina verde, um menino azul, um negrinho dourado e um cachorro com todos os tons e entretons do arco-íris. 
Até que, devidamente nomeada pelo Senhor Prefeito, veio ao seu encontro uma Comissão de Doutores - todos eles de preto, todos eles de barbas, todos eles de óculos. E, por mais que cheirassem e esfregassem os nossos quatro amigos, viram que não adiantava nada e puseram-se gravemente a discutir se aquilo poderia ser de nascença ou... 
 Mas nós não nascemos   interrompeu o cachorro.  Nós fomos inventados.

QUINTANA Mário. Conto de todas as cores. In: Lili inventa o mundo. São Paulo: Global Editora. © by Elena Quintana. 


a) Há elementos sobrenaturais no texto Conto de todas as cores? Justifique. 
b) É possível dizer que, no mundo da fantasia, tudo é possível? Por quê? 
c) As histórias imitam a vida ou expressam desejos mais profundos. Se você fosse um escritor ou inventor e tivesse o poder de criar, o que criaria para deixar o mundo mais feliz? Justifique sua resposta. 

GABARITO

a) Sim, pois não existem meninos azuis e dourados, meninas verdes e cachorros com todas as cores do arco-íris. Além disso, há um cachorro que fala. 
b) Sim, pois, de acordo com o conto, as coisas podem ser inventadas e a imaginação pode criar objetos e situações extraordinários. 
c) Resposta pessoal.

16 de outubro de 2016

Exercícios sobre próclise, ênclise e mesóclise


1. Identifique as colocações pronominais abaixo:

a) Já não lhe restava muito cabelo... 
b) Gonçalo olhou-o perturbado.
c) Não, ninguém se lembra de Marisa. 
d) A Gonçalo, todavia, bastava fechar os olhos para voltar a vê-la. 
e) ...com um alheamento pelas coisas do mundo que a fazia parecer imaterial. 
f) Subirá pela escada cheirando a mofo e encontrá-la-á mais linda do que nunca. 
g) Se pudesse, dir-lhe-ia as palavras guardadas que não disse antes.
h) Apetecia ao mesmo tempo protegê-la e ultrajá-la.

2. Observando os usos acima, diga a qual dessas colocações se referem os itens que seguem. 

a) As normas urbanas de prestígio recomendam seu emprego no início de frases. 
Coloquialmente, não costuma ser empregada. 
É a colocação natural do pronome como complemento. 
Não ocorre com particípios, nem com o futuro do presente e o futuro do pretérito do indicativo. 
É a colocação mais usada com os infinitivos.

b) Só pode ser usada com o futuro do presente e com o futuro do pretérito do indicativo. 
Coloquialmente não se usa no Brasil. 

c) Costuma ocorrer na presença de pronomes relativos, pronomes interrogativos e conjunções subordinativas. 
As negações também são determinantes para a sua ocorrência. 


GABARITO

Interpretação de texto sobre integridade para 8ºano - A parábola da pereba


A parábola da pereba 

Numa pequena cidade do Nordeste, havia um médico que tratava a pereba do coronel da região, homem muito rico e poderoso, mas que se recusava a sair do seu território para buscar cuidados médicos numa cidade maior. O coronel, desde rapaz, tinha uma pereba crônica. Experimentara tudo, de pó de café a mastruço, mas nada dava jeito e, de vez em quando, aquilo doía que era um horror. Foi quando chamaram o médico e, em poucos dias, a pereba melhorou. Mas nunca sarava de todo, precisava sempre da atenção do médico que, com todo desvelo, passava dias na fazenda, cuidando dele até que a crise fosse controlada. 
E assim se sucederam os anos, o médico sempre tratando a pereba e o coronel, gratíssimo. Mas um dia o médico teve que viajar para resolver uns problemas em outro estado e demorou mais do que previra. Em sua ausência, recém-formado também em medicina, seu filho resolveu aparecer para rever os pais e a terra natal. Nessa ocasião, a pereba do coronel entrou em crise outra vez e, na falta do pai, o rapaz foi cuidar do caso. Dentro de menos de um mês, para surpresa geral, a pereba estava cicatrizada, curada definitivamente. 
Quando o pai voltou, o jovem, muito orgulhoso, contou a novidade. Usara uns antibióticos e uma pomada, e a pereba do coronel sarara de vez, um sucesso. Sempre ouvira o pai falar em como aquela pereba era renitente, como resistia a tudo e lhe apoquentava a vida, mas, agora, um tratamento talvez mais moderno resolvera o problema. 
 Céus... Que é que você está me dizendo, meu filho? 
 Isso que o senhor ouviu. A pereba do coronel sarou. 
— Mas como é que você foi fazer uma desgraça dessas, você está maluco? 
 Como desgraça? Eu pensei... 
 Como é que você acha que eu sustentei a família aqui e você na faculdade, esses anos todos? O que é que eu vou fazer sem essa pereba agora? 

RIBEIRO, João Ubaldo. A pereba do coronel. Texto adaptado por João Ubaldo Ribeiro.

15 de outubro de 2016

Interpretação de fábula para 7ºano - Quem tem razão? A lebre ou o leão? (assembleia e debate)



**Gabarito no final da página**

Quem tem razão? A lebre ou o leão? 

Naquela floresta calma e tranquila alguma coisa diferente estava acontecendo. Ouvia-se o som de vozes numa conversa animada como se fosse uma boa discussão. 
— Eu não concordo com o título de que o leão é o rei dos animais – reclamava a lebre, muito nervosa. 
Isso me deixa muito contrariada porque, afinal, ele já leva a fama há tanto tempo e nunca mais alguém propôs uma discussão sobre o assunto. Que tal convocarmos uma assembleia? – propôs a danada aos outros animais. — Seria uma ótima oportunidade de encontrarmos os colegas e discutirmos o assunto. 
— Mas... assembleia? – disse o macaco. — Eu nem sei o que é isso. 
— É uma reunião onde todos os participantes falam e expressam suas ideias de uma maneira organizada e bem educada, isto é, sem ofensas e brigas – explicou a lebre. 
— Tudo bem - concordaram os demais — mas quando? 
— Talvez depois de amanhã, para que haja tempo de avisarmos todos os animais – concluiu a lebre. 
— Ok, está combinado: sábado, embaixo da mangueira e neste mesmo horário, ao nascer do sol — responderam os elefantes. 
—  Até lá, meus amigos! - continuou a lebre, agora mais satisfeita. 
O burburinho era geral, pois, embora o macaco, o tatu, a cotia, a zebra e o papagaio e muitos outros animais tivessem gostado da ideia, eles ainda não sabiam muito bem o que iria acontecer. 
Mesmo assim os convites prosseguiram. Era tatu avisando minhoca e papagaio na casa da arara, todos ajudando a lebre a organizar a tal assembleia. E a cada convite surgia novamente a dúvida. Mas o que será que vamos discutir? Eles não conseguiam saber o que a lebre iria dizer ao leão. 
Bem, chegando o dia e a hora, todos estavam curiosos e agitados. 
Para dar início à reunião, a lebre, como é pequenininha, pediu ajuda à girafa para poder explicar sua proposta lá do alto. 
— Eu, lebre da floresta, tenho uma proposta para vocês. Gostaria de discutir o título dado ao leão como "Rei dos Animais". Este título já foi dado a ele há muito tempo e precisamos voltar a discuti-lo, afinal, os tempos mudaram. Vocês concordam com a minha ideia? 
Os animais se olharam e mesmo meio apavorados demonstraram concordar balançando afirmativamente as cabeças. 
Assim que os animais se manifestaram, o leão soltou um rugido daqueles tão fortes que mais da metade da bicharada saiu correndo de medo. Os outros animais ficaram olhando surpresos para a lebre, esperando o que ela iria dizer. Ela não teve dúvidas. 
— Sr. Leão, o senhor acha mesmo que com esse rugido vai assustar todo mundo e continuar a ser o rei? Pois então vamos lá! 
Chamou de volta todos os animais que tinham fugido e garantiu a eles que ficassem sossegados, pois a conversa estava apenas começando. 
— Já que o senhor tem uma voz tão forte, por que não promovemos um concurso de canto? Quem se candidata? - continuou a lebre. 
Imediatamente um pássaro se apresentou e iniciou a cantoria. Os animais da plateia não paravam de elogiá-lo. Foi um sucesso! 
— Agora é a sua vez, Sr. Leão. 
Ele rugiu tão alto e desafinado como se fosse um disco riscado tocando no máximo volume. Desta vez a plateia não gostou, mas ficou imóvel de medo. 
— Então, meus amigos - disse a lebre - se o rei dos animais fosse escolhido pelo canto, segundo as reações de vocês, o pássaro seria o vencedor. 
— Apoiada, Sra. Lebre – disseram os animais, agora mais satisfeitos e tranquilos. 
— Então vamos a outra prova: 
"Tamanho não é documento" – propôs a organizadora. 
— Essa eu não tenho dúvida de que vencerei – falou o leão. - Quem me enfrentará? Mesmo que seja um elefante grandão e pesado, eu o derrubo em um só golpe, vamos ver. 
— Espere, Sr. Leão – disse a lebre. 
E, para espanto de todos, a lebre convidou uma formiga para participar da prova. Vocês têm ideia do que aconteceu? 
A formiguinha subiu na juba do leão e começou a passear tão de levinho que ele sentiu cócegas e se "derreteu" todo, chegando a deitar-se no chão para curtir o carinho da formiguinha. 
— E, então, Sr. Leão, vamos continuar? 
— Acho que já entendi sua ideia, Sra. Lebre. A senhora quis mostrar aos animais dessa floresta que não devemos achar que somos os melhores em tudo, porque isso não existe. Cada um pode ser bom em alguma coisa, depende do ponto de vista. Certo? – disse o leão. 
Os animais ficaram surpresos e contentes com a fala do leão. Acharam que a lebre foi muito esperta nessa assembleia. 
— Mas, Sra. Lebre, só para terminar eu gostaria de lhe fazer uma perguntinha. 
— Pois não, Sr. Leão. 
— Como é mesmo aquela história da corrida entre a lebre e a tartaruga? 

MARTINS, Valdenise do as cimento. A compreensão da leitura de fábulas. O professor e os desafios da escola pública paranaense. Produção didático-pedagógica.

Questões comentadas sobre Capitães da Areia


**Gabarito no final da página**

1 - (FUVEST 2011) Considere a seguinte afirmação:

Ambas as obras criticam a sociedade, mas apenas a segunda milita pela subversão da hierarquia social nela representada. Observada a sequência, essa afirmação aplica-se a:

a) A cidade e as serras e Capitães da areia.
b) Vidas secas e Memórias de um sargento de milícias.
c) O cortiço e Iracema.
d) Auto da barca do inferno e A cidade e as serras.
e) Iracema e Memórias de um sargento de milícias.

2 - (FUVEST 2010) Leia o trecho a seguir:

Inimigo da riqueza e do trabalho, amigo das festas, da música, do corpo das cabrochas. Malandro. Armador de fuzuês. Jogador de capoeira navalhista, ladrão quando se fizer preciso.
(Jorge Amado, Capitães de areia)

O tipo cujo perfil se traça, em linhas gerais, neste excerto, aparece em romances como Memórias de um sargento de milícias, O cortiço, além de Capitães de areia. Essa recorrência indica que:

a) certas estruturas e tipos sociais originários do período colonial foram repostos durante muito tempo, nos processos de transformação da sociedade brasileira. 
b) o atraso relativo das regiões Norte e Nordeste atraiu para elas a migração de tipos sociais que o progresso expulsara do Sul/Sudeste.
c) os romancistas brasileiros, embora críticos da sociedade, militaram com patriotismo na defesa de nossas personagens mais típicas e mais queridas.
d) certas ideologias exóticas influenciaram negativamente os romancistas brasileiros, fazendo-os representar, em suas obras, tipos sociais já extintos quando elas foram escritas.
e) a criança abandonada, personagem central dos três livros, torna-se, na idade adulta, um elemento nocivo à sociedade dos homens de bem.


3 - (FUVEST 2010) Por caminhos diferentes, tanto Pedro Bala (de Capitães de areia, de Jorge Amado) quanto o operário (do conhecido poema “O operário em construção”, de Vinícius de Moraes) passam por processos de “aquisição de uma consciência política” (expressão do próprio Vinícius). O contexto dessas obras indica também que essa conscientização leva ambos à:

14 de outubro de 2016

Exercícios sobre sujeito e predicado para concursos (preparatório)

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**Gabarito no final**

I. Separe sujeito e predicado destas orações, indicando se o sujeito é simples ou composto (com os respectivos núcleos), elíptico, indeterminado ou inexistente: 

1. Era ao anoitecer. 
2. Não me deixes. 
3. Notou-se a presença de gente estranha. 
4. "Tu e os outros velhacos da tua laia lhe estorroaram na cara lixo e terra." (Herculano.) 
5. Era uma vez um rei e seu filho. 
6. Quebraram as vidraças. 
7. Quebrou-se a vidraça. 
8. Quebraram-se as vidraças. 
9. "Há uma gota de sangue em cada poema." (Mário de Andrade.) 
10. Devagar se vai ao longe. 
11. Está fazendo um calor insuportável. 
12. Cai chuva do céu cinzento. 
13. Chove no meu coração. 
14. Terrível palavra é um não. 
15. Foram construídos belos edifícios em Brasília. 
16. Construíram-se muitos edifícios em Brasília. 
17. Construiu-se muito em Brasília. 
18. Admira-se a Bernardes. 
19. Só comigo acontecem dessas coisas. 
20. "Nunca me esqueceu esse fenômeno." (M. de Assis, BC, 39.) 


II. Indique se o predicado destas orações é nominal, verbal, ou verbo-nominal, salientando o seu núcleo ou núcleos e a predicação dos verbos: 

9 de outubro de 2016

Atividade sobre adjetivo e substantivo para 7ºano



Longa história curta 

Numa estrada estreita e escura, havia uma casa de porta larga e clara. Ali morava uma velha magra e pálida, com sua filha bonita e corada. 
Um dia, a velha magra e pálida e a filha bonita e corada atrelaram seu burro preto e velho numa carroça branca e nova, fecharam a porta larga e clara, pegaram a estrada estreita e escura e foram para uma cidade grande e sossegada, onde havia uma feira pequena, mas movimentada. 
Ali chegando, a velha magra e pálida e sua filha bonita e corada desceram da carroça branca e nova e amarraram o burro preto e velho num poste fino e comprido com uma corda grossa e curta. Depois, a velha magra e pálida e sua filha bonita e corada foram comprar frutas belas e cheirosas de um feirante feio e fedido. Pegaram sua sacola grande e cheia, porém a carteira, pequena, estava vazia. Então a velha magra e pálida e sua filha bonita e corada puseram às costas o saco com as frutas belas e cheirosas e fugiram do feirante feio e fedido. 
Mas, quando a velha magra e pálida e sua filha bonita e corada chegaram à carroça branca e nova, viram que o burro preto e velho, mal amarrado ao poste fino e comprido com a corda grossa e curta, havia escapulido. 
Então correram todos: o fedido e feio feirante atrás das cheirosas e belas frutas, atrás da pálida e magra velha e da corada e bonita filha, atrás da nova e branca carroça, atrás do velho e preto burro até chegarem à larga e clara porta da casa da escura e estreita estrada para acabar esta longa história curta. 

8 de outubro de 2016

Atividade com tirinha para 9º ano (ironia)

1. Leia a tirinha de Suriá.


A ironia na tirinha se deve ao fato de: 
a) a plateia bater palmas para que o urso Kurtz toque novamente. 
b) as pessoas saberem que Kurtz é o urso tocador de tuba mais aplaudido do mundo. 
c) Kurtz ser o urso tocador de tuba mais aplaudido do mundo porque toca mal. 
d) um urso tocar tuba e ser o mais aplaudido do mundo. 

2. O que o leitor precisa levar em consideração para responder à pergunta? 

3. Como você explicaria a ironia na tirinha para alguém que não conseguiu identificá-la? 


GABARITO

Atividade sobre violência para ensino médio Informatividade no texto argumentativo (redação)


Chamamos informatividade as informações veiculadas através dos textos escritos ou visuais. [...] O grau de informatividade de um texto é medido de acordo com o conhecimento de mundo das pessoas a que ele se destina. Ou seja, dizemos que um texto possui um alto grau de informatividade quando a compreensão mais ampla desse texto depender do repertório cultural do leitor.

Um texto é mais informativo quanto menor for sua previsibilidade, e vice-versa. Para que haja sucesso na interação verbal, é preciso que a informatividade do texto seja adequada ao interlocutor.