Atividade sobre drogas com interpretação de conto - A menina dos fósforos (8ºano)


A menina dos fósforos 
Lídia Rosenberg Aratangy 

Interpretação do poema O lutador (Drummond) Metalinguagem em poema modernista


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O poeta lutador 

A fase da poesia de Carlos Drummond que se inicia com o livro Claro enigma, de 1945, desenvolve não só temas filosóficos, mas também revela constante reflexão sobre a construção da linguagem poética. 

Leia, a seguir, um poema bastante representativo dessa preocupação metalinguística.

O lutador 

Lutar com palavras 
é a luta mais vã. 
Entanto lutamos
mal rompe a manhã. 
São muitas, eu pouco. 
Algumas, tão fortes 
como o javali. 
Não me julgo louco. 
Se o fosse, teria 
poder de encantá-las. 
Mas lúcido e frio, 
apareço e tento 
apanhar algumas 
para meu sustento 
num dia de vida. 
Deixam-se enlaçar, 
tontas à carícia 
e súbito fogem 
e não há ameaça 
e nem há sevícia 
que as traga de novo 
ao centro da praça.

Modernismo português - Interpretação de poema (Estátua falsa - Mário de Sá-Carneiro)



Mário de Sá-Carneiro: uma alma estraçalhada 

Se destaca no Modernismo português Mário de Sá-Carneiro, um escritor muito original e instigante. Quase tudo que escreveu trata dos conflitos psicológicos relacionados a uma profunda crise de identidade. Esse interesse pela autoanálise o aproxima de certo modo de Fernando Pessoa, especialmente do heterônimo Alvaro de Campos, tantas vezes atormentado por angústias existenciais. No entanto, contrariamente à poesia de Alvaro de Campos, que vez ou outra manifesta entusiasmo pela vida, a de Sá-Carneiro jamais vislumbra possibilidades de abrandamento do sofrimento que lhe estraçalha a vida. Observe isso, lendo o texto que segue. 

Interpretação de conto Mia Couto (Inundação)


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Inundação

Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança. 
A casa, aquela casa nossa, era morada mais da noite que do dia. Estranho, dirão. Noite e dia não são metades, folha e verso? Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual? Explico. Bastava que a voz de minha mãe em canto se escutasse para que, no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira. E nós éramos meninos para sempre. 
Certa vez, porém, de nossa mãe escutamos o pranto. Era um choro delqadinho, um fio de água, um chilrear de morcego. Mão em mão, ficamos à porta do quarto dela. Nossos olhos boquiabertos. 
Ela só suspirou: 
 Vosso pai já não é meu. 
Apontou o armário e pediu que o abríssemos. A nossos olhos, bem para além do espanto, se revelaram os vestidos envelhecidos que meu pai há muito lhe ofertara. Bastou, porém, a brisa da porta se abrindo para que os vestidos se desfizessem em pó e, como cinzas, se enevoassem pelo chão. Apenas os cabides balançavam, esqueletos sem corpo. 
 E agora - disse a mãe -, olhem para estas cartas. 
Eram apaixonados bilhetes, antigos, que minha mãe conservava numa caixa. Mas agora os papéis estavam brancos, toda a tinta se desbotara. 
 Ele foi. Tudo foi. 
Desde então, a mãe se recusou a deitar no leito. Dormia no chão. A ver se o rio do tempo a levava, numa dessas invisíveis enxurradas. Assim dizia, queixosa. Em poucos dias, se aparentou às sombras, desleixando todo seu volume. 
 Quero perder todas as forças. Assim não tenho mais esperas. 
 Durma na cama, mãe. 
 Não quero. Que a cama é engolidora de saudade. 
E ela queria guardar aquela saudade. Como se aquela ausência fosse o único troféu de sua vida. 
Não tinham passado nem semanas desde que meu pai se volatilizara quando, numa certa noite, não me desceu o sono. Eu estava pressentimental, incapaz de me guardar no leito. Fui ao quarto de meus pais. Minha mãe lá estava, envolta no lençol até à cabeça. Acordei-a. O seu rosto assomou à penumbra doce que pairava. Estava sorridente. 
 Não faça barulho, meu filho. Não acorde seu pai. 
 Meu pai? 
 Seu pai está aqui, muito comigo. 
Levantou-se com cuidado de não desalinhar o lençol. Como se ocultasse algo debaixo do pano. Foi à cozinha e serviu-se de água. Sentei-me com ela, na mesa onde se acumulavam as panelas do jantar. 
 Como eu o chamei, quer saber? 
Tinha sido o seu cantar. Que eu não tinha notado, porque o fizera em surdina. Mas ela cantara, sem parar, desde que ele saíra. E agora, olhando o chão da cozinha, ela dizia: 
 Talvez uma minha voz seja um pano; sim, um pano que limpa o tempo. 
No dia seguinte, a mãe cumpria a vontade de domingo, comparecida na igreja, seu magro joelho cumprimentando a terra. Sabendo que ela iria demorar eu voltei ao seu quarto e ali me deixei por um instante. A porta do armário escancarada deixava entrever as entranhas da sombra. Me aproximei. A surpresa me abalou: de novo se enfunavam os vestidos, cheios de formas e cores. De imediato, me virei a espreitar a caixa onde se guardavam as lembranças de namoro de meus pais. A tinta regressara ao papel, as cartas de meu velho pai se haviam recomposto? Mas não abri. Tive medo. Porque eu, secretamente, sabia a resposta. 
Saí no bico do pé, quando senti minha mãe entrando. E me esgueirei pelo quintal, deitando passo na estrada de areia. Ali me retive a contemplar a casa como que irrealizada em pintura. Entendi que por muita que fosse a estrada eu nunca ficaria longe daquele lugar. Nesse instante, escutei o canto doce de minha mãe. Foi quando eu vi a casa esmorecer, engolida por um rio que tudo inundava. 

COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 25-27. 

Glossário 
Repleção: repleto, cheio. 
Tamborileira: que produz som ou ruido semelhante ao de um tamborim. 


1. Nessa narrativa breve, a história apresenta um conteúdo lírico, estabelecido com base na recriação da realidade. 

a) Resuma, de forma objetiva, o fio narrativo (enredo) que compõe a história. 
b) Que recursos utilizados no conto tornaram a linguagem conotativa, poética? 

2. No primeiro e segundo parágrafos, o narrador já introduz o fantástico no relato dos fatos, ao passar da recriação de uma realidade mais objetiva para a criação de um mundo fantasioso, imaginário. 

a) Explique por que o rio simboliza o tempo e os peixes representam as lembranças. 
b) Segundo o narrador, as lembranças dele podiam inundar o céu e não o rio. Por quê? 

3. Observe o emprego dos elementos coesivos no início do terceiro parágrafo. 

a) Que sentido expressam a locução adverbial "certa vez" e a conjunção porém em relação ao contexto? 
b) De acordo com o conteúdo, por que foram empregados tais elementos de coesão? 

4. Como se observou, há nesse conto uma recriação lírica, fantasiosa da realidade. 

a) Do quarto ao décimo terceiro parágrafo, de que modo o narrador recria o comportamento da mãe, que foi abandonada pelo marido? 
b) A partir do décimo quarto parágrafo, por que a mãe começa a ter um comportamento diferente? 
c) O que você acha que aconteceu no último parágrafo? 

5. No texto, há palavras empregadas com mais de um sentido. Explique o significado das palavras destacadas, que ora estão em sentido conotativo, ora em sentido denotativo. 

a) "A ver se o rio do tempo a levava [...]". 
b) ''[...] engolida por um rio que tudo inundava." 
c) "Desde então, a mãe se recusou a deitar no leito." 
d) ''[...] deitando passo na estrada de areia." 
6. Nomeie a figura de linguagem que cada termo destacado representa. 

a) "Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual?"  
b) "Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira." 
c) "Certa vez, porém, de nossa mãe escutamos o pranto." 

Gabarito

Atividade sobre adjetivo no grau superlativo absoluto 7ºano (tirinha)

Leia a tira.

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a) A personagem dessa tira é conhecida como "O grafiteiro". As palavras da mãe dele se tornaram realidade? Que elementos mostram isso?

b) Localize na tira um adjetivo usado no grau superlativo absoluto. De que maneira ele foi formado? 
c) Usando o mesmo recurso, forme o superlativo absoluto do adjetivo destacado em cada frase, empregando um dos elementos: super, hiper, ultra e mega. (Observação: usa-se hífen depois de super- e hiper- quando esses elementos são seguidos por uma palavra começada por r.)

I. Este video game é divertido
II. O metrô é um meio de transporte rápido
III. Meu sanduíche está gostoso
IV. Este exercício de Matemática é difícil

d) As formas de superlativo que você usou são mais comuns na linguagem formal ou informal? 
Gabarito

Exercícios sobre verbos para 8ºano - parte 1 (revisão)


Para recordar:
Os verbos são palavras que, indicando época: 

* ligam e atribuem um estado ou característica aos seres. Exemplos: ser, estar, ficar, parecer, permanecer, andar. "[...]" O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?" 

* expressam: 

a) ação: algo que um ser faz. Exemplos: nadar, pedir, gritar, cavar, andar, comprar, escrever, etc.: "Eu fui ao oculista, pinguei um colírio daqueles brabos [...]" 
b) fato ou acontecimento: algo que ocorre ou se passa com um ser. Exemplos: ter, situar-se, esquecer, cair, crescer, morrer, etc.; "Minha avó morreu." 
c) fenômeno da natureza. Exemplos: ventar, nevar, escurecer, relampejar, chover, etc. 
Choveu muito no sul e no norte do país. 
d) sentimento: amar, odiar, gostar, detestar, etc. "Acho que não gostei deste garçom". 

1. Depois de ler atenciosamente as informações acima, procure indicar a função dos verbos em negrito no pequeno texto abaixo. Diga se: 

* relacionam seres e suas características 
* expressam: ação, fato ou  acontecimento, sentimento, fenômeno da natureza 

Os homens andavam rapidamente. Trovejava e, vez por outra, um relâmpago cortava o céu. "Vai chover grosso" falou um deles  Melhor apressar o passo para chegar à sede da fazenda antes da chuva. 
Nisso, o da frente tropeçou em algo e soltou um palavrão. "Já não estou enxergando nada... o que é isto aqui?" Chutaram, cutucaram... parecia um baú. 
 "Tem alguma coisa aí dentro"! 
 "Vam'imbora." 
 "Não. Abre. Vamos ver o que tem dentro". 
O baú estava cheio de areia. Os homens que já sonhavam com um tesouro ficaram decepcionados. 
 "Detesto ser feito de trouxa", resmungou um deles. 
Seguiram caminho, cabisbaixos. Esqueceram o incidente tão logo chegaram à sede.

Análise de ponto de vista em tirinhas (interpretação)


As duas tirinhas apresentam o mesmo personagem, o robô sensível, focalizando sua relação com os seres humanos.

O que há em comum quanto ao ponto de vista defendido em ambas as tirinhas?


GABARITO
Ambas tirinhas defendem o ponto de vista de que as pessoas têm se comportado de maneira insensível, por meio de um personagem que contrasta com elas: o robô sensível. 

Variedade linguística em tirinha (exercício)


> De que maneira a galinha justifica a resposta dada pelos pintinhos? 

2. Considerando a resposta da galinha, qual a variedade linguística utilizada por ela e seus filhotes. Explique. 
> De que forma essa representação da variedade linguística contribui para construir o humor da tira?

GABARITO

1. Causa estranhamento o fato de os pintinhos dizerem "Pir" em lugar de "Piu". 
> Segundo a galinha, os pintinhos piam dessa forma (com um "r" em lugar do "u") porque eles e a mãe são "galinhas caipiras". 

2. A resposta da galinha é uma representação de uma variedade social, como se pode notar pela estrutura "Nóis semo galinha caipira", que apresenta diferenças morfossintáticas em relação ao que determina a norma de prestígio ("Nós somos galinhas caipiras"). 

Exercícios sobre Iracema de José de Alencar

O trecho abaixo foi extraído do capítulo XXXIII de Iracema e mostra o batismo de Poti, amigo de Martim. 

[...] Poti levantava a taba de seus guerreiros na margem do rio e esperava o irmão que lhe prometera voltar. Todas as manhãs subia ao morro das areias e volvia os olhos ao mar, para ver se branqueava ao longe a vela amiga. 
Afinal volta Martim de novo às terras, que foram de sua felicidade, e são agora de amarga saudade. Quando seu pé sentiu o calor das brancas areias, em seu coração derramou-se um fogo, que o requeimou: era o fogo das recordações que ardiam como a centelha sob as cinzas. 
[...] 
Muitos guerreiros de sua raça acompanharam o chefe branco, para fundar com ele a mairi dos cristãos. Veio também um sacerdote de sua religião, de negras vestes, para plantar a cruz na terra selvagem. 
Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagrado lenho; não sofria ele que nada mais o separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só deus, como tinham um só coração. 
Ele recebeu com o batismo o nome do santo, cujo era o dia; e o do rei, a quem ia servir, e sobre os dois o seu, na língua dos novos irmãos. Sua fama cresceu e ainda hoje é o orgulho da terra, onde ele primeiro viu a luz. 
A mairi que Martim erguera à margem do rio, nas praias do Ceará, medrou. Germinou a palavra do Deus verdadeiro na terra selvagem; e o bronze sagrado ressoou nos vales onde rugia o maracá. [...] 

Capitães da Areia (Jorge Amado) - Interpretação


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Você vai ler um trecho de Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado. O romance relata as aventuras de um grupo de crianças abandonadas, na cidade de Salvador, lideradas por Pedro Bala. 

Capitães da Areia 

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[...] 
A cidade dormiu cedo. A lua ilumina o céu, vem a voz de um negro do mar em frente. Canta a amargura da sua vida desde que a amada se foi. No trapiche as crianças já dormem. [...] A voz do negro parece se dirigir às estrelas, como que há pranto na sua voz cheia. Ele também procura a amada que fugiu na noite da Bahia. Pedro Bala pensa que a estrela que é Dora talvez ande agora correndo sobre as ruas, becos e ladeiras da cidade a procurá-lo. Talvez o pense numa aventura nas ladeiras. Mas hoje não são os Capitães da Areia que estão metidos numa bela aventura. São os condutores de bonde, negros fortes, mulatos risonhos, espanhóis e portugueses, que vieram de terras distantes. São eles que levantam os braços e gritam iguais aos Capitães da Areia. A greve se soltou na cidade. É uma coisa bonita a greve, é a mais bela das aventuras. Pedro Bala tem vontade de entrar na greve, de gritar com toda a força do seu peito, de apartear os discursos. Seu pai fazia discursos numa greve, uma bala o derrubou. Ele tem sangue de grevista. Demais a vida da rua o ensinou a amar a liberdade. A canção daqueles presos dizia que a liberdade é como o sol: o bem maior do mundo. Sabe que os grevistas lutam pela liberdade, por um pouco mais de pão, por um pouco mais de liberdade. É como uma festa aquela luta. 
Os vultos que se aproximam o fazem levantar desconfiado. Mas logo reconhece a figura enorme do estivador João de Adão. Junto a ele vem um rapaz bem vestido mas com os cabelos despenteados. Pedro Bala tira o boné, fala pra João de Adão: 
 Tu hoje ganhou viva, hein? 
João de Adão ri. Distende seus músculos, seu rosto está aberto num sorriso para o chefe dos Capitães da Areia: 
 Capitão Pedro, eu quero apresentar a tu o companheiro Alberto. 
O rapaz estende a mão para Pedro Bala. O chefe dos Capitães da Areia limpa primeiro sua mão no paletó rasgado, depois aperta a do estudante. João de Adão está explicando: 
 É um estudante da Faculdade mas é um companheiro da gente. 
Pedro Bala olha sem desconfiança. O estudante sorri: 
 Já ouvi falar muito em você e em seu grupo. Você é um batuta ... 
 A gente é macho, sim - responde Pedro Bala. 

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Martins, s.d. p. 190-192

Exercícios sobre colocação pronominal (Mafalda)

1. Leia a tira.

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**Gabarito no final**

a)
Por que a fala de Susanita no segundo quadrinho deixa Filipe irritado? 
b) O que o comentário de Susanita no fim da tira revela? 
c) Identifique, no primeiro quadrinho, a oração que contém um pronome oblíquo átono em posição proclítica. 
d) Esse uso está de acordo com a prescrição da norma-padrão? Explique. 
e) Como se justifica a opção por essa colocação pronominal na tira?

2. Leia a seguir o trecho de uma crônica de Machado de Assis dirigida aos usuários de bonde, que, de acordo com o autor, deveriam seguir determinadas regras de convivência. 

[...] 
ART.V 
Dos amoladores 

Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-lhe-à se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-la minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repetindo os ditos, pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra. 
[...]

MACHADO DE Assis, J. M. In: LUCA, Heloísa Helena Paiva de (Org.).
Balas de estalo de Machado de Assis. São Paulo: Annablume, 1998. p. 34.

Interpretação do poema Testamento de Alda Lara (Poesia africana)


É comum ouvirmos que os poemas podem ser lidos e interpretados de várias maneiras. Na verdade, um poema pode apontar para uma ou mais leituras possíveis, o que não significa que cada um possa entender o que quiser em sua leitura. Quando se lê um poema, é preciso observar o texto e suas entrelinhas para apreender os sentidos que ele possibilita que o leitor construa. A interpretação de um poema só é válida se for comprovada pelos caminhos de leitura que o próprio texto indica. 

**Gabarito no final**

Leia com atenção o poema "Testamento", escrito pela angolana Alda Lara (1930-1962), e reflita sobre seu modo de composição e seu significado. 

Testamento

À prostituta mais nova 
do bairro mais velho e escuro, 
deixo os meus brincos, lavrados 
em cristal, límpido e puro... 

E àquela virgem esquecida 
rapariga sem ternura, 
sonhando algures urna lenda, 
deixo o meu vestido branco, 
o meu vestido de noiva, 
todo tecido de renda... 

Este meu rosário antigo 
ofereço-o àquele amigo 
que não acredita em Deus... 

E os livros, rosários meus 
das contas de outro sofrer, 
são para os homens humildes, 
que nunca souberam ler. 

Quanto aos meus poemas loucos, 
esses, que são de dor 
sincera e desordenada... 
esses, que são de esperança, 
desesperada mas firme, 
deixo-os a ti, meu amor... 

Para que, na paz da hora, 
em que a minha alma venha 
beijar de longe os teus olhos, 
vás por essa noite fora... 
com passos feitos de lua, 
oferecê-las às crianças 
que encontrares em cada rua... 


LARA, Alda. Testamento. In: SILVA, Alberto da Costa e (Org.).
Poesia africana de língua portuguesa: antologia. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003. p. 67.

Exercícios sobre metalinguagem


Não tem tradução 

[...] 
Lá no morro, se eu fizer uma falseta 
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês 
A gíria que o nosso morro criou 
Bem cedo a cidade aceitou e usou 
[...] 
Essa gente hoje em dia que tem mania de exibição 
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês 
Tudo aquilo que o malandro pronuncia 
Com voz macia é brasileiro, já passou de português 
Amor lá no morro é amor pra chuchu 
As rimas do samba não são I love you 
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny 
Só pode ser conversa de telefone 

Análise de tirinha - figura de linguagem: ironia

Leia com atenção a tira a seguir:


1. Descreva, de maneira literal, o que se passa na tira.

2. Explique em que consiste a ironia presente na pergunta que Garfield se faz.

3. Em que medida as expressões faciais de Garfield e de Jon contribuem para a criação do efeito irônico?

GABARITO

1. Jon entrega a Garfield um novelo de lã para ele brincar. Na sequência, o gato se pergunta como se faz para ligar o novelo.

2. A expressão alegre e animada de Jon contrapõe-se à expressão entediada de Garfield, o que acentua a indisposição do gato para a brincadeira com o novelo.

3. A ironia consiste no fato de Garfield se perguntar como seria possível ligar o novelo de lã, como se ele fosse um aparelho eletrônico. Isso demonstra a falta de vontade do gato de se mobilizar para criar a própria brincadeira.

Questão de literatura no Enem - Poema de Carlos Drummond de Andrade (A dança e a alma)


A dança e a alma 

A dança? Não é movimento, 
súbito gesto musical. 
É concentração, num momento, 
da humana graça natural. 
No solo não, no éter pairamos, 
nele amaríamos ficar. 
A dança - não vento nos ramos: 
seiva, força, perene estar. 
Um estar entre céu e chão, 
novo domínio conquistado, 
onde busque nossa paixão 
libertar-se por todo lado... 
Onde a alma possa descrever 
suas mais divinas parábolas 
sem fugir à forma do ser, 
por sobre o mistério das fábulas. 

ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366. 

Exercícios com tirinhas para ensino médio, vestibulares, Enem e concursos

Leia também:

1. Leia esta tira.

a) O que a personagem masculina esperava encontrar dentro da garrafa? Justifique.
b) No terceiro quadrinho, a personagem feminina usa a palavra torneiral, que não está dicionarizada na língua portuguesa. Morfologicamente, o que possibilitou sua criação? 
c) Por que o uso dessa palavra reforça a ideia de "cortes radicais nos gastos", produzindo um efeito de humor na tira? 
d) A que classe de palavras torneiral pertence? Que aspectos sintáticos confirmam isso?

2. Leia a tira.


a) A tira associa elementos verbais e não verbais de forma inusitada, contribuindo para a construção de sentidos do texto. Explique de que forma essa associação ocorre.
b) No último quadrinho, há outra associação inusitada: as falas das personagens remetem a uma situação comum a outro gênero textual. Descreva o conteúdo dessas falas e identifique o gênero ao qual elas remetem.
c) Releia esta oração: Todo dia é esta chuvinha de e-mails. Reescreva-a duas vezes com as palavras em ordens distintas. O sentido se modificou?
d) Com base nas versões reescritas, como se classifica o sujeito da oração? Explique.

3. Leia a tira.


Interpretação de texto Alice no país das maravilhas


**Gabarito no final**

Alice descansava com a irmã mais velha à sombra de uma árvore quando foi surpreendida pela visão de um coelho branco e de olhos cor-de-rosa. Do bolso do colete que vestia, o coelho tirou um relógio e, conferindo os ponteiros, concluiu estar atrasado. Intrigada com o que via, Alice decidiu seguir o animal. Foi parar em um mundo subterrâneo no qual a lógica da realidade frequentemente era posta à prova. Leia, a seguir, um trecho do romance Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, em que a protagonista conhece algumas curiosas personagens. 


Um chá maluco 

Em frente à casa havia uma mesa posta sob uma árvore, e a Lebre de Março e o Chapeleiro estavam tomando chá; entre eles estava sentado um Caxinguelê, que dormia a sono solto, e os dois o usavam como almofada, descansando os cotovelos sobre ele e conversando por sobre sua cabeça. "Muito desconfortável para o Caxinguelê", pensou Alice; "só que, como está dormindo, suponho que não se importa". 
Era uma mesa grande, mas os três estavam espremidos numa ponta: "Não há lugar! Não há lugar!", gritaram ao ver Alice se aproximando. "Há lugar de sobra!", disse Alice, indignada, e sentou-se numa grande poltrona à cabeceira. 
[...] 
"Não foi muito polido da sua parte sentar-se sem ser convidada", retrucou a Lebre de Março. 
"Não sabia que a mesa era sua", declarou Alice; "está posta para muito mais do que três pessoas". 
"Seu cabelo está precisando de um corte", disse o Chapeleiro. Fazia algum tempo que olhava para Alice com muita curiosidade, e essas foram suas primeiras palavras. 
"Devia aprender a não fazer comentários pessoais", disse Alice com alguma severidade; "é muito indelicado".
O Chapeleiro arregalou os olhos ao ouvir isso; mas disse apenas: "Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?". 
"Oba, vou me divertir um pouco agora!", pensou Alice, "Que bom que tenham começado a propor adivinhações". E acrescentou em voz alta: "Acho que posso matar esta". 
"Está sugerindo que pode achar a resposta?", perguntou a Lebre de Março. 
"Exatamente isso", declarou Alice. 
"Então deveria dizer o que pensa", a Lebre de Março continuou. 
"Eu digo", Alice respondeu apressadamente; "pelo menos... pelo menos eu penso o que digo... é a mesma coisa, não?". 
"Nem de longe a mesma coisa!", disse o Chapeleiro. "Seria como dizer que 'vejo o que como' é a mesma coisa que 'como o que vejo'!" 
"Ou o mesmo que dizer", acrescentou a Lebre de Março, "que 'aprecio o que tenho' é a mesma coisa que 'tenho o que aprecio'!" 
"Ou o mesmo que dizer", acrescentou o Caxinguelê, que parecia estar falando dormindo, "que 'respiro quando durmo' é a mesma coisa que 'durmo quando respiro'!" 
"É a mesma coisa no seu caso", disse o Chapeleiro e nesse ponto a conversa arrefeceu, e o grupo ficou sentado em silêncio por um minuto, enquanto Alice refletia sobre tudo de que conseguia se lembrar sobre corvos e escrivaninhas, o que não era muito. 
O Chapeleiro foi o primeiro a quebrar o silêncio. "Que dia do mês é hoje?" disse, voltando-se para Alice. Tinha tirado seu relógio da algibeira e estava olhando para ele com apreensão, dando-lhe umas sacudidelas vez por outra e levando-o ao ouvido. 
Alice pensou um pouco e disse: "Dia quatro". 
"Dois dias de atraso!", suspirou o Chapeleiro. "Eu lhe disse que manteiga não ia fazer bem para o maquinismo!", acrescentou, olhando furioso para a Lebre de Março. 
"Era manteiga da melhor qualidade", respondeu humildemente a Lebre de Março . 
"Sim, mas deve ter entrado um pouco de farelo", o Chapeleiro rosnou. "Você não devia ter usado a faca de pão." 
A Lebre de Março pegou o relógio e contemplou-o melancolicamente. Depois mergulhou-o na sua xícara de chá e fitou-o de novo. Mas não conseguiu encontrar nada melhor para dizer que seu primeiro comentário: "Era manteiga da melhor qualidade". [...] 

CARROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. Trad. Mana Luiza X de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 67-69.

Exercícios poema Não te amo de Almeida Garrett (Romantismo em Portugal)


Leia o texto a seguir. 

Não te amo 
Neste poema, o eu lírico explora uma das dualidades básicas da estética romântica. 

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma. 
E eu n'alma  tenho a calma, 
A calma  do jazigo
Ai! não te amo, não. 

Não te amo, quero-te: o amor é vida. 
E a vida  nem sentida 
A trago eu já comigo. 
Ai, não te amo, não! 

Ai! não te amo, não; e só te quero 
De um querer bruto e fero 
Que o sangue me devora, 
Não chega ao coração. 

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela. 
Quem ama a aziaga estrela 
Que lhe luz na má hora 
Da sua perdição? 

E quero-te, e não te amo, que é forçado, 
De mau feitiço azado 
Este indigno furor. 
Mas, oh! Não te amo, não. 

E infame sou, porque te quero; e tanto 
Que de mim tenho espanto 
De ti medo e terror... 
Mas amar!... não te amo, não. 

ALMEIDA GARRETT. Folhas caídas. Porto: Porto Editora, s. d. p.40. [Coleção Clássicos da Literatura Portuguesa). Biblioteca digital. 
Disponível em: <http://www.portoeditora.pt/bdigital/default.asp?param=08020100>Acesso em:11 dez.2009

Atividade sobre adjunto adverbial com poema de Mário Quintana (Veranico)


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Adjunto adverbial 8ºano - Interpretação - Mona Lisa ganha vida com Inteligência Artificial


Leia este poema, de Mário Quintana. 

Veranico 
Está marcando meio-dia nos olhos dos gatos. 
As sombras esconderam-se debaixo da barriga dos cavalos. 
A cidadezinha modorreia... A tarde 
Avança, lentamente, com o casco coberto de poeira 
Como uma tartaruga... 
O poema empaca. O poeta adormece 
De chatice... 
A vida continua, indiferente. 

(Preparativos de viagem. 4. ed. São Paulo: Globo. 1997. p. 127.) 

Atividade sobre resenha crítica para ensino médio


**Gabarito no final**

Quando um livro é lançado, é comum que a imprensa publique textos com informações sobre ele e com a opinião de um jornalista ou crítico sobre sua qualidade literária. Tais textos são chamados de resenhas críticas e servem principalmente para ajudar o público a decidir se deseja ou não comprar e ler o livro. Mas uma resenha pode ser lida por outros motivos, como saber o que o jornalista diz sobre o estilo do autor do livro ou conhecer as personagens da história.

A seguir, você vai ler a resenha crítica de um livro extraído do caderno de entretenimento e cultura de um jornal diário.

Quiroga escreve para crianças de forma inusitada 
Michel Laub

A ficção infantojuvenil costuma ser avaliada com certa condescendência, mais comprometida com a formação do cidadão que com a do leitor. 
Não é difícil perceber os resultados desse paternalismo: histórias politicamente corretas, com temas que tentam aproximar a literatura da "realidade cotidiana" ou despertar a consciência para a diversidade social, étnica e religiosa do mundo, frequentemente ganham elogios e adoções em escolas na mesma medida em que sua estética insossa é ignorada. 
Diante de um cenário assim, é promissor o lançamento de uma coletânea como "Contos da Selva" (1918), do uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937). Anunciado como infanto-juvenil, mas talvez mais próximo das narrativas para crianças, o livro chama atenção por abdicar de um caráter utilitário, que emprestaria às suas histórias uma pregação ecológica ou um sentido moral. 
Quiroga obtém esse resultado, quase sempre, experimentando com as convenções da fábula e do causo. No primeiro caso, em textos como "O Papagaio Pelado", cujo protagonista se vinga de uma onça que o atacou indicando seu paradeiro a um caçador, tem-se os bichos que falam e agem como humanos, mas não a lição edificante no desfecho. No segundo, a verossimilhança e coerência narrativa do causo são abandonadas em textos como "As Meias dos Flamingos", talvez a mais inusitada de todas, em que pássaros entram fantasiados num baile de cobras e passam o resto da vida pagando pelo erro. 
Resta saber se ambas as soluções, cuja originalidade é louvável, mas externa à fruição estética das histórias, são suficientes para garantir o valor literário de "Contos da Selva". A resposta é difícil, até porque há contos que fogem à regra aqui descrita, como "A Abelhinha Malandra", fábula tradicional e previsível, ou "A Tartaruga Gigante", sem a densidade que transforma o relato em literatura. 
Por outro lado, há qualidades inegáveis na prosa de Quiroga: o classicismo elegante, que ficaria bem num texto contemporâneo, e a generosidade descritiva, que torna acessível o mundo então pouco explorado de bichos e plantas das províncias argentinas -lugares onde o autor viveu muitos anos. 
Somada a isso, a capacidade de comover em construções simples como "A Gama Cega", sobre um veado salvo por um caçador, ou "História de Dois Filhotes de Quati e de Dois Filhotes de Homem", que mostra uma convivência terna entre as espécies, dão ao livro um balanço positivo. Não para transformá-lo num clássico, mas o bastante para ser lido com interesse quase um século depois de sua publicação. 

Exercício sobre intertextualidade (charge)


Leia os versos de uma canção de Chico Buarque e uma charge de Ziraldo, e responda às questões.

Quando o carnaval chegar 

Quem me vê sempre parado, distante 
Garante que eu não sei sambar 
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar 
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando 
E não posso falar 
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar 
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar 
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar 
Há quanto tempo desejo seu beijo 
Molhado de maracujá 
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar 
[...] 

( http://www.chicobuarque.com.br/letras/quandooc.htm ) 


1. Em ambos os textos o tema é o carnaval. Contudo: 
a) Que sentido tem o carnaval para o eu lírico da canção? 
b) E para a personagem da charge? 

2. Sabendo que a canção de Chico Buarque foi produzida e divulgada antes da charge de Ziraldo, responda: 
a) Que texto estabelece uma relação intertextual com o outro? 
b) Essa relação pode ser considerada também interdiscursiva? Por quê? 


GABARITO

1.
a) O de momento em que ele vai poder se soltar, se realizar, satisfazer seus desejos. 
b) O de problema, pois atrapalha todos os negócios dela. Professor: Lembre aos alunos que, no Brasil, é comum dizer que o ano começa depois do carnaval. 

2.
a) O texto de Ziraldo.
b) Sim, pois, com ironia e humor, a charge critica a visão idealizada do eu lírico da canção, que via no carnaval a solução de todos os seus problemas.

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Interpretação do texto Macunaíma (Cap. V - Piaimã)


A seguir, você lerá um trecho do romance Macunaíma. Nele, o herói acaba de chegar a São Paulo e tem dificuldades para compreender a lógica que organiza a cidade. Leia o trecho e responda às questões propostas. 

Capítulo V - Piaimã 

Atividade sobre linguagem figurada para 6ºano com tirinha

Leia a tira a seguir:


a) Quem a personagem disse que sorriu para ela? 
b) Ao dizer isso, ela usou uma linguagem figurada? Por quê? 
c) A personagem se refere ao sorriso destacando a falta de dois dentes. Que dentes são esses? 
d) O que a personagem quis dizer com essas falas? 
e) Qual é a expressão que especifica, caracteriza o tipo de dente? 
f) Transcreva a expressão que, no quadrinho, pode substituir "da frente". 

GABARITO

a) A vida.
b) Usou uma linguagem figurada, pois a vida não é um ser animado que tem dentes. 
c) Os dentes da frente. 
d) Resposta possível: Quis dizer que, para ela, a vida não está completa, que está faltando alguma coisa. A tira revela os sentimentos da personagem diante da vida. 
e) A expressão "da frente". 
f) Frontais. Professor, se os alunos tiverem dificuldade quanto ao significado das palavras "lateral", "frontal" 'Ou "superior", oriente-os a consultar o dicionário. 

Interpretação de soneto Augusto dos Anjos - A meu Pai morto


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**Gabarito no final**

Augusto dos Anjos escreveu três sonetos em memória do pai. Leia dois deles, transcritos a seguir, para responder às questões. 

II 
A meu Pai morto

Madrugada de Treze de Janeiro, 
Rezo, sonhando, o ofício da agonia. 
Meu Pai nessa hora junto a mim morria 
Sem um gemido, assim como um cordeiro! 

E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro! 
Quando acordei, cuidei que ele dormia, 
E disse à minha Mãe que me dizia: 
"Acorda-o"! deixa-o, Mãe, dormir primeiro! 

E saí para ver a Natureza! 
Em tudo o mesmo abismo de beleza, 
Nem uma névoa no estrelado véu... 

Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas, 
Como Elias, num carro azul de glórias, 
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu! 

III 
Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra. 
Em seus lábios que os meus lábios osculam 
Microrganismos fúnebres pululam 
Numa fermentação gorda de cidra. 

Duras leis as que os homens e a hórrida hidra 
A uma só lei biológica vinculam, 
E a marcha das moléculas regulam, 
Com a invariabilidade da clepsidra!...

Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos 
Roída toda de bichos, como os queijos 
Sobre a mesa de orgíacos festins!...

Amo meu Pai na atômica desordem 
Entre as bocas necrófagas que o mordem 
E a terra infecta que lhe cobre os rins! 

ANJOS. Augusto dos. Sonetos. Melhores poemas. 3. ed. São Paulo: Global, 2001. p. 133-134.

Interpretação e produção de crônica para 9º ano - Fernando Sabino (O homem nu)


Atividade para baixar e gabarito

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O Homem Nu
Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa.  Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  [continua...]

Esta é uma das crônicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65