15 de março de 2017

Exercício sobre poema - Para repartir com todos (análise)



Para repartir com todos
Thiago de Mello

Com este canto te chamo, porque dependo de ti.
Quero encontrar um diamante
sei que ele existe e onde está.
Não me acanho de pedir
ajuda: sei que sozinho
nunca vou poder achar.
Mas desde logo advirto:
para repartir com todos.

Traz a ternura que escondes
machucada no teu peito.

Eu levo um resto de infância
que meu coração guardou.
Vamos precisar de fachos
para as veredas da noite
que oculta e, às vezes, defende
o diamante.

Vamos juntos.
Traz toda a luz que tiveres,
não te esqueças do arco-íris
que escondeste no porão.
Eu ponho a minha poronga,
de uso na selva, é uma luz
que se aconchega na sombra.

Não vale desanimar
nem preferir os atalhos
sedutores que nos perdem,
para chegar mais depressa.

Vamos achar o diamante
para repartir com todos.
Mesmo com quem não quis vir
ajudar, falto de sonho.
Com quem preferiu ficar
sozinho bordando de ouro
o seu umbigo engelhado.
Mesmo com quem se fez cego
ou se encolheu na vergonha
de aparecer procurando.
Com quem foi indiferente
e zombou das nossas mãos
infatigadas na busca.
Mas também com quem tem medo
do diamante e seu poder,
e até com quem desconfia
que ele exista mesmo.

E existe:
o diamante se constrói
quando o procuramos juntos
no meio da nossa vida
e cresce, límpido, cresce,
na intenção de repartir
o que chamamos de amor.

THIAGO DE MELLO, Amadeu. Mormaço na floresta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. 


Glossário

engelhar: enrugar-se
facho: material inflamável que se acende para iluminação.
infatigável: que não se cansa.
poronga: suporte usado por seringueiros e pescadores noturnos para fixar uma lamparina na cabeça, deixando as mãos livres para o trabalho.
vereda: caminho (sentido figurado).



1. A quem o eu lírico se dirige e com que finalidade?

2. Que advertência ele faz?

3. Segundo o poeta, a busca é longa, difícil e não há como simplificá-la. Em que estrofe aparece essa ideia? 

4. Na sexta estrofe, fala-se dos que foram convidados para a busca e não aceitaram o convite. O eu lírico classifica-os em alguns tipos. Quais? Justifique.

5. Depois de assegurar que o tal diamante existe, o eu lírico explica de que se trata. Trata-se de uma pedra, de um objeto material? Explique sua resposta. 

6. Esse diamante já existe ou se constrói à medida que os homens o procuram?

7. O que vale mais para o eu lírico: o encontro do diamante ou sua procura?

8. Considerando a maneira como interpretamos o poema, o que seriam os "atalhos/ sedutores que nos perdem, / para chegar mais depressa" (quinta estrofe)?

9. "Eu levo um resto de infância/ que eu coração guardou". Em sua opinião, por que o eu lírico faz referência à infância?

Gabarito

1. Ao leitor, convidando a todos para ajudá-lo a encontrar um diamante.

2. Adverte que o diamante deve ser repartido com todos.

3. Na quinta estrofe.

4. O que não tem sonhos ou expectativas ("... falta de sonho"); o egoísta ("... preferiu ficar/ sozinho..."); o que se dá por vencido; o indiferente; o medroso; e o desconfiado.

5. Sugestão de resposta: não, trata-se da solidariedade que deveria unir todos os homens; da construção de uma sociedade mais justa, voltada para o bem comum, sustentada pela intenção de repartir o amor. 

6. Ele se constrói conforme os homens o procuram.

7. Pelo texto percebe-se que a procura é mais importante que o encontro do diamante em si.

8. Sugestão de resposta: se a solidariedade é o objetivo da busca, a metáfora "atalhos sedutores" pode referir-se a egoísmo, ausência de ética, falta de amor ao próximo, pressa na realização individual quando esta se sobrepõe à coletiva.

9. Sugestão de resposta: a infância é quase sempre idealizada como época de pureza, inocência, disponibilidade, resistência à corrupção do meio e sinceridade.