7 de março de 2018

Esaú e Jacó - Machado de Assis - Interpretação com gabarito


(UFSC/2017)
**Gabarito no final**

Os filhos chegaram tarde, cada um por sua vez, e Pedro mais cedo que Paulo. A melancolia de um ia com a alma da casa, a alegria de outro destoava desta, mas tais eram uma e outra que, apesar da expansão da segunda, não houve repressão nem briga. Ao jantar, falaram pouco. Paulo referia os sucessos amorosamente. Conversara com alguns correligionários e soube do que se passara à noite e de manhã, a marcha e a reunião dos batalhões no campo, as palavras de Ouro Preto ao Marechal Floriano, a resposta deste, a aclamação da República. A família ouvia e perguntava, não discutia, e esta moderação contrastava com a glória de Paulo. O silêncio de Pedro principalmente era como um desafio. Não sabia Paulo que a própria mãe é que o pedira ao irmão com muitos beijos, motivo que em tal momento ia com o aperto do coração do rapaz.

ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1999, p. 119. 

Com base no texto e na leitura integral do romance de Machado de Assis, Esaú e Jacó, publicado pela primeira vez em 1904, é correto afirmar que:

a) Esaú e Jacó vale-se de intertexto com a narrativa bíblica, seja em razão dos nomes dos protagonistas, Pedro e Paulo, assim nomeados em referência aos apóstolos homônimos, seja em virtude dos nomes dos personagens que dão título à obra.

b) o romance de Machado de Assis está situado dentro da escola literária do Realismo brasileiro e possui como pano de fundo a transição do Império para a República, tendo referências explícitas ao contexto histórico da época em que os fatos são narrados.

c) o romance de Machado de Assis ilustra um aspecto fundamental nas histórias literárias sobre irmãos gêmeos, narrativas nas quais cada gêmeo possui uma personalidade diferente, diametralmente oposta, sendo os irmãos frequentemente rivais na disputa por um objeto amoroso.

d) Esaú e Jacó pode ser classificado como um romance histórico, muito embora o formato apresentado seja o de um diário irônico e sagaz de Conselheiro Aires sobre a implantação da República em território brasileiro, projeto considerado pelo narrador como algo impossível dado o passado colonial, retrógrado e agrário do país.

e) em Esaú e Jacó, Machado de Assis pratica uma forma de intertexto ao resgatar personagens presentes em outros de seus consagrados romances, como é o caso de Dom Casmurro e os sujeitos ficcionais Bentinho e Capitu.

f) no romance de Machado de Assis, a libertação dos escravos é um tema político sobre o qual os dois irmãos, Pedro e Paulo, expressam mesma postura ideológica, momento em que se dá uma trégua na rivalidade entre os dois.

Alternativas corretas: A, B e C.