17 de setembro de 2018

Português - concursos - interpretação de texto

Texto para responder às questões de 01 a 03.

Recomeçar

Recomeçar nunca é um começo novo. Não é, tampouco, um retorno ao mesmo ponto. “Voltar é quase sempre partir para outro lugar”, canta o Samba do amor, parceria de Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho. Não só porque na vida nunca se conseguiria reproduzir exatamente as mesmas condições da experiência, se retomássemos o caminho. As representações que criamos do mundo se encastelam em nós não porque nos determinam, mas porque desenvolvemos as mesmas atitudes humanas ante a resistência do mundo; criamos representações que retornam para nós, recorrentes, como se nos respondessem – e respondendo, nos moldassem.
A linguagem é um tópico de repetição (precisa ser redundante até um limite ou não efetua base para a socialização), mas em sistemática insubordinação à repetição. Palavras não estão para as coisas como reflexo direto. Raciocínios não estão para as pessoas como exatidão da personalidade. Rever a si mesmo depois de imerso no mar do mundo, da vida que cresce e nos supera, não é mais olhar para si, não é reconhecer‐se naquilo que se acreditava identificar, nem retomar a ser o que era ou partir para o mesmo lugar de onde veio. É encontrar outra coisa.
Esse também é o desafio de quem estuda a linguagem. Ela pede um modo de estudo que, para ser estimulante, requer um tipo de pensar que não avance sobre o objeto com certezas absolutas, portanto não imagine uma relação exterior a ser mantida com ele, mas a vivência que nele aprofunda. Uma mente ciosa em não classificar o certo e o errado, mas em compreender, assume uma forma de conduzir (a dúvida) sem impor, menos preocupada em saber de onde se saiu ou se deve chegar, mas atenta ao caminho – e consciente de que o caminho já vivido jamais será repetido.
Para bem encontrar o dado para provar o que quero, preciso um tanto de desistência em encontrar, para então perceber como o dado ressoa em mim e no mundo.

(PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Recomeçar. Língua Portuguesa, São Paulo: Segmento, 115. ed. maio/2015.)

1. De acordo com a sequência subjacente ao texto, definida pela natureza linguística de sua composição, afirma‐se que se caracteriza como um texto em que há, predominantemente,

a) registro textual de fatos e de saberes da realidade.
b) preocupação com a forma da linguagem objetivando a interpretação pessoal.
c) estruturas circunstanciais que indicam ações de agentes no tempo e no espaço.
d) apresentação e posicionamento referente a uma reflexão teórica sobre um fato.

2. O texto apresenta elementos suficientes para a construção da coerência global constituída de: coerência sintática, semântica, temática e pragmática. Considerando os conceitos e os conhecimentos acerca da coerência textual, é correto o que se afirma em:  

a)  O texto apresenta coerência independente do público a que se destina, tendo em vista suas construções e estruturas gramaticais.
b)  A coerência não está no texto, ela é construída em um processo de interação, baseado nas pistas dadas e nos conhecimentos existentes.
c)  A relação entre o título e o conteúdo do texto demonstra a necessidade de ajustes de coesão para que a coerência textual não seja prejudicada.
d)  A construção da coerência no texto é propiciada por determinadas rupturas propositais que ocorrem a partir do 3º parágrafo, rupturas que já são esperadas nesse gênero textual.

3. Acerca do trecho “Recomeçar nunca é um começo novo. Não é, tampouco, um retorno ao mesmo ponto.” (1º§), é correto afirmar em referência às figuras retóricas vistas do ângulo da enunciação que

a) os aspectos contraditórios se associam na caracterização do referente “recomeçar”.
b) a contradição estabelecida através do enunciado poderia ser eliminada ocultando‐se “tampouco”.
c) está presente o sentido oposto ao literal através do uso de vocábulos tais como “nunca” e “começo”.
d) o posicionamento do autor pode ser visto através da caracterização do sentido de atenuação, diminuição.

GABARITO
1C - 2B - 3A