4 de janeiro de 2015

Interpretação de Texto Consumismo e Discurso

Leia os dois textos a seguir, que abordam o mesmo tema.
(GABARITO: solicitar nos comentários ou e-mail.)

Texto 1


VIVER BEM COM POUCO 
Foi-se a era de esbanjar e ostentar. A nova ordem global impõe consumir com parcimônia e priorizar a recompensa emocional

No início do século XIX, quando a economia dos Estados Unidos ainda engatinhava em direção ao que viria a ser a maior nação capitalista do planeta, o escritor americano Henry David Thoreau (1817-1862) já questionava o consumismo desenfreado que tomara conta de seus conterrâneos.

Desiludido com os rumos da “terra das oportunidades”, Thoreau trocou a vida na cidade por uma experiência de dois anos na Floresta de Walden, em Massachusetts. Em plena expansão da economia capitalista, ele buscava a simplicidade de viver em harmonia com a natureza. Nascia ali uma das primeiras vozes modernas a pregar a frugalidade. “Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”, escreveu Thoreau no livro Walden, a vida nos bosques, obra em que ele relata seu período como eremita.

Quase 150 anos depois, o despojamento perseguido por Thoreau parece enfim estar na moda – inclusive no Brasil. Ele é motivado, em parte, pela crise financeira mundial. A atual escassez de crédito pode encerrar o ciclo de esbanjamento dos últimos anos e dar início a uma nova era de austeridade. Antes do estouro da bolha forçar um basta à extravagância, porém, outros filósofos do cotidiano se propunham a recuperar e atualizar teorias parecidas com as de Thoreau – e também com as de clássicos como os gregos Aristófanes e Epicuro. São ideias que propõem uma revisão radical das escolhas e dos hábitos de consumo. No lugar da gastança, o comedimento. “A frugalidade é uma maneira de recuperarmos coisas imateriais importantes que haviam sido perdidas: tempo, saúde e felicidade”, disse a ÉPOCA o escritor e documentarista americano John de Graaf, autor do livro Affluenza: the all-consuming epidemic (algo como A epidemia do consumo total), ainda sem previsão de lançamento no Brasil. Affluenza é um trocadilho criado a partir de influenza, nome inglês do vírus causador da gripe. Segundo Graaf, o consumo também seria uma doença, caracterizada por “sintomas de ansiedade, dívidas e desperdício”.


VERA, Andres; MASSON, Celso; VICÁRIA, Luciana. 
Época, 31 dez. 2008. (Fragmento)

Texto 2

UM OBJETIVO A CADA VEZ
Simplicidade, foco e maturidade são fundamentais para quem quer encontrar sua fórmula de bem-estar

Simplificar a vida e definir o que é importante para você. Eis a última etapa da nossa busca pela felicidade. Avalie: você precisa mesmo daquele celular de última geração? Se achar que sim, vá em frente. Mas pense se não vale mais a pena investir o dinheiro em uma viagem, por exemplo. Segundo Tal Ben-Shahar, Ph.D. em psicologia positiva na Universidade de Harvard (EUA), pesquisas mostram que uma vez que nossas necessidades básicas estejam supridas - alimento, abrigo e educação, por exemplo -, renda extra ou prestígio fazem pouca diferença.
Uma prova viva disso é Mitch Dorge, outro entrevistado pela psicóloga Sonja Lyubomirsky e ex-percussionista da banda canadense Crash Test Dummies, que atingiu relativo sucesso mundial no começo dos anos 1990 com o hit "Mmm Mmm Mmm Mmm".
Na época, o músico concorreu ao prêmio Grammy, participou de programas como o Saturday Night Live e viajou pelo mundo. Mas as coisas começaram a dar errado. Ele saiu da banda, perdeu sua mansão e rompeu com a mulher. Hoje, vive próximo a Winnipeg (Canadá), em uma região pouco habitada e gelada, em companhia dos dois filhos pequenos. Em paz e envolvido com sua música. "Já tive dinheiro e fama. Agora não os tenho, mas meu nível de felicidade é o mesmo. Não há nenhuma diferença", diz [...]. Esse estilo de vida não funcionaria para todo mundo, obviamente. Mas o importante aqui é que o músico encontrou seu foco.
[...]

Galileu, p.50, nov.2008. (Fragmentado)


1. Os textos lidos desenvolvem um mesmo tema e apresentam ideias bem similares, Quais são o tema e as ideias básicas presentes neles? 

2. Observe que os autores expõem vários argumentos que reforçam suas opiniões sobre o assunto. O objetivo é persuadir o interlocutor a buscar a felicidade mudando o comportamento.

a) Que mudanças de comportamento ocorreram no modo de viver das pessoas apresentadas nos dois textos?

b) Nos dois casos, o motivo que levou essas pessoas a buscar uma nova opção de vida ocorreu por razões diferentes, mas o resultado foi parecido. Explique por quê.

3. Os dois textos são contemporâneos e revelam a mesma visão de felicidade, pois expressam valores sociais considerados ideais por muitos em nossa época. Podemos identificar esses valores no discurso ou na voz das pessoas apresentadas nos textos. O que explica a imagem que se tem hoje da felicidade?

O QUE É DISCURSO?

A leitura dos dois textos comprova que as pessoas de um determinado grupo compartilham a mesma visão de mundo. Vimos que os indivíduos apresentados nos textos 1 e 2, por caminhos diferentes, perseguem o mesmo objetivo, em busca de valores e crenças considerados ideais.
Esses valores e crenças diferem em cada época, pois todos nós sofremos influências do momento social e histórico em que vivemos. E, a partir da linguagem, transmitimos nossas ideias e sentimentos.
Com base na linguagem empregada em um texto oral ou escrito, podemos constatar a existência de informações e ideias específicas, que definem as características  discursivas de um determinado grupo social. Nos textos 1 e 2, por exemplo, pudemos identificar o mesmo discurso com relação ao tema "felicidade". Esse discurso é muito comum em estratos da classe média alta de várias partes do mundo.
É com base, portanto, no conhecimento dos valores, das ideias e das crenças particulares de um grupo social que podemos definir suas características  no uso do discurso. Nesse caso, se identificamos em vários textos um conjunto de temas e de termos similares, que caracterizam uma visão de mundo de forma específica, podemos dizer que há nos textos uma mesma formação discursiva, como ocorre nos dois textos lidos. Por expressar os conceitos, os valores e as crenças de um grupo, o discurso é social. Por essa razão, definimos determinados discursos como: discurso da classe operária, discurso da classe estudantil, discurso da classe política, etc. Podemos dizer que discurso é o espaço de materialização das ideias de um determinado grupo social, é a voz desse grupo. Em outras palavras, é o conjunto de enunciados significativos que expressam a maneira de pensar e agir de um grupo.


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