17 de maio de 2016

Questão sobre preconceito linguístico | Marcos Bagno


Leia o texto a seguir para, depois, refletir sobre ele. 

[...] Os brasileiros vão estudar inglês e aprendem que nessa língua a morfologia verbal é simplíssima. No presente, a única forma diferente das outras é a da 3º pessoa do singular, que ganha um -s (he lives), enquanto as outras permanecem idênticas (I, you, we, they live). No passado, tudo fica exatamente igual (I, you, he, she, it, we, you they lived). Ninguém se assusta com isso, ninguém ri disso, e muitos até acham bom que seja assim, porque é mais fácil de aprender do que nas línguas (como o português, o alemão, etc.) que têm uma morfologia verbal bem mais diversificada. 
Qual é a reação, porém, desses mesmos brasileiros quando topam com algo do tipo eu morava, tu morava, ele morava, nós morava, vocês morava, eles morava? O riso, o deboche ou, no melhor dos casos, a compaixão pelos "infelizes caipiras" que "não sabem falar direito", como se fossem menos inteligentes ou até menos humanos que os demais falantes. Ora, do ponto de vista exclusivamente estrutural, não há nada de melhor em I / you / he / she / it/ we / you / they lived nem nada de pior em eu / tu / você / ele / ela / nós / a gente / vocês / eles / elas morava ... O fenômeno linguístico é o mesmo, a recepção sociocultural do fenômeno - e só ela - é que é diferente. E é aí que a porca torce o rabo!" 

BAGNO, Marcos. Quem ri do quê? Fragmento. Disponível em: <http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/textos- 
carosamigos.htm>. Acesso em: 22 mar. 2010. 

a) O texto discute o modo como as diferenças linguísticas são avaliadas por alguns brasileiros. Qual é o exemplo usado pelo autor para explicar seu ponto de vista? 
b) É possível afirmar que o texto aborda a questão do preconceito linguístico? Justifique sua  resposta. 



Gabarito:

a) O autor compara as diferenças existentes entre a morfologia  verbal do inglês e a do português para mostrar como são avaliados de modos diferentes por alguns brasileiros.
b) Sim. O texto aponta para o fato de que uma perspectiva preconceituosa impede que algumas pessoas avaliem com isenção fenômenos linguísticos que deveriam servir de base para a reflexão sobre o funcionamento das línguas e das sociedades.