26 de abril de 2019

Indianismo - Romantismo - Exercício com gabarito


As questões do Enem não exigem um conhecimento amplo das obras literárias, isto é, de detalhes do enredo, das personagens, etc., mas exigem que o estudante seja um bom leitor, capaz de ler e comparar textos de diferentes épocas e relacioná-las com seu contexto de produção. Veja como isso acontece nestas questões do Enem e tente resolvê-las: 

Textos para as questões 1 e 2: 

O CANTO DO GUERREIRO 

Aqui na floresta 
Dos ventos batida, 
Façanhas de bravos 
Não geram escravos, 
Que estimem a vida 
Sem guerra e lidar. 
— Ouvi-me, Guerreiros, 
— Ouvi meu cantar. 
Valente na guerra 
Quem há, como eu sou? 
Quem vibra o tacape 
Com mais valentia? 
Quem golpes daria 
Fatais, como eu dou? 
— Guerreiros, ouvi-me; 
— Quem há, como eu sou? 

Gonçalves Dias 

MACUNAÍMA 

(Epílogo) 
Acabou-se a história e morreu a vitória. 
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? 

Mário de Andrade 

1. A leitura comparativa dos dois textos indica que 
a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico. 
b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil. 
c) as perguntas " - Quem há, como eu sou?" (primeiro texto) e "Quem podia saber do Herói?" (segundo texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira. 
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. 
e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização. como demonstra a presença do narrador, no segundo texto. 

2. Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que 
a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto. 
b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal. 
c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena. 
d) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais. 
e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, está ausente no primeiro. 


COMENTÁRIO
Os dois textos apresentados pela questão são indianistas e manifestam diferentes visões acerca do índio. O texto de Gonçalves Dias, produzido dentro de uma perspectiva romântica, apresenta uma visão idealizada e heroica do índio, tentando transformá-lo em herói nacional. Com a pergunta - Quem há, como eu sou?", o índio expressa sua altivez e seu orgulho, como o único ser da floresta que está acima de todas as forças. 

Já o texto de Mário de Andrade, produzido dentro de uma perspectiva modernista, retrata a decadência de Macunaíma e sua família. O trecho pertence ao final da obra Macunaíma, depois que os irmãos tinham morrido e o protagonista tinha virado a Ursa Maior. Assim, a conclusão da obra, com a ausência do herói e o fim de sua família, remete ao problema vivido pelos índios brasileiros tanto no século XX quanto hoje: o desaparecimento de tribos indígenas da Amazônia. Logo, a alternativa c da questão 1 é a mais adequada. 
Na questão 2, os itens que envolvem as funções da linguagem são falsos. A alternativa c é verdadeira, já que as palavras tacape, Uraricoera, Tapanhumas e Macunaíma são indígenas.


GABARITO
1C - 2C