22 de setembro de 2019

Interpretação de poema africano (gabarito)


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GABARITO

a) É um documento jurídico que tem a função de distribuir os bens, a herança de uma pessoa após a sua morte. 

b) O poema apresenta um testamento poético: resgatando (e deslocando) a função principal do documento jurídico, o eu lírico destina suas "posses" e sentimentos a pessoas amigas, como é esperado, e outros bens são destinados àqueles que ele não conhece, mas que acredita precisarem dele ou de seus "bens". O testamento poético é, portanto, um testamento diferente, marcado pelo modo subjetivo como o texto é escrito. 

c) O eu lírico dará seus brincos de cristal à prostituta mais nova; seu vestido de noiva à virgem esquecida; seu rosário antigo ao amigo ateu; seus livros aos homens humildes e analfabetos e, por fim, seus poemas para o homem amado, para que ele os ofereça às crianças que encontrar na rua. 

d) Sugestão: O eu lírico distribui aos contemplados aquilo que ele imagina que será útil ou agradará a eles. Também é possível pensar que as doações são justamente aquilo que os contemplados não possuem e talvez desejem. 

e) A terceira estrofe apresenta redondilhas maiores, versos de sete sílabas: 
Es- te-meu-ro-sá-rioan- ti-go 
o-fe-re-çoà-que-lea-mi-go 
que-não-a-cre-di-taem-Deus. 
No poema, há somente dois versos que fogem a essa métrica: es-ses-que-são-de-dor (6 sílabas) e queen-con-tra-res-em-ca-da-rua (8 sílabas). 

f) As rimas são: escuro/puro; lenda/renda; antigo/ amigo; Deus/meus; sofrer/ler; dor/amor; hora/fora; lua/rua. 

g) A antítese mais perceptível é "mais nova" / "mais velho"; porém é possível observar outra, com a oposição entre "bairro escuro" / "cristal límpido". 

h) A juventude da prostituta é ressaltada pela referência ao bairro velho. No segundo exemplo, a referência ao escuro ressalta a limpidez dos brincos. Todo o poema é construído sobre contradições - entre o que não se tem e o que o sujeito poético distribui. A antítese inicial inaugura essas contradições. 

i) Na quinta estrofe do poema, o sujeito poético faz referência aos seus próprios poemas, explicando como eles são. 

j) São de dois tipos: os poemas loucos, de dor sincera e desordenada, e os poemas de esperança, desesperada, mas firme. 

k) As últimas estrofes apontam para a dor do sujeito poético e também para a sua esperança, que deveria ser oferecida, na forma de poemas, às crianças que estão em cada rua. Tal gesto simbolizaria a possibilidade de transformação do futuro. 

l) Sugestão: É possível afirmar que as imagens construídas pelo poema relacionam-se com o valor da solidariedade porque, ao fazer o seu "testamento", o eu lírico identifica aquilo que julga ser a carência de cada pessoa e busca contribuir justamente para diminuir essa falta.