30 de março de 2020

Plano de aula interdisciplinar para 6ºano com habilidades - Língua portuguesa e artes


As figuras do compadre e da comadre no Brasil


Apresentação
Neste plano de aula os alunos terão a oportunidade de ler um conto de Artur de Azevedo e ouvir uma canção do grupo musical Os Farrapos, do Rio Grande do Sul, a fim de que possam refletir e debater a respeito da origem e do significado dos termos compadre e comadre.

Objetivo de aprendizagem
Refletir sobre as figuras do compadre e da comadre no ambiente em que os alunos vivem e em diferentes expressões culturais brasileiras.

Objetos de conhecimento/Habilidades
Língua Portuguesa
Leitura: Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção. Apreciação e réplica. 
Habilidade (EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção. 
Leitura: Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos.
Habilidade (EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.

Arte
Dança: Contextos e práticas.
Habilidade (EF69AR09) Pesquisar e analisar diferentes formas de expressão, representação e encenação da dança, reconhecendo e apreciando composições de dança de artistas e grupos brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas.

Tempo previsto: 3 aulas 
Gestão dos alunos: em sala de aula, alunos em coletivo e em grupos, com mediação do professor.

Recursos didáticos
Espaço físico: sala de aula
Materiais: Dicionário de Língua Portuguesa (impresso ou digital), folhas de papel sulfite A4, lápis ou canetas, borrachas, um aparelho reprodutor de áudio ou um celular com esse dispositivo (se for possível).

Desenvolvimento 
Etapa 1 (1 aula)
Escreva na lousa as palavras “compadre” e “comadre”. Se for possível, os alunos virarão as cadeiras para formar grupos de quatro ou cinco em um círculo. Peça a eles que troquem ideias e, em seguida, escreverem, numa folha de papel, quais são os significados dessas palavras que eles conhecem. Dê alguns minutos para a realização da atividade. Depois, um aluno de cada grupo vai ler o que ele e seus colegas apontaram na folha. Incentive-os a escutar respeitosamente os demais, sem interrompê-los. Escreva na lousa os sentidos que os alunos acharam.
A seguir, peça a um aluno que leia os significados das palavras no dicionário. Geralmente, elas são utilizadas para se referir ao padrinho ou à madrinha de uma criança, levando em consideração o vínculo entre essa pessoa e o pai ou a mãe dessa criança. Mas esses termos também se usam, por exemplo, para mencionar ou se dirigir a um conhecido com o qual existe um vínculo de proximidade, por ser parente ou vizinho. No caso do termo “comadre”, ele também se refere à parteira, ou seja, àquela mulher que, não sendo médica, ajuda as outras na hora de dar à luz, e também ao recipiente que as pessoas acamadas usam para fazer suas necessidades.
Uma vez encontrados os principais sentidos da palavra, peça aos alunos que prestem atenção aos componentes das palavras “compadre” e “comadre”. Para isso, na lousa, separe os elementos “padre” e “madre” dos respectivos prefixos e pergunte qual será o significado de “comadre” e “compadre” levando em consideração os significados dos termos apontados na lousa. Ajude-os a chegar à ideia de uma tarefa realizada em forma conjunta, simultânea ou colaborativa.
A seguir, pergunte aos alunos se eles são apadrinhados por alguém e em qual contexto, sempre fomentando na turma o respeito em relação às situações sobre as quais os colegas comentem. Os que tiverem padrinho e/ou madrinha contarão quem eles são e como é o vínculo com essas pessoas. Aponte na lousa as respostas (avô, avó, tio, amigo dos pais etc.) e peça aos alunos que concluam se, entre os padrinhos, predominam os familiares ou não. Por fim, pergunte qual é o relacionamento e o grau de proximidade que eles têm com seus padrinhos ou madrinhas (com que frequência se veem, quais atividades realizam em conjunto etc.). 
Por fim, peça aos alunos que reflitam, entre todos e a partir do que foi conversado em sala de aula, sobre o papel que os padrinhos e as madrinhas cumprem na vida dos afilhados. Antes de concluir a aula e de apagar a lousa, é importante registrar as notas que foram tomadas para serem utilizadas na etapa a seguir.
Para realizar a segunda etapa desta sequência, os alunos deverão ler o conto “Os compadres”, de Artur de Azevedo, no anexo 1 desta sequência ou buscá-lo na internet, e pesquisar sobre a biografia e a obra desse autor. 

Etapa 2 (1 aula)
Pergunte aos alunos quais informações encontraram sobre Artur de Azevedo, especialmente onde e quando nasceu, alguns dados de relevância de sua biografia, profissão, obras, onde e quando morreu. 
Artur de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão em 1855 e participou da criação da Academia Brasileira de Letras. Foi autor de peças de teatro, professor, poeta e jornalista. Também se destacou como contista, com vários títulos: Contos possíveis, Contos fora de moda, Contos cariocas e Vida alheia, que se nutriram da vida cotidiana do autor no Rio de Janeiro, cidade onde residia. Faleceu em 1908.
Antes de analisar o texto, repasse com os alunos as características dos contos populares: eles são transmitidos de geração em geração de forma oral e, por isso, não têm um autor determinado, mas refletem a visão de mundo e os valores de determinada cultura, servindo para sua preservação. Explique aos alunos que o conto de Artur de Azevedo que leram não é considerado um conto popular por ser autoral, porém ele traz personagens e costumes típicos da sociedade carioca de finais do século XIX e começo do XX.
A seguir, peça aos alunos que formem grupos com outros colegas, também reunidos em círculo dentro da sala, para analisar, entre todos, estes aspectos do conto: 
– Em quanto tempo transcorre a ação e como sabemos disso? (Em somente um dia: “Um dia”, “Às 4 horas”.)
– Quais são as personagens? (Os irmãos Simeão e José, a mulher de José, o filho deles, Dr. Paiva e dois dos padrinhos do filho: Rodrigues e o coronel do Exército.)
– Por que o tema e a linguagem do conto são populares? (O tema é o reencontro dos irmãos e o contraste entre eles. A linguagem é coloquial, pelas expressões utilizadas pelos irmãos: “furo daqui, furo dacolá”, “ele está para amarrar-se”, “Que diabo de trapalhada é esta?”.)
– Qual dos sentidos do termo “compadre” vistos na Etapa 1 é utilizado no conto? Por quê? (Os compadres que aparecem no relato são padrinhos do filho de José, que diz: “fui eu que os convidei para padrinhos do meu”.)
– O que significa a expressão “viver de expedientes”? Se os alunos não souberem o significado, poderão buscá-lo no dicionário disponível na sala de aula. (Significa “ganhar a vida utilizando o engenho para aproveitar oportunidades de forma ilícita ou condenável”.)
– Quais “expedientes” realizados por José são mencionados no conto? (Ajudar a arranjar o casamento do Dr. Paiva com a filha de um negociante da Rua de São Pedro e pretender um dinheiro por isso; batizar o filho oito vezes.)
Por fim, realize uma atividade oral com todos os alunos sentados num grande círculo para analisarem a seguinte frase de José: “não ganho vintém que não seja honestamente ganhado”. O juízo de José é correto ou seu comportamento é condenável? Ajude os alunos a ver os aspectos que são censuráveis: intermediar o acerto de um casamento para obter dinheiro, fazer o batizado do filho oito vezes e escolher como padrinhos pessoas abastadas ou de prestígio para tirar proveito disso.
Para realizar a terceira etapa desta sequência, os alunos deverão ouvir ou assistir ao videoclipe da canção “A dança dos compadres”, de Os Farrapos, disponível na internet, e pesquisar informações sobre o tipo de música que esse grupo cantava nas décadas de 1980 e 1990. 

Etapa 3 (1 aula)
Pergunte aos alunos qual é o tipo de música que o conjunto Os Farrapos canta e qual região do país eles acham que está representada nas canções (Rio Grande do Sul).
Se tiver os equipamentos necessários, passe em sala de aula o áudio ou o videoclipe de “A dança dos compadres” e faça para os alunos as perguntas a seguir:
– Quais são as personagens da canção? (A comadre Maria, seu compadre José, João Bento – o falecido marido da comadre – e a filha dela.)
– O que eles estão fazendo? (Eles estão em um baile ao qual a comadre Maria trouxe a filha para arranjar marido.)
– Com que meio identificamos a letra e a música? Por quê? (Podemos identificá-las com o meio rural do sul do país pelos instrumentos musicais, pelo estilo da música e pelas expressões na letra: “dancemo compadre José”, “ta louco de bom”, “ai meu garrão”.)
– Qual dos sentidos do termo “compadre” vistos na Etapa 1 é utilizado na canção? (O termo é usado para se referir aos padrinhos.)
– Por que a canção é chamada de “A dança dos compadres”? Quais referências à dança estão presentes na letra? (O compadre tira a comadre para dançar e ela aceita, pedindo para ir “bem devagarinho”; há a menção a diferentes ritmos: xote (ritmo musical parecido com a polca, muito difundido no Nordeste do Brasil e tocado com sanfonas), vaneira (ritmo sertanejo), rancheira (ritmo de origem argentina que passou para o Rio Grande do Sul), tango (baile típico da região do Rio da Prata), bugio (dança do Rio Grande do Sul inspirada nos movimentos dos macacos bugios) e vanerão (dança típica dos estados do Sul do Brasil).
– Como vocês imaginam a dança dos compadres em função do relato feito na letra? (O casal dança junto e devagar porque a comadre está com dor no pé. O compadre machuca a parte de trás do joelho – o garrão – com a própria bota. O compadre está empolgado, mas a comadre não, porque está de luto.)
Se houver um aparelho reprodutor de som na sala de aula, você poderá pedir aos alunos que formem duplas e representem a dança dos compadres.
Por fim, os alunos formarão duplas e escreverão sua opinião sobre a importância das figuras do compadre e da comadre nas famílias e na sociedade brasileira dos diferentes estados, as diferentes abordagens dessas figuras nas várias formas de expressão orais e escritas e, finalmente, o que eles esperam de seus padrinhos, caso os tenham, sempre dando suas razões. A seguir, as duplas vão andar pela sala de aula e apresentarão suas opiniões para as outras, apontando uns aos outros o que têm em comum e o que não.

Acompanhamento da aprendizagem
A avaliação deverá ser contínua, em todas as etapas do desenvolvimento da sequência. Podem ser avaliados o envolvimento e a participação dos alunos, a capacidade de trabalhar em grupo, a organização e a criatividade durante as atividades.
Durante o desenvolvimento das atividades, observe se cada aluno:
  • participou de todas as atividades propostas, sanando dúvidas e contribuindo com as discussões;
  • respeitou as opiniões dos colegas;
  • soube identificar os sentidos de “compadre” e “comadre” presentes nos contextos trabalhados em sala de aula;
  • reconheceu o comportamento condenável do personagem José no conto analisado;
  • identificou as referências à dança presentes na letra da canção;
  • expressou sua opinião e a fundamentou adequadamente na atividade final.
Além das observações anteriores, seguem algumas questões relativas às habilidades desenvolvidas nesta sequência didática.

1. Como são formadas as palavras “compadre” e “comadre”?
[Resposta esperada: Os elementos “padre” e “madre” estão precedidos pelos prefixos “co-“ e “com-“, que significam uma realização conjunta, simultânea ou colaborativa.]

2. Quais são os diferentes significados das palavras “compadre” e “comadre” na língua portuguesa?
[Resposta esperada: Referem-se ao padrinho ou à madrinha de uma criança levando em consideração o vínculo entre essa pessoa e o pai ou a mãe dessa criança. Também são utilizadas para mencionar ou se dirigir a um conhecido com o qual existe um vínculo de proximidade, sendo parente ou vizinho. O termo “comadre” também se refere à parteira, ou seja, àquela mulher que, não sendo médica, ajuda as outras na hora de dar à luz, e também à vasilha utilizada pelas pessoas acamadas para fazer suas necessidades.]

3. Em quais âmbitos de nossa cultura estão presentes as figuras do “compadre” e da “comadre”?
[Resposta esperada: Essas figuras estão presentes tanto na vida cotidiana dos alunos quanto em diferentes expressões literárias e artísticas de diferentes Estados do país, realizadas também em épocas diferentes.]

Após o trabalho com a sequência didática, apresente aos alunos a autoavaliação a seguir. Se preferir, reproduza as questões na lousa e peça aos alunos que as copiem e respondam.