27 de outubro de 2023

Conto fantástico 7º e 8º anos - Atividade de interpretação e produção de títulos


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Leia o conto fantástico abaixo e responda às questões.

Quadros em movimento

A mala voltara quase vazia, mas a mente, repleta. Visitara museus, bibliotecas e livrarias. O pequeno quadro, presente de um amigo, foi acomodado entre os inúmeros que pendiam assimetricamente da parede da sala.
Encontrar um espaço, ali, era quase impossível. Afastou-se para ver o resultado e teve a impressão de que algo se movera. Aproximou-se com medo de que fosse um inseto. Não viu nada. Os quadros mais antigos se alargaram e forçaram os mais recentes a se comprimirem. Nesse empurra-empurra, alguns se inclinaram. Ingrid percebeu um leve rumor e recolocou-os em seus lugares. As cinco mulheres de branco que se dirigiam às suas casinhas, no quadro de moldura negra, assustaram-se com o movimento e apressaram o passo.
A luz atravessou a janela e pousou sobre o quadro em que uma moça caminhava por uma rua ensolarada. Ela estancou, largou a cesta que mantinha encostada ao quadril e rodopiou sobre o calçamento irregular.
Ingrid pôs um CD de Chico Buarque e iniciou uns passos de dança. As pessoas do quadro em tons vermelho e negro, que observavam uma festa popular, voltaram-se e a aplaudiram com entusiasmo. Sem perceber o que se passava na parede de sua casa, Ingrid apanhou as ilustrações que trouxera do Museu d’Orsay e estendeu-se no sofá, abaixo do quadro em que um pintor fazia seu autorretrato. O pintor abandonou palhetas e tintas, debruçou-se sobre a moldura e passou a observar, junto com ela, as reproduções.
Um forte sopro de vento alçou as cortinas e avivou as figuras de todos os quadros. As três mulheres que conversavam, ao lado de grandes cestos cheios de conchas, despiram suas longas saias, retiraram os panos da cabeça e correram, numa nudez branca, em direção ao mar. Ao mesmo tempo, as pessoas do quadro abaixo, que caminhavam com tranquilidade ao lado do Sena, puseram-se a correr confusas em diferentes direções. Já não obedeciam aos limites impostos pelas molduras. Aprisionadas no tempo, não sabiam para onde ir ou o que fazer. Atônitas, descobriam um novo mundo.
Uma mulher, que parecia ter saído de uma revista de modas da década de cinquenta, falou num bom francês para um enorme galo que se mantinha parado: Por que você não se move? O galo mexeu a cabeça e respondeu em português: Estou nesta posição desde 1972, não consigo mexer as pernas.
De repente, formou-se um grande círculo e reclamações de toda ordem foram ouvidas em diferentes línguas, mas todos se entendiam: “Fui paralisada enquanto caminhava para casa”, “Estou há anos sem tomar banho”, “Não sei o que foi feito da minha família”, “Nem pudemos entrar em casa, depois da festa de Iemanjá”, “Quantos anos se passaram? Estou jovem e minha filha deve estar velha”, “Por que fomos aprisionados?”, “Eu nunca terminei meu autorretrato. Temos que fazer alguma coisa”.
Durante a confusão uma moldura caiu. Ingrid levantou-se atordoada. Estava mesmo precisando descansar, suas pernas pareciam não lhe pertencer. Apanhou o quadro e, ao colocá-lo de volta, parou perplexa: sua parede estava coberta de molduras, cujas telas não tinham qualquer vestígio de tinta.

BARBOSA, Lourdinha Leite. Quadros em movimento. Blog A arte de engolir palavras, 20 abr. 2009. Disponível em: http://lourdinhalb.blogspot.com/2009/04/quadros-em-movimento.html.

1. Qual é o nome do museu que Ingrid visitou em sua viagem à França?

2. Considerando esse trecho do texto "A mala voltara quase vazia, mas a mente, repleta.", qual seria o tipo de viagem que a personagem fez? 

3. O gosto de Ingrid pela arte é antigo ou surgiu nessa viagem? Comente. 

4. Apenas a arte estrangeira agradava a ela? Justifique.

5. Os quadros na parede da residência são fundamentais para o estabelecimento do conflito.
a) Qual é a situação inicial desse conto?
b) Qual é o primeiro indício de que algo inusitado está acontecendo?
c) Analise as várias ações dos personagens dos quadros. Que fatores levam esses personagens a começar a se mover?

6. Releia:

De repente, formou-se um grande círculo e reclamações de toda ordem foram ouvidas em diferentes línguas, mas todos se entendiam: “Fui paralisada enquanto caminhava para casa”, “Estou há anos sem tomar banho”, “Não sei o que foi feito da minha família”, “Nem pudemos entrar em casa, depois da festa de Iemanjá”, “Quantos anos se passaram? Estou jovem e minha filha deve estar velha”, “Por que fomos aprisionados?”, “Eu nunca terminei meu autorretrato. Temos que fazer alguma coisa”.

Como a maioria dos personagens estavam se sentindo, a partir deste trecho?

7. A narrativa é apresentada por um narrador em terceira pessoa. O que mudaria caso fosse Ingrid a narradora?

8. Releia o título do conto:

Quadros em movimento

A autora optou por um título que antecipa o motivo do conflito. Que título você criaria se desejasse um efeito de mistério?

Gabarito