21 de setembro de 2016

Interpretação do poema Mar portuguez


O poema transcrito a seguir, intitulado "Mar portuguez", faz parte da obra Mensagem, de Fernando Pessoa. Nele, o poeta focaliza o esforço empreendido pelos portugueses nas grandes navegações. Leia-o para responder às questões propostas. 

Mar portuguez 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lagrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão resaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 

Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu, 
Mas nelle é que espelhou o céu. 

PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990. p.82


a) É possível afirmar que o título do poema enfatiza a vocação marítima de Portugal? Por quê? 

b) Que efeito de sentido produz o verbo flexionado na primeira pessoa do plural "cruzarmos" no terceiro verso da primeira estrofe? 

c) Segundo o texto, quais foram os sofrimentos vividos pelos portugueses para que o mar fosse conquistado? 

d) Explique o sentido dos versos finais do texto: "Deus ao mar o perigo e o abysmo deu/Mas nelle é que espelhou o céu." 

e) Identifique as palavras usadas no poema que, por sua grafia, revelam que a aventura náutica portuguesa refere-se a um passado longínquo.

GABARITO

a) Sim. Porque o uso do adjetivo" portuguez" sublinha a ação imperialista do Estado português, que se sente dono, possuidor do mar.

b) Esse uso produz o efeito de inclusão. A forma verbal na primeira pessoa do plural ("cruzarmos") é empregada porque o eu lírico se inclui entre o povo português, que pagou um alto preço para que o mar fosse conquistado. Essa ideia de pertencimento (a Portugal) é reiterada no uso do pronome "nosso", também na primeira estrofe.

c) Para que o mar fosse conquistado pelos navegadores portugueses, mães choraram pela partida/ morte dos filhos, filhos rezaram pela partida/morte dos pais e noivas ficaram sem casar pela partida/ morte de seus namorados e noivos.

d) Os versos fazem o elogio do mar, espaço de grandes perigos e, também, de grande beleza (espelho do céu). É possível, ainda, extrair do fragmento a ideia de que a conquista do mar corresponde, de certo modo, à conquista do céu.

e) São as palavras cuja grafia está em desacordo com o sistema atual: "portuguez", "Iagrimas", "resararn", "abysmo", "nelle".