25 de setembro de 2023

Atividade sobre Modernismo para ensino médio - Poema Profundamente - Manuel Bandeira - Coletânea Libertinagem - Sinestesia e metonímia

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Manuel Bandeira: poeta do cotidiano

Que impacto a iminência da morte pode ter sobre a produção de um poeta? O pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968), descobrindo-se tuberculoso ainda na juventude, conseguiu driblar a morte e transformar a certeza de sua finitude precoce numa das poesias mais importantes da literatura brasileira. O poeta viveu mais de oitenta anos e, reelaborando os acontecimentos contrastantes que impactaram seu histórico afetivo, como desalento × esperança, finitude × perpetuação, inocência × malícia, felicidade × melancolia, exerceu com plenitude o ofício de escritor. Suas obras iniciais — A cinza das horas (1917), Carnaval (1919) e Ritmo dissoluto (1924) — dialogam de maneira direta com o Parnasianismo e o Simbolismo. É a partir de Libertinagem (1930) que Bandeira adere aos princípios modernistas. O poeta de Recife conseguiu como ninguém conciliar sua herança clássica, advinda da tradição literária, com a liberdade proposta pelos artistas de 22.
A extensa produção poética de Manuel Bandeira revela ao leitor suas múltiplas manifestações sobre as adversidades e os prazeres que a vida lhe proporcionou. Por meio de diferentes sujeitos líricos, o poeta transitou por temas que lhe foram muito caros, como a infância, as amizades, os amores, as paixões, a morte, a solidão.

O poema abaixo, do escritor Manuel Bandeira, expõe o universo da infância, tão presente na poesia deste poeta.

Profundamente

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

*

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

BANDEIRA, Manuel. Manuel Bandeira: 50 poemas escolhidos pelo autor. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 28-29. © do texto de Manuel Bandeira, do Condomínio dos Proprietários dos Direitos Intelectuais de Manuel Bandeira. (In: Estrela da vida inteira — Editora Nova Fronteira). Direitos cedidos por Solombra — Agência Literária (solombra@solombra.org).

1. Em relação ao tempo, esse poema é dividido em duas partes. Você concorda com essa afirmação? Comente e justifique com verbos do texto. 

2. Quais significados podemos atribuir aos advérbios ontem (primeiro verso da primeira estrofe) e hoje (primeiro verso da quinta estrofe) no poema?

3. Como já citado na questão 1, o poema é dividido em duas partes, das quais são separadas por um asterisco. É possível afirmar que há paralelismo entre elas? Justifique. 

4. Na parte 1 do texto há uma metonímia na primeira estrofe, a qual é construída por sinestesias. Identifique-as e comente sobre qual teria sido a intenção da utilização dessa figura de linguagem no poema. 

*sinestesia: cruzamento de sensações; associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão.

Gabarito