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Podem-se registrar diariamente experiências vividas ou registrá-las muito tempo depois de ocorridas. Há muitas razões que levam alguém a registrar as memórias de momentos marcantes. Para a autora deste texto, foi o prazer "[...] de recordar a minha longínqua infância [...] tão rica de experiências e emoções, de sustos e surpresas [...]".
Aos treze anos
O ano seguinte, 1932, foi um ano de grandes acontecimentos na minha vida de menina transplantada, e também na vida da gloriosa cidade de São Paulo. Completei treze anos, sem festa, que eu não quis, escarmentada que estava pelo fiasco do ano anterior. Mas em compensação ganhei uma bicicleta, velho sonho finalmente realizado: eu era a única criança a ter uma bicicleta em toda a Rua Jaguaribe! E pela Rua Jaguaribe eu me pavoneava, orgulhosa, até "sem mãos", porque sabia andar de bicicleta desde os cinco anos de idade, nos balneários do Báltico. A molecada da rua se roía de inveja, os garotos pediam para dar uma voltinha, e eu, magnânima, até deixava - com o que melhorou muito a minha situação política na rua.
Melhorara também a minha situação na Escola Americana: eu já conquistara o meu espaço, tanto perante os professores como entre os colegas, que não caçoavam mais do meu sotaque nem me discriminavam daquele jeito. Eu já tinha até algumas amigas quase "íntimas". Além disso, logo depois de completar treze anos, "fiquei mocinha", como se dizia naquele tempo. E, se isso me deixava um pouco atrapalhada, deixava-me também bastante gratificada com o meu novo status de não-mais-criança.
Meus interesses começaram a mudar, junto com as mudanças que se processavam no meu corpo. As conversas entre as meninas estavam ficando diferentes, assuntos novos entravam nas conversas que por sinal eu achava bastante maliciosas. Falávamos de filmes românticos, de namoro, e as coisas. E algumas meninas contavam piadas "picantes", que chegavam a escandalizar-me. [...]
Tatiana Belinky. Transplante de menina: da Rua dos Navios à Rua Jaguaribe. São Paulo, Moderna, 1995.
VOCABULÁRIO
escarmentada: punida, castigada, desiludida
pavoneava: do verbo pavonear, exibia-se com vaidade
magnânima: aquela que tem grandeza de alma, generosa
1. O texto refere-se a momentos vividos pela narradora, no início de sua adolescência, quando completou treze anos.
a) Quando e onde aconteceram os fatos narrados?
b) Que modificações ocorreram na vida da narradora nessa época quanto à sua situação no bairro e na escola?
2. No texto, a narradora refere-se às conversas que passou a ter com suas amigas. Que semelhanças podem ser estabelecidas entre o adolescente de 1932 e o adolescente de hoje?
3. Que lição de vida é possível adquirir por meio das experiências vividas por ela?
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